Cardápio fake? Escolas não têm alimentos da agricultura familiar no DF
Segundo o Conselho de Alimentação Escola, gêneros devem estar presentes regularmente nos pratos de merenda dos estudantes da rede pública
atualizado
Compartilhar notícia
Durante fiscalização ocorrida entre segunda-feira (11/9) e sexta-feira (15/9), o conselho flagrou a falta de diversos alimentos na Escola Classe 2 da Estrutural. Os itens estavam presentes no cardápio do colégio, mas distantes dos pratos.
“O governo apresenta um cardápio com diversos gêneros da agricultura familiar para preparação da merenda, mas não entrega nas escolas”, alertou Samuel Fernandes, diretor do Sinpro e membro do CAE.
“Não tinha no depósito, mas constava no cardápio gêneros como inhame, beterraba, hortelã, tomate, pimentão, couve-flor, morango, vagem, espinafre, brócolis, repolho roxo e abóbora”, contou.
Fernandes destacou que os 712 alunos da EC 2 da Estrutural são de uma comunidade carente. As turmas recebem duas refeições por dia, e os alimentos da agricultura familiar são indispensáveis para reforçar os pratos.
Cardápio fictício
Segundo o educador, a população está sendo enganada. Para quem apenas lê o menu escolar, a impressão é de que são ofertados alimentos de qualidade. “O que não está acontecendo, pois o cardápio é fictício”, criticou.
Para o CAE, a falta de legumes e verduras prejudica seriamente a alimentação equilibrada e adequada dos estudantes. No caso de famílias em situação de vulnerabilidade, a merenda é a principal refeição de muitos adolescentes e crianças.
De acordo com o CAE, os produtos eram fornecidos pela agricultura familiar, seguindo as regras do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Pelas normas do fundo, o GDF é obrigado a destinar 30% dos recursos repassados da União para a compra de alimentos da agricultura familiar. “Por que esses alimentos não estão chegando às escolas?”, questionou Fernandes
Contrato vencido
Segundo o presidente da Central Unium Brasília, entidade que representa cooperativas da agricultura familiar do DF, Ivan Engler, o setor oferta 30 alimentos para as escolas do DF a partir de chamamentos públicos anuais.
“O que ocorreu neste ano? Por muitas trocas nas diretorias da Secretaria de Educação e má-gestão, não fizeram a tempo hábil um novo edital. Nosso contrato venceu dia 28 de agosto”, revelou.
A última entrega foi dia 21 de agosto. O novo edital saiu após o fim do contrato. As cooperativas apresentaram propostas, e a seleção ainda está em andamento. Enquanto isso, as cooperativas suspenderam o envio de itens.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Educação e com o GDF sobre a situação. A pasta negou a falta de alimentos da agricultura familiar na rede pública.
Leia a nota na íntegra:
“A Secretaria de Educação informa que não há falta de alimentos nas escolas públicas do DF. A SEEDF ressalta, ainda, que os produtos entregues pela empresa contratada foram devidamente distribuídos às unidades de ensino, tais como abacaxi, alho, banana, batata-inglesa, cebola, maçã, mamão, melancia e melão.
Assim, esta SEEDF reforça que todos os gêneros que foram distribuídos são do mesmo grupo alimentar, mantendo o padrão de qualidade e valor nutricional dos cardápios da alimentação escolar. Ademais, cumpre ressaltar que os cardápios divulgados no site SEEDF podem sofrer alterações sem que gere qualquer prejuízo alimentar.
Essa situação ocorreu para que não houvesse qualquer prejuízo nutricional para o corpo discente, tendo sido necessária a reabertura de prazo para envio de propostas dos interessados, tendo em visto que, durante os trabalhos da chamada pública da agricultura familiar, a oferta de vários alimentos por parte das associações e cooperativas não atendeu o quantitativo solicitado por essa Pasta.
Essa situação não afeta o cumprimento da regra estabelecida pelo FNDE na Resolução nº 06/2020, uma vez que ainda há tempo hábil para cumprir tal meta”.