metropoles.com

Cartel aumentava preço do álcool para forçar consumidor a abastecer com gasolina

Estratégia era usada por donos de postos para elevar os lucros, já que ganhos com o combustível eram maiores

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Rafaela Felicciano/Metrópoles
Rafaela Felicciano/Metrópoles
1 de 1 Rafaela Felicciano/Metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Os diálogos entre donos de postos e distribuidoras de combustíveis no Distrito Federal não deixam dúvidas sobre o esquema de combinação de preços que existia há mais de 20 anos na capital do país, lesando os consumidores em até R$ 1 bilhão. As transcrições das gravações, que servem como prova no inquérito policial que investiga o cartel, apontam que uma das principais estratégias do grupo era aumentar o preço do álcool para torná-lo inviável ao consumidor, induzindo a preferência pela gasolina, onde a margem de lucro era maior.

Com essa medida, o preço do álcool sempre ficava 70% acima do da gasolina. De acordo com a PF, o sindicato dos postos perseguia os empresários que não participavam do esquema. Com isso, o cartel forçava os consumidores a adquirir apenas gasolina, o que facilitava o controle de preços e evitava a entrada de etanol a preços competitivos no mercado.

“De forma simplificada, a cada vez que um consumidor enchia o tanque de 50 litros – já que cada litro da gasolina era sobretaxada em aproximadamente 20% – o prejuízo médio era de R$ 35″, explicou a Polícia Federal. Ainda de acordo com a PF, as combinações não se resumiam ao Distrito Federal. Postos do Entorno também faziam parte do esquema para lesar os consumidores.

 

reprodução
Trecho de conversa entre Ulhôa, presidente do sindicato, e Matias, da rede Cascol*Reprodução**

 

documentoposto1
Trecho da conversa entre Marcello Dorneles e Braz de Moura, ambos da rede JB, mostra que cartel combinava preços inclusive no Entorno*Reprodução**

 

De acordo com o inquérito, a Cascol, apresentada como a maior rede de postos do DF, “comanda o mercado de combustíveis, sendo seguida pela Gasolline”. O documento diz ainda que as duas redes “ditam o ritmo do mercado, trocando informações estratégicas, como preço de aquisição da distribuidora e preços que irão praticar, no que são seguidas pelas redes menores”.

Distribuidoras
O esquema envolvia, também, as distribuidoras, que avisavam com antecedência os postos sobre os reajustes de preços. Só a BR Distribuidora fornecia produto com exclusividade para mais da metade dos postos de gasolina do DF. Juntas, BR, Ipiranga e Shell dominam 90% do mercado no DF.

Para a juíza Ana Cláudia de Morais Mendes, da 1ª Vara Criminal de Brasília, as provas são contundentes, conforme mostra na decisão que autorizou a prisão dos acusados: “O que se vê nos autos, até o momento, são indicativos suficientes de práticas delituosas, que afetam diretamente a coletividade de consumidores, bem como a atividade econômica desenvolvida no DF. A atuação estatal se mostra imperiosa para restaurar o equilíbrio rompido no meio social.”

Operação
Na manhã de terça-feira (24/11), o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPDFT, a Polícia Federal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) desarticularam o cartel de combustíveis no Distrito Federal e no Entorno. Segundo as investigações, o valor da gasolina era elevado em 20% para os consumidores. Em uma das interceptações, o empresário Antônio Matias, da rede Cascol, não deixou dúvidas sobre como funcionava o tabelamento:  “Esse preço é para todos os revendedores de Brasília, tá?”, disse. “Do Zé Mané, do Zé Mané até a Gasol”, acrescentou.

Na operação, batizada de Dubai, foram presos José Carlos Ulhoa Fonseca, presidente do Sindicombustíveis DF; Antônio José Matias de Sousa, um dos sócios da Cascol; Cláudio José Simm, um dos sócios da Gasolline; Marcelo Dornelles Cordeiro, da rede JB; José Miguel Simas Oliveira Gomes, funcionário da Cascol; Adão do Nascimento Pereira, gerente de vendas da BR Distribuidora no DF, preso no Rio de Janeiro; e  André Rodrigues Toledo, gerente de vendas da Ipiranga.

Também foram cumpridos 44 mandados de busca e apreensão e 24 de condução coercitiva.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?