Caso Naja: indiciados montaram “lavagem de animais” no Ibama, diz delegado
Em coletiva de imprensa na manhã desta quinta, policial afirmou que animais entravam ilegais no Ibama e saíam com documentação
atualizado
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O delegado da 14ª Delegacia de Polícia (Gama), William Ricardo, responsável pela elucidação das investigações que apuram o suposto tráfico de animais exóticos na capital do país, afirmou em coletiva de imprensa sobre o caso, na manhã desta quinta-feira (13/8), que os indiciados no inquérito montaram uma verdadeira “lavagem de animais” no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Ainda segundo informações do delegado, os animais entravam no órgão ilegalmente e saíam com a documentação necessária.
A Polícia Civil do DF (PCDF), concluiu o inquérito e indiciou 10 pessoas por crimes ambientais. De acordo com as investigações, um deles é o estudante de veterinária Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, 22 anos, picado pela cobra Naja kaouthia criada clandestinamente em sua casa, no Guará.
Ele foi indiciado por tráfico de animais silvestres, maus-tratos a animais e associação criminosa.
A mãe de Pedro, Rose Meire dos Santos Lehmkuhl, e o padrasto dele, o coronel da PMDF Eduardo Condi, também foram indiciados, assim como o major Joaquim Elias Costa Paulino, comandante do Batalhão Ambiental da Polícia Militar do DF.
“Foi elucidado um esquema de tráfico de animais a partir desse rapaz, onde se comprovou que ele trafica animais. Ele traz cobras de outros estados. Temos registros de viagens, vendas, diálogos a partir de aplicativos de conversa. Compra, venda, valores. Pessoas que compareceram à delegacia e que confirmaram o valor, modo de entrega”, afirmou o delegado Willian Ricardo, da 14ª DP.
Ele é suspeito de fazer parte de uma organização criminosa que trazia animais exóticos ilegalmente para o país. O jovem chegou a ser preso, mas solto após seus advogados conseguirem um habeas corpus.
Segundo a PCDF, a partir dos elementos colhidos, foi possível verificar, pela grande quantidade de animais apreendidos, que “Pedro Henrique é traficante de animais silvestres e não mero colecionador”.
Preços
Pedro entrou no mundo do tráfico de animais em 2017, segundo os investigadores. Passou a reproduzir as serpentes e vender os filhotes. Cada filhote custava cerca de R$ 500. “Deixamos claro que não se trata de um colecionador. Nessa investigação, tratamos de separar os criadores de quem compra, vende”, esclarece o delegado.
A afirmação é corroborada por mensagens de texto trocadas entre o jovem e a mãe dele. Em uma delas, o universitário passava pela cidade de Ibotirama (BA) e trazia consigo uma cobra. Ele também mantinha contatos de outros traficantes de animais.
“Para alimentar essas cobras, são necessários ratos, que são oferecidos vivos ou mortos. Mortos, eles precisam estar congelados. Quem tem esses animais em casa geralmente mantém no congelador e depois descongela em banho-maria. Na residência desse rapaz tinha uma série de camundongos congelados no freezer”, explica Willian Ricardo.
A rede
Pedro passou a ter mais de 20 serpentes. O local em que ele criava, no Guará, ficou pequeno e os amigos passaram a ajudar. A mãe era responsável por alimentar as cobras e cuidar: há fotos e vídeos em que ela alimenta os animais e cuida dos camundongos.
“O material colhido é extenso. Ela (a mãe de Pedro) forneceu o cativeiro e ajudou nos cuidados dessas cobras”, diz o delegado. A mulher foi indiciada por tráfico de animais, associação criminosa e maus-tratos. Os envolvidos foram indiciados 22 vezes, uma vez para cada animal.
Em relação ao padrasto, o coronel da PMDF Eduardo Condi, ele foi indiciado pelos mesmos crimes do rapaz e da mãe. “Permitiu que a residência virasse cativeiro”, nas palavras de Willian Ricardo.
O delegado afirma que todos tinham ciência do crime e fizeram registros, vídeos e fotos no WhatsApp. A atividade era liderada é capitaneada pelo rapaz com o suporte da mãe e do padrasto. A criação de camundongos ficava na área de serviço
Tem vídeos e fotos do Pedro e dos amigos instigando a naja. “A cobra transitou por alguns locais de Brasília. Em uma das representações eu avisei ao judiciário que uma tragédia era questão de dias”, disse o delegado
Nessa quarta-feira (12/8), uma pessoa que comprou um filhote foi ouvida na delegacia.
“Dentro do curso de veterinária surgiu uma associação criminosa desses rapazes. A polícia encontrou uma rifa de um “gecko leopardo” entre os estudantes.”
A suspeita é de que Pedro tenha sido trazido a Naja kaouthia que criava como animal de estimação para o Distrito Federal a partir de uma licença irregular emitida por uma servidora do próprio Ibama, que já foi afastada do cargo.
Na quarta-feira (12/8) a Naja e uma Víbora-verde que foram apreendidas no DF e estavam no Zoológico de Brasília chegaram ao Instituto Butantan, em São Paulo.