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Casa das Travestis pede apoio para pagar exames médicos de assistidas no DF

Ginecologista realizou uma visita à casa no dia 20 de julho e solicitou exames de avaliação. Espaço não tem como pagar diagnóstico

atualizado

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Agência Brasil
SETEMBRO AMERELO: SAÚDE MENTAL LGBT
1 de 1 SETEMBRO AMERELO: SAÚDE MENTAL LGBT - Foto: Agência Brasil

A Casa das Travestis, que apoia a comunidade LGBTQIA+, continua na busca por parceria com profissionais da saúde. A organizadora Ísis Gabriela Silva, 25 anos, explica que o espaço precisa de ajuda financeira para custear os exames médicos necessários para as auxiliadas pelo lar.

Uma médica ginecologista realizou uma visita à casa em 20 de julho. A profissional de saúde prestou atendimento gratuito para as oito mulheres que estavam no local, solicitando exames e avaliando o quadro delas de maneira geral. No entanto, as jovens precisam de apoio para efetuar o pagamento dos diagnósticos.

“Já temos mais atendimentos marcados para as próximas semanas e seria muito importante o apoio”, diz Ísis. O projeto é pessoal, não se trata de uma organização não governamental (ONG). Ela ressalta que ajuda outras pessoas com doações de cestas e com o guarda-roupa trans, não apenas com o acolhimento de moradia.

O espaço fica no Guará. A jovem estuda comunicação social na Universidade de Brasília (UnB) e usa o dinheiro do estágio para manter o projeto. “Uso meu salário do estágio, que é de R$ 1,2 mil, para manter a casa. Mas fica muito pesado, porque só o aluguel é R$ 1.150”, explica.

Como ajudar

Contribuições podem ser feitas por PIX, para o número (61) 99973-3356, sobrenome Silva Souza. Depois de realizada a transferência, envie o comprovante para Isis no telefone (61) 9693-1402. Ela também agradece a participação de todos que colaboraram na última rifa realizada pela casa.

Família tradicional

Natural do DF, Isis é a mais velha dos nove irmãos nascidos de uma família tradicional e religiosa. A comunicóloga em formação cresceu no Riacho Fundo 2, onde morou com a família até completar 18 anos.

“Tive responsabilidades desde cedo. Nós não tínhamos muitas condições. Minha mãe é dona de casa e não estudou, enquanto meu pai saía para trabalhar. Aos 12, eu cuidava dos meus irmãos mais novos. De certa maneira, fui mãe dos meus irmãos também”, comenta.

As dificuldades na vida da jovem começaram ainda na adolescência. Frequentadora assídua da igreja, Isis conheceu a discriminação. “Era um sofrimento muito grande. Eu escutava no meio da pregação que aquilo que eu sou é a forma mais explícita do pecado. Me sentia condenada. Como eu iria conseguir viver nesse mundo? Comecei a questionar tudo”, diz.

Aos 18 anos, após uma discussão em casa, o pai de Isis resolveu mandá-la para um seminário católico voltado à formação de padres. “Eu achava que o problema realmente era eu. Queria buscar uma cura. Ganhei uma bolsa e fui morar na Espanha para concluir os estudos de filosofia e teologia. Sou muita grata pela oportunidade, pois não teria condições de conseguir se não fosse dessa maneira. No entanto, lá eu decidi que não conseguia mais fingir ser alguém que eu não queria. Arrumei as malas e voltei para o Brasil.”

Isis começou a trabalhar em uma banca de lanches próximo a uma faculdade na Asa Sul, recebia R$ 600 e estudava para o vestibular da UnB. O fato de ser preta piorava as coisas. À época, o empregador dela dizia que a jovem nunca iria conseguir passar para a instituição de ensino superior pública federal.

“Passei em segundo lugar no vestibular do meio do ano de 2018. Meu pai não aceitou bem e ouvi que comunicação e marketing era curso de ‘viado’. Saí da igreja, busquei um emprego melhor e dividia a rotina entre o trabalho e os estudos. Sofri muita humilhação. Eu passei fome. Chegava em casa e não tinha o que comer. Mesmo quando eu deixava a metade do meu salário para os meus pais. Nesse momento, me assumi”, emociona-se Isis ao contar sobre sua vida.

Logo depois, foi expulsa de casa. Em meio às lembranças, encontrando o que achava pertinente relatar sobre a sua história, Isis diz que uma das memórias mais fortes é a de quando foi morar no Centro Acadêmico de Comunicação (Cacom-UnB), em 2019.

“As pessoas riam de mim. Eu esperava todos irem embora e dormia no sofá. Depois, consegui passar em um processo seletivo no Hospital da Criança de Brasília. Eu estava bem afeminada, com os cabelos azuis. Com 45 dias, a minha gestora disse que eu era exótica demais para integrar a equipe, e me dispensaram.”

Violência doméstica

No ano passado, Isis conheceu uma pessoa e os dois decidiram morar juntos. Eles também inauguraram uma agência de comunicação.

“No começo, era tudo muito bom. Até que eu comecei a transicionar, tomar hormônio e assumir finalmente a minha identidade. A nossa relação foi se deteriorando. Chegou ao ponto de ele me bater, me trair e dizer que o sentimento dele só existia enquanto eu era uma pessoa cisgênero. Foi tudo muito tóxico e pesado. Ele chegou a me acertar com um golpe de faca e separamos”, desabafa.

Em fevereiro deste ano Isis estava desabrigada quando conheceu a travesti que era a antiga dona do apartamento onde ela vive hoje. “Ela me acolheu e isso foi muito importante. Estava me sentindo um lixo, tinha perdido a minha casa e a minha agência. Ela precisou se mudar para São Paulo e conseguimos manter o apartamento porque estava muito difícil encontrar outro lugar que aceitasse. Enfrentei muita transfobia. Só me pediu para que abrigasse a Girassol, com quem moro atualmente.”

Agora, o sonho de Isis é levar o projeto para uma casa maior. “Esse é o meu sonho. Poder acolher pessoas com mais dignidade e continuar esse trabalho. Com todas as meninas com empregos formais. Eu não quero ter que contar sempre com a ajuda dos outros. Se não olhassem nosso gênero e todas nós tivéssemos oportunidade de trabalho, não teríamos que passar por dificuldades. Essa é a minha luta”, garante.

“Hoje, reestruturamos a agência de comunicação, começamos a Las Monas, e usamos uma onça como símbolo. Uma analogia com as travestis. São animais noturnos, caçadas e sempre solitárias. Essa é a nossa realidade e nos apropriamos disso”, acrescentou.

A comunicóloga diz que o Brasil aparece, pelo 13° ano consecutivo, como líder em assassinato de pessoas trans. A estimativa de vida é de 35 anos. “Não é o que a gente quer, se ver num mundo de vulnerabilidade. Julgam muito as pessoas trans. O importante é não desistir. Eu não tenho vergonha de dar a minha cara a tapa. Vou sempre correr atrás e procurar meios de lutar pelas nossas causas. É relevante ter sensibilidade para agir, ajudar e se colocar à disposição. Sem julgar porque não sabemos a história do outro”, afirma.

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