Câncer no DF: maior consumo de cigarros na pandemia deve registrar alta de casos
O Instituto Nacional de Câncer divulgou que o Distrito Federal pode apresentar quase 18 casos de câncer por cada 100 mil habitantes
atualizado
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O Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulgou que o Distrito Federal deve apresentar quase 18 casos de câncer maligno na traqueia, nos brônquios e nos pulmões, por cada 100 mil habitantes, entre 2020 e 2022, devido ao aumento no consumo de cigarros na pandemia da Covid-19.
Segundo pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 34% dos fumantes brasileiros aumentaram a quantidade de cigarros consumidos durante a quarentena. O estudo considera que o aumento do tabagismo esteve associado à piora da qualidade do sono, ao isolamento dos familiares, à ansiedade e à depressão.
De acordo com o médico oncologista Caio Guimarães Neves, do Instituto de Câncer de Brasília (CIB), o cenário preocupa, pois o risco de câncer de pulmão aumenta de acordo com a quantidade e duração do consumo de cigarro.
“Estamos falando de um dos tumores malignos que mais matam. Aparentemente, é uma taxa baixa no DF. Porém, não se enganem, é um número assustador e não duvidamos de superação desse número”, alerta o especialista.
O estudante Asafe Andrade, 21 anos, viu o consumo de cigarros dobrar com a chegada da pandemia. “Antes, eram, em média, quatro cigarros por dia, no máximo. Hoje, eu fumo uma média de 8 a 10 cigarros. Não é só uma dependência pela nicotina. Eu, por exemplo, quando não tenho como distrair a mente, bate ansiedade, estresse e crise existencial. Por isso, o meu consumo é maior agora. Estamos em uma época muito frágil”, desabafou Asafe.
O jovem revelou ao Metrópoles, que mesmo no período de pandemia, tentou largar o vício ao enxergar os malefícios para a saúde. “O cigarro traz o sedentarismo, a insuficiência mental, física e psicológica, além de fadiga e estresse quando não posso fumar. É quase impossível parar nesse tempo de isolamento social. O único conforto que você tenta encontrar está no cigarro”, contou Asafe.
Um estudante de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), que preferiu não se identificar, também tentou parar com o vício. “Eu havia tido contato com o cigarro anos atrás, fumei quase um ano, mas resolvi parar. Na pandemia, por causa da ansiedade, eu retornei ao uso novamente. No início, fumava por volta de uns quatro cigarros, me controlando. Agora, como estou no processo de largar novamente, fumo dois por dia”, afirmou o jovem, de 22 anos.
Dependência
O estudo da Fiocruz indica, ainda, que o tabagismo está associado ao pior prognóstico da doença, maior necessidade de internação em unidade de terapia intensiva (UTI) e resultados adversos da Covid-19. Entre os fatores envolvidos na relação entre o fumo e a infecção por SARS-CoV-2 estão os movimentos repetitivos “mão/boca”, que aumentam a contaminação viral e a piora no desempenho cardiorrespiratório.
“Além de reforçar a importância do diagnóstico precoce, é preciso reafirmar a importância da prevenção primária, com a cessação do tabagismo, intimamente ligado à doença”, explica Caio Guimarães.