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Caô do táxi pré-pago no Aeroporto de Brasília dói no bolso de turistas

Opção de pagamento antecipado custa mais caro do que rodar pelo taxímetro e pode sair o dobro do que corridas acionadas por apps de celular

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Igo Estrela/Metrópoles
táxi aeroporto de Brasília
1 de 1 táxi aeroporto de Brasília - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Na busca para sobreviver à concorrência dos serviços de transporte por aplicativo, taxistas do Aeroporto Internacional de Brasília apostam em uma nova forma de angariar clientes: assim que passageiros saem do desembarque doméstico, são abordados por funcionárias de duas empresas, que oferecem carros executivos, a Safer Black, e comuns, a Vou de Táxi, ambas com corridas a preço fixo e pré-pagas.

No entanto, o negócio, alardeado como “diferenciado” e “seguro”, é bom mesmo para os donos das empresas. Os próprios motoristas têm que pagar uma taxa para as companhias, que alugaram o espaço no aeroporto. Já brasilienses e turistas que escolhem essa modalidade pagam muito mais caro em relação ao valor calculado pelo taxímetro. Diante da opção de acionar apps, como Uber, Cabify e 99, o trajeto dos táxis executivos pode custar mais que o dobro.

Metrópoles esteve no aeroporto na quinta (21/2) e na sexta-feira (22) e fez viagens para dois destinos. No primeiro, do terminal até o Conjunto 7 da QL 12 do Lago Sul, a viagem custaria R$ 53 no serviço executivo, da Safer Black, e R$ 48 no comum, da Vou de Táxi, ambos com valor previamente definido.

A reportagem, no entanto, pediu para fazer o trajeto com o taxímetro ligado – opção indisponível na modalidade executiva. Na bandeira 1, o percurso saiu a R$ 40. Ou seja, se a opção fosse pagar antecipadamente o preço ofertado, a viagem em carro executivo sairia 32,50% mais cara. No veículo comum, a diferença seria de 20%.

A discrepância é ainda mais evidente em relação à tarifa cobrada por aplicativos. Na mesma hora em que a reportagem fez a corrida entre o aeroporto e a QL 12, o mesmo deslocamento sairia a R$ 20,90 no app 99 e por R$ 26,40 no Uber X. Na versão black do Uber, com carros de luxo, ficava em R$ 45,01.

No trajeto do aeroporto até o Hotel Nacional, no Setor Hoteleiro Sul (SHS), também é mais econômica a opção do taxímetro: o deslocamento custou R$ 47, contra R$ 53 cobrados no serviço pré-pago. Se o passageiro optasse pelo 99 ou Uber X, as tarifas seriam, respectivamente, R$ 31,30 e R$ 34,20.

Reclamação
Segundo taxistas com os quais o Metrópoles conversou, desde que as duas empresas que oferecem o serviço pré-pago chegaram ao Aeroporto de Brasília – a Safer Black em 2016, a Vou de Táxi em 2018 –, os profissionais foram praticamente forçados a aderir ao modelo. “Não tivemos muito o que fazer, era ‘aceita’ ou ‘aceita’. Quem não quer entrar pelo aplicativo pré-pago fica na parte externa, pegando sol e chuva. Desse jeito, ninguém consegue passageiro. Então, o melhor foi mesmo aceitar”, disse um deles.

De acordo com esse condutor, o dinheiro cai na conta três dias após a respectiva corrida, já descontados os 15% da taxa de administração. Ele e outros profissionais ouvidos pela reportagem contaram que preferem rodar com o taxímetro ligado em vez do serviço pré-pago.

O que dizem os passageiros
O perfil do público que usa os táxis executivos e convencionais difere daqueles que acionam aplicativos por meio de celular. Em geral, as modalidades mais caras encontram passageiros que costumam ter pouca familiaridade com ferramentas tecnológicas.

É o caso de Antônio Carlos Cruz, 71 anos. O aposentado desembarcou em Brasília nessa quinta-feira (21), vindo de Florianópolis. Ele não tem intimidade com as novas tecnologias e, sempre que viaja, opta pelo táxi. “Eu não sei pedir carro pelo aplicativo, prefiro chegar no primeiro táxi que estiver disponível e embarcar. Se já puder pagar antes, eu prefiro”, diz.

