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Caras de pau. Donos de postos de combustíveis do DF dizem que lucram pouco e que a culpa pelo preço é do governo

Em informativo distribuído nos estabelecimentos, sindicato que representa empresas afirma que a margem de lucro do setor é de R$ 0,09. Consumidores ficam indignados

atualizado

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Leonardo Arruda/Metrópoles
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1 de 1 Leonardo Arruda/Metrópoles - Foto: Leonardo Arruda/Metrópoles

Desde que o cartel da venda de gasolina e álcool pelos postos do Distrito Federal e Entorno foi exposto pela Operação Dubai, deflagrada pela Polícia Federal em novembro do ano passado, o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes optou pelo silêncio. Passado o susto, veio a primeira reação: a entidade começou a distribuir um comunicado afirmando que “a margem de lucro do setor é uma das menores da cadeia produtiva” e que a culpa pelo preço na bomba é dos impostos cobrados pelo GDF e pela União. O tiro saiu pela culatra, já que a indignação tomou conta dos consumidores.

Empresários do setor e o presidente do Sindicombustíveis, José Carlos Ulhoa Fonseca, foram presos acusados de combinar preços e ameaçar quem não “rezava pela cartilha”. Agora, num tablóide de quatro páginas, tentam explicar que o lucro médio do setor é de apenas R$ 0,09. A afirmação, no entanto, não condiz com um relatório divulgado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) este ano.

O documento mostra que apesar de os empresários pagarem um dos menores preços pelo litro da gasolina, os preços no DF ocupam a terceira posição quando o assunto é repassar os custos ao consumidor.

O levantamento da ANP revelou que no DF, o lucro dos empresários é de R$ 0,65, cerca de 64% a mais do que em Goiás. Isso porque os dados foram elaborados quando o litro da gasolina estava em R$ 3,76 nos postos da capital. Atualmente, está em R$ 3,97.

Reprodução
Tablóide distribuído pelo sindicato dos postos de combustíveis*Reprodução**

 

No material entregue aos consumidores, intitulado “A verdade sobre o preço dos combustíveis”, a entidade diz que “Impostos da União e do GDF deixam gasolina, diesel e álcool mais caros”. Com o desenho de uma bomba de abastecimento,  informa que dos R$ 3,97 cobrados no litro da gasolina, R$ 1,06 vai para o ICMS, R$ 0,36 para impostos federais, R$ 1,69 para refinarias e produção, R$ 0,23 para as distribuidoras e R$ 0,54 para despesas operacionais. Com isso, sobraria apenas R$ 0,09 de lucro médio.
Leonardo Arruda/Metrópoles

Indignação
A justificativa não convenceu os consumidores. Chaveiro e com serviço de atendimento na casa dos clientes, Mário Sérgio de Souza Alves (foto), 42 anos, viu a despesa com combustíveis passar de R$ 400 para R$ 595 por mês, desde o fim do ano passado. “Essas empresas e o governo tratam o brasileiro como palhaço. Tínhamos condições para ter combustível mais barato, mas estamos pagando o preço da corrupção”, reclamou.

Para ele, o brasileiro precisa agir. “É preciso ir para a rua, reclamar e não deixar que a situação piore ainda mais”, completou o morador de Vicente Pires.

A estudante Carolina Rigon, 21 anos, também reclama dos aumentos recorrentes. Moradora do Lago Sul, ela estuda e faz atividades na Asa Norte. Há dois meses, gastava R$ 15 por dia para abastecer. Agora, são R$ 30.

Não acredito que o lucro dos empresários seja só o que eles estão falando. Como que em outros estados o litro da gasolina é mais barato? Não podemos deixar ficar assim.

Carolina Rigon, estudante

Taxista, Marcos Machado, 38 anos, garante que a despesa dele aumentou em 20% só com combustíveis. São R$ 2 mil por mês deixados nos postos. “Dos oito anos que trabalho como taxista, só vi aumentos. Sei que as empresas pagam impostos, mas não acredito que seja tanto assim. Nem que ficam só com isso de lucro”, disse.

Leonardo Arruda/Metrópoles
Marcos Machado gasta cerca de R$ 2 mil com combustíveis por mês

 

O ganho dos empresários é tão exorbitante no DF que o Ministério Público do Distrito Federal se prepara para entrar com uma ação pedindo o tabelamento da margem de lucros do setor. Segundo o MP, informações preliminares das investigações da Operação Dubai, que corre em sigilo, indicam que a margem de lucro chega a 20% no DF.

Cartel
Em 24 de novembro passado, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPDFT, a Polícia Federal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deflagraram a Operação Dubai. Donos e funcionários das principais redes locais, como Cascol, BR Distribuidora, Ipiranga e Gasolline foram levados para a Superintendência da PF.

Segundo as investigações, o valor da gasolina era elevado em 20% para os consumidores. Além disso, o preço do álcool era aumentado para inviabilizar o consumo desse combustível nos postos da capital federal.

Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

Segundo a PF, o Sindcombustíveis também estava envolvido no esquema. A entidade perseguia os empresários que decidiam deixar o cartel. Mandados de prisões preventivas, apreensão de documentos e condução coercitivas foram cumpridos no DF, no Entorno e no Rio de Janeiro.

Ainda de acordo com os investigadores, o prejuízo que apenas uma das redes causou para os brasilienses chegou a R$ 1 bilhão por ano. Empresários poderosos que atuam no ramo, como o sócio da Rede Cascol, Antônio Mathias, e o presidente do sindicato, José Carlos Ulhôa, foram presos e permaneceram encarcerados por 10 dias.

O Metrópoles procurou o Sindicombustíveis para falar sobre o assunto, mas a entidade não havia retornado até esta publicação.

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