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Câncer de mama: pacientes esperam, em média, 181 dias por atendimento

Cerca de 700 pessoas aguardam pela primeira consulta com mastologista no Distrito Federal, e fila para cirurgia tem 500 à espera de operação

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No Distrito Federal, pessoas com suspeita de câncer de mama e outros pacientes aguardam, em média 181 dias — cerca de três meses —, para ter acesso a consulta com um mastologista pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente 713 esperam na fila, para completar o cenário, a rede pública dispõe de 25 profissionais da especialidade.

O número de mastologistas está pouco abaixo do preconizado pela norma técnica Critérios e Parâmetros Assistenciais para o Planejamento e Programação de Ações e Serviços de Saúde no Âmbito do Sistema Único de Saúde, do Ministério da Saúde. Considerada a população do Distrito Federal, o SUS local deveria ter, no mínimo, 28 profissionais.

Contudo, em casos câncer, a velocidade do diagnóstico é determinante para aumentar as chances de cura dos pacientes. No DF, 501 pessoas esperam por cirurgia de mama, em decorrência de tumores. Nesse grupo, 49 estão com classificação de risco azul — não urgente; 84, verde; 230, amarela; e 138, vermelha — a mais grave.

Para a fundadora da Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília — Recomeçar, Joana Jeker dos Anjos, o número de hospitais para tratamento das pacientes com câncer de mama está aquém do ideal. O Distrito Federal conta com três, mas, com base no número de habitantes, deveria ter ao menos oito.

As unidades de referência locais são os hospitais de Base (HBDF), Regional de Taguatinga (HRT) e Universitário de Brasília (HUB). “Há necessidade urgente de ampliação da rede para o atendimento dos pacientes oncológicos, tanto dos centros de terapia quantos dos profissionais”, alertou Joana.

A fundadora da instituição lembrou que a rede não precisa apenas de mastologistas, mas também de outros profissionais de saúde, como anestesistas, pois muitas cirurgias deixam de ocorrer pela falta de especialistas na área. “Há um problema estrutural muito grande”, criticou.

Legislação

A associação Recomeçar atende mais de mil mulheres, por meio de diversos projetos, como a doação de próteses pós-mastectomia para pacientes com mamas retiradas. Representantes da organização atuam, também, para o desenvolvimento e a aprovação de leis nacionais.

Joana destacou que a abertura de um hospital oncológico leva esperança para o futuro de pacientes, mas lamentou ainda não haver data para entrega da unidade de saúde. Além disso, ela chamou a atenção para o fato de que diversas pessoas precisam deixar o DF para buscar tratamento.

“Em todos os tipos de câncer, o tempo é fundamental, pois ele corre contra [o paciente]. Há necessidade de se ter um diagnóstico e iniciar o tratamento; por isso, temos leis de amparo a pacientes oncológicos”, salientou.

A idealizadora da instituição fundada em 2011 se refere, por exemplo, à Lei nº 13.896/2019, conhecida como Lei dos 30 Dias. A norma prevê que, em caso de suspeita médica de câncer, o diagnóstico do paciente deve ser concluído em até um mês.

Além dessa, há a Lei dos 60 Dias, de 2012, que determina esse intervalo para que se inicie o tratamento dos pacientes, após diagnóstico de biopsia.

Gargalo

Na avaliação da deputada distrital Dayse Amarilio (PSB), o baixo número de profissionais de saúde da área oncológica representa um dos gargalos da rede pública. Para a parlamentar, a estratégia de fazer mutirões de atendimento em parceria com iniciativa privada é importante, porém, gera resultados pontuais, com filas temporariamente zeradas.

“O grande gargalo do SUS é a falta de servidor, fora outras questões como hospitais sucateados, problemas nas adaptações de equipamentos, nos locais de atendimento e falta de insumos”, comentou Dayse.

Para oferecer tratamento contínuo e focado na prevenção a cânceres, a rede precisa de mais médicos e profissionais, segundo a distrital. Sem a mudança desse cenário, para ela, as filas continuarão a afetar pacientes e tendem a aumentar.

Posicionamento

A SES-DF confirmou os números obtidos pela reportagem. A pasta argumentou, contudo, que promove trabalhos contínuos para reduzir as filas de espera de consultas e cirurgias na área de mastologia.

“Há tratativas em andamento para reforço de servidores das carreiras que atuam no acolhimento e tratamento dos pacientes, além de promover a ampliação da carga horária de servidores na ativa”, comunicou a pasta.

A secretaria acrescentou que amplia os serviços e que, em 2020 e 2021, antes da pandemia de Covid-19, ocorreram 2.7347 e 3.187 consultas médicas com mastologistas, respectivamente. Em 2022, o número subiu para 6.286 e, de janeiro a setembro de 2023, o total ficou em 5.813.

“Vale salientar que, no enfrentamento a essas filas, pacientes com a classificação de risco vermelha têm tempo de atendimento significativamente menor, buscando-se respeitar o prazo de 30 dias”, enfatizou a pasta.

Além disso, o órgão mencionou o salto na realização de mamografias: em 2022, por exemplo, ocorreram 10.160 procedimentos; já nos primeiros nove meses de 2023, foram mais de 18 mil. Os exames se deram em equipamentos disponíveis em 11 hospitais do Distrito Federal.

Por fim, a pasta salientou que a rede tem 175 unidades básicas de saúde (UBSs), as quais são portas de entrada para acompanhamento, e que, entre janeiro e setembro deste ano, a rede registrou 2.572 quimioterapias, 149 radioterapias e 131 mastectomias realizadas.

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