A dona de casa Telma Lins Teles, 51 anos, também prefere embarcar em táxis quando precisa de transporte em outra cidade. Avessa a fornecer dados pessoais e de cartões de crédito na internet, Telma anda sempre com dinheiro na carteira para as despesas do dia a dia. “Eu já tive o cartão clonado duas vezes. Depois disso, fiquei traumatizada em oferecer informações do cartão de crédito na internet. Agora, prefiro pagar à vista, no dinheiro.”

A estudante Alana Rocha, 30 anos, trocou o táxi pelo transporte de aplicativo quando o Uber começou a operar em Brasília. Hoje, além do Uber, ela também utiliza os apps concorrentes, como 99 e Cabify. “Já uso faz anos, porque o custo-benefício é muito melhor. Eu consigo fazer muito mais viagens por um preço bem menor, algo que eu não faria se usasse apenas o táxi, porque é bem mais caro.”

Sindicalista defende modelo
O presidente do Sindicato dos Permissionários e Motoristas de Táxi do DF (Sinpetaxi), Sued Sílvio Souza, defende o que chama de “modernização do serviço de táxi”. Para ele, as despesas envolvidas no custeio da plataforma e aluguel do espaço justificam o valor acima do registrado nos taxímetros para os mesmos trajetos.

Aquele espaço é alugado da Inframerica a R$ 20 mil por mês, e nós precisamos nos manter ali porque, se não quisermos, já está cheio de propostas de aplicativos para ocupar o local. Oferecemos água, cafezinho, tem o custo da plataforma, dos funcionários e das promotoras de vendas. Tudo precisa ser pago em dia e, por isso, é cobrado um percentual de 15% das corridas

Sued Sílvio Souza, presidente do Sinpetaxi

Para o sindicalista, a opção pré-paga oferece mais segurança ao passageiro, pois ele sabe, de antemão, quanto custará a viagem. “Se for bandeira 2 e tiver engarrafamento, a opção pré-paga sai mais barata até mesmo que os aplicativos, que, quando entram em tarifa dinâmica, custam bem mais caro do que o táxi. Sei que o atrativo do transporte por aplicativo é o preço, e nós ainda não conseguimos igualar, mas estamos tentando modernizar o serviço para continuarmos existindo”, acrescenta.

Transporte irregular
Além da concorrência com os serviços de app, que chegam a custar menos do que a metade de uma corrida de táxi, uma prática ilegal tem se multiplicado no terminal e prejudicado taxistas.

Motoristas que se dizem de aplicativo abordam passageiros e estipulam valores fechados superiores ao que seria cobrado pelo serviço solicitado via app. “Faço por R$ 40, saindo agora, você não precisa chamar e esperar chegar”, disse um deles ao abordar a equipe de reportagem na tarde de quinta-feira (21/2), na plataforma superior do aeroporto. O veículo desse condutor não possuía o certificado identificador de carro de transporte particular.

Igo Estrela/Metrópoles
O combate ao transporte pirata no aeroporto é alvo de campanha da administradora do terminal

 

O outro lado
A Inframerica, empresa que administra o aeroporto, informou que desenvolve e realiza periodicamente campanhas informativas alertando os passageiros sobre os riscos do uso de transporte pirata, a exemplo da campanha Não embarque nessa furada.

“Além disso, a administradora trabalha em conjunto com as polícias Militar e Civil, o Departamento de Trânsito (Detran) e a Secretaria de Mobilidade do DF para a melhoria contínua da atividade de policiamento no terminal, tais como autuações e abordagens”, reforçou a empresa, em nota.

A administradora do terminal orienta os passageiros a não aceitar transporte pirata e para que busquem táxis credenciados. “Aos passageiros usuários de aplicativos, a concessionária pede para que fiquem atentos às informações do veículo, como modelo, placa e o nome do motorista, que são exibidos no celular”, diz.

A reportagem não conseguiu contato com os representantes das empresas Safer Black e Vou de Táxi.

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