Candidato ao Senado é campeão de vaquinha virtual no DF com R$ 155 mil
Por enquanto, maior arrecadador é Marivaldo Pereira (PSol), que sonha se tornar senador. Entre os buritizáveis, só dois receberam doações
atualizado
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A arrecadação on-line de contribuições para campanhas eleitorais começou há 48 dias, mas ainda não parece ser uma opção viável ou levada em conta por boa parte dos pré-candidatos do DF. Em levantamento feito pelo Metrópoles nos sites das 50 empresas cadastradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para promover as vaquinhas virtuais, foram encontrados apenas dois dos oito postulantes ao Palácio do Buriti. As doações, que variam de R$ 1 a R$ 1.064,10 por dia, são mais comuns entre os concorrentes a vagas de deputados distrital ou federal.
Contudo, o pré-candidato brasiliense que mais recebeu ajuda financeira virtual almeja uma vaga na próxima legislatura do Senado Federal. Fenômeno no sistema de crowdfunding, o postulante a senador pelo PSol Marivaldo Pereira quase bateu a meta imposta por ele na plataforma de arrecadação. Até a noite de sexta-feira (29/6), último dia útil do mês de junho, o político havia angariado R$ 155 mil em doações de 303 pessoas físicas.
“Quando montamos nosso projeto, nos organizamos para que o ponto alto fosse o financiamento coletivo”, explicou. “Ainda estamos muito longe de conseguir a verba necessária para uma campanha competitiva ao Senado, mas, para um dos quatro filhos de diarista, com pai pedreiro, brasiliense, é um orgulho disputar com grandes empresários”, pontuou.Filho de diarista e formado em direito pela Universidade de São Paulo (USP), Pereira foi o primeiro negro a ocupar interinamente o ministério da Justiça. É servidor público da carreira de auditor federal de finanças e controle. O postulante a uma vaga no Congresso Nacional afirma não ser financiado por grandes empresas nem ter um grande fundo partidário pelo PSol.
De acordo com Marivaldo, a estratégia de arrecadação está voltada para as redes sociais e o corpo a corpo. “Ninguém queria investir no período de Copa. Nós estamos abordando temas políticos e importantes para a sociedade durante os jogos. Aproveitamos e falamos sobre o financiamento coletivo. Tem dado certo”, disse o político.
Aos 26 anos, Pedro Ivo (PPS) é pré-candidato a deputado distrital e reúne R$ 23.095 – total que o coloca no segundo lugar do ranking das maiores contribuições no DF. As doações variam de R$ 10 a R$ 1 mil e são de estudantes da Universidade de Brasília, professores e apoiadores do postulante a uma vaga na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ex-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB, o jovem político já bateu a meta estipulada para a disputa de outubro, de R$ 20 mil.
“Só podemos começar a usar o dinheiro no prazo oficial de campanha, depois de 15 de agosto. O financiamento coletivo dá mais possibilidades para a inserção de nomes novos na política. Investi na divulgação no lançamento da minha pré-candidatura”, contou. Pedro Ivo não usará verba do fundo eleitoral: “É uma forma de protesto. Dinheiro público deve ir para hospitais, escolas, não para campanha”, assinalou.
O também pré-candidato à CLDF Fábio Félix, do PSol, chegou a R$ 15.435 até a última sexta-feira (29). Rodrigo Delmasso (PRB), que pleiteia reeleição a distrital, acumula R$ 12.060 para usar durante a disputa. Já Erika Kokay (PT), de olho em outro mandato para deputada federal, tem R$ 8.600.
Buritizáveis não priorizaram
De olho no GDF, Alexandre Guerra (Novo) foi o primeiro postulante a governador do Distrito Federal a aderir ao modelo de financiamento coletivo. Até o fim da última semana, o empresário do ramo de fast-food recebeu R$ 5.186 de pessoas físicas. O outro nome majoritário em busca do apoio é Fátima Sousa (PSol). Atualmente, a professora da UnB conta com R$ 150 de saldo. As demais legendas ainda não concluíram o cadastro dos pré-candidatos ou não têm um nome definido para a disputa.
Para Guerra, o modelo mais saudável do financiamento coletivo é ter várias pessoas doando pequenos valores. Conforme pontuou, a grande barreira está na falta da cultura do brasileiro em participar desse tipo de ação. “É importante mostrar ser possível fazer campanha sem grandes gastos e, também, que o uso da vaquinha pode estimular a doação”, argumentou.
O governador Rodrigo Rollemberg (PSB), pré-candidato à reeleição, trabalha para fechar o sistema de crowdfunding com uma empresa autorizada pelo TSE ainda na primeira quinzena de junho. O programa de doação aceita contribuições até 7 de outubro, quando o pleito será realizado em todo o país.
Um dos concorrentes à vaga de governador do DF, Jofran Frejat (PR) não pretende buscar financiamento na internet. “O povo não está nem querendo votar, imagina dar recurso para os candidatos”, comentou. O ex-secretário de Saúde conta com a destinação do fundo eleitoral para custear os gastos da corrida rumo ao Buriti.
Os ex-parlamentares Eliana Pedrosa (Pros) e Alírio Neto (PTB) aguardavam o anúncio da chapa majoritária, no sábado (30), para começar os pedidos virtuais de recursos. Com a apresentação da ex-distrital como nome ao Executivo local e o petebista a vice, a coleta deve ser iniciada nos próximos dias. O deputado federal Izalci Lucas (PSDB) ainda não decidiu se irá solicitar doação on-line. “Estou avaliando se vale a pena ou não”, declarou o tucano.
Como funciona
No processo das vaquinhas virtuais, as doações podem ser feitas somente por pessoas físicas, por meio de instituições cadastradas no Tribunal Superior Eleitoral. Hoje, 50 empresas têm autorização para a coleta de apoio financeiro on-line. Os interessados em ajudar podem contribuir com até 10% da renda bruta que tiveram em 2017.
Se a quantia for ultrapassada, o doador paga multa no mesmo valor do aporte excedido. A empresa escolhida deve dar transparência ao processo, publicando na internet a lista de colaboradores e as verbas recebidas pelos políticos.
O dinheiro arrecadado por meio da vaquinha virtual só poderá ser usado – isto é, transferido para o candidato –, quando o beneficiado tiver registro eleitoral. Caso não seja apresentada a confirmação da candidatura, os recursos angariados devem ser devolvidos aos respectivos doadores
Regulamentada pela reforma eleitoral de 2017, a modalidade do crowdfunding teve o início autorizado pelo TSE em 15 de maio.
É a primeira vez que a ferramenta do financiamento coletivo on-line para candidatos será usada em eleições gerais. Com a alteração da norma, restaram proibidas as doações de pessoa jurídica aos políticos, a principal fonte de recursos – e de repasses ilícitos – de grandes campanhas eleitorais.
A maior parte do financiamento deve vir do fundo eleitoral de R$ 1,7 bilhão criado pelo Congresso Nacional. Como a divisão é de acordo com o peso de cada partido no Parlamento federal, as legendas recém-criadas ou com poucos deputados e senadores eleitos terão acesso restrito à verba pública.