Carnaval da representatividade: passista sem braço celebra volta de desfile no DF
Thaynnara Ramos, 27, é da escola de samba ARUC desde que tinha cinco anos. É a primeira vez que se apresentará oficialmente como passista
atualizado
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Sorriso no rosto, brilho na roupa e samba no pé. É assim que Thaynnara Ramos (foto em destaque), 27 anos, estará no desfile das escolas de samba do Distrito Federal. A passista da Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc), berço do samba na capital federal, é deficiente e faz parte do corpo de dança da escola desde os cinco anos. Agora, a moradora do Cruzeiro comemora a volta para a avenida.
“Estou sem acreditar até agora. Depois de oito anos sem desfile, eu vou poder sentir a avenida novamente, escutar a sirene tocar e o hino da minha escola que eu amo tanto. Estou com uma emoção tão grande que parece que vou explodir de felicidade”, comenta Thaynnara.
A mulher começou na ala das crianças, em 2000, e depois tornou-se passista mirim. Atualmente, a escola é a maior campeã do carnaval brasiliense, Patrimônio Cultural Imaterial do Distrito Federal e reconhecida em todo o Brasil.
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Para Thaynnara, o carnaval é o momento de poder lutar por mais representatividade. A passista perdeu o braço direito devido a um câncer quando tinha 10 anos, mas nunca deixou-se abater pela condição. “Quero mostrar que, apesar de deficiente, eu não preciso deixar de ser passista. Não preciso abandonar meus sonhos”, disse.
Veja Thaynnara dançando:
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A escola ARUC se apresentará no aniversário de Brasília, em abril, com o enredo “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Será a história da associação durante os anos sem desfile. O tema representa, também, a narrativa de superação que Thaynnara quer contar com sua dança.
“É sobre levantar, sacodir a poeira e dar a volta por cima mesmo. A gente precisa fazer isso várias vezes na nossa vida, eu já fiz algumas e quero mostrar que é sempre possível recomeçar. Vai ser lindo”, comemora a passista.
Sem o desfile oficial desde 2014, a escola se agarrou em eventos para manter-se ativa. Thaynnara e a família nunca abandonaram a associação. A mãe da passista, Simone Bezerra, 52, é a diretora de carnaval da escola e comemora que passou o amor pelo samba “de mãe para filho”.
“Meu primeiro desfile também foi na ala das crianças em 1980, depois disso nunca mais saí de lá. É lindo porque o amor pela Aruc passa de mãe para filho. Toda a minha família é da escola e vamos ficar até o fim”, comenta Simone.
A escola Aruc estará no desfile de rua no domingo (19/2), a partir das 16h no Cruzeiro Velho. Após a apresentação, a escola se apresentará oficialmente em abril, no desfile das escolas de samba do DF.