Calote: agência deixa 85 turistas do DF na mão em Cabo Frio
Prejuízo inclui gastos com pousada, refeições, passeios e até combustível dos ônibus. Dona da empresa alega “erro de cálculo da organização”
atualizado
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O que era para ser uma viagem de descanso acabou virando pesadelo para um grupo de 85 turistas do Distrito Federal. Após contratarem um pacote com destino a Cabo Frio e Arraial do Cabo, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, eles descobriram que era um golpe. A desagradável surpresa ocorreu apenas depois dos dois ônibus desembarcarem no litoral fluminense, na sexta-feira (21/12).
O anúncio da empresa Isatur foi publicado no Facebook. Na promoção de viagem, a empresária convida: “Venha passar 3 dias inteiro [sic] e conhecer as belas praias. Valor do pacote: R$ 499 (incluso: hospedagem em pousada com suítes, café da manhã todos os dias, passagem ida e volta e traslados pras praias”. Mais adiante, a agência reforça que faz contrato e tem “referências”.
Organizada por Lidiane Barros Silva, a viagem estava marcada para ocorrer entre os dias 20 e 23 de dezembro. Após quase 12 horas de espera, conforme relatos dos passageiros, os dois ônibus seguiram viagem rumo à praia. Ao chegarem à pousada, na região do Braga, em Cabo Frio, a surpresa: a agência responsável não havia transferido o sinal exigido para confirmar as reservas.
“Eles chegaram às 3h. Muitas famílias com crianças, gente idosa… Eu tive que recebê-los, mas informei que não havia recebido um centavo pelas acomodações. Como também fui vítima de um golpe, resolveram fazer uma cota para me repassar, um valor simbólico pela hospedagem. Tentamos falar com ela [a responsável pela agência], mas não conseguimos”, disse Rosângela Gomes, proprietária do estabelecimento.
No dia seguinte, a empresa contratada para o transporte dos passageiros – JL Turismo – também alegou não ter recebido pelo aluguel dos dois ônibus. O descaso fez com que os motoristas levassem os veículos para um estacionamento pago e deixassem de transportar os turistas pelas cidades incluídas no pacote. Além de Arraial do Cabo, havia a previsão de um passeio em Búzios, um das cidades mais visitadas da região.
“Fizemos tudo o que combinamos e não recebemos dessa Isatur nem da Lidiane. Ainda falta ela nos pagar R$ 12 mil. É claro que os passageiros não têm nada a ver com isso e temos um nome no mercado. Vamos levá-los de volta a Brasília. Um ônibus sairá ainda neste sábado [22] e o outro, para quem quis arcar com os prejuízos a mais, voltará no domingo [23]. Não vamos largar ninguém lá”, afirmou ao Metrópoles o gerente operacional da empresa, Renato Pereira.
O caso foi registrado na 126ª Delegacia de Polícia, em Cabo Frio.
Veja o vídeo dos passageiros revoltados:
Prejuízos
“Nós vamos ter que dividir o combustível, porque não vai dar para chegar em Brasília. Fora os outros prejuízos, teremos de arcar com mais essa. É uma quadrilha, tanto ela quanto o marido dela”, acusou a passageira Daniela Souza.
A turista diz temer que o ônibus, que deverá antecipar o retorno, seja abordado na estrada por outros criminosos. “Como a gente não sabe com quem estamos lidando, estamos com medo. Fizemos o registro na delegacia, mas ficou por isso mesmo”, completou.
Indy Castro, outra turista, afirmou que houve, inclusive, problemas na hora de fazer o check-in na pousada contratada. “No meu contrato, era para eu ser hospedada em um local e me colocaram em outro e ainda tive que pagar novamente”, disse.
Os passageiros criaram um grupo de WhatsApp para trocar informações e combinar ações contra Lidiane Barros da Silva. “Quando li direito esse contrato fuleiro, me dei conta de que havia sido enganada. No dia mesmo do rolo do ônibus, muita gente me ligou e disse que era golpe, mas eu não acreditei”, relatou Thaisy Xavier. Já Amélia Santos disse que vai correr para reaver seus direitos. “Vou tentar receber meu dinheiro de volta”, afirmou.
Reincidente
Após os transtornos, os passageiros descobriram pela internet que a mulher já havia sido acusada de aplicar o mesmo golpe. Em janeiro, um grupo de 53 mineiros foi lesado durante pacote para Porto Seguro (BA). Também ficaram sem pousada e alimentação previstas dentro do valor pago. Com prejuízos calculados em mais de R$ 2 mil, as vítimas registraram ocorrências na polícia. Não houve desfecho do caso. No episódio anterior, Lidiane usou o nome empresarial de Lidia Tur.
A proprietária da agência viajou com o grupo. Procurada pelo Metrópoles, Lidiane Barros da Silva reconheceu que atrasou “alguns pagamentos”, mas garantiu que tudo foi quitado na manhã deste sábado (22) na presença de um policial. A reportagem solicitou o telefone da testemunha, mas não conseguiu contato até a última atualização da reportagem. Ainda segundo a organizadora do pacote, os problemas ocorreram por “erros de cálculo da organização da viagem”.
Começamos vendendo o pacote por R$ 550 e não houve procura. Fomos baixando o preço até chegar a R$ 350 ou R$ 400. Depois, fui ver que o valor vendido não cobria o que eles contrataram. Foi uma grande confusão, mas estou resolvendo.
Lidiane Barros, organizadora do pacote
De acordo com Lidiane, ao contrário do que alega a empresa de ônibus, os valores foram pagos. “Falta apenas uma parcela de pouco mais de R$ 2 mil. Vou processar essa empresa. É um absurdo ele dizer que não o paguei”, revoltou-se. Sobre a falta de pagamento das pousadas, a organizadora confirmou que houve o atraso, mas que tudo já estaria acertado. “Como eles receberiam as pessoas se não estivesse tudo pago?”, argumentou.
Controle
Não há registro da empresa do Ministério do Turismo. A pasta tem reforçado cada vez mais a fiscalização e controle das agências que vendem pacotes de viagens e orienta a população a sempre pesquisar no Cadastur – sistema de cadastro dos prestadores de serviços turísticos – antes de decidir qual companhia contratar.
O registro é obrigatório para os prestadores que exerçam atividades de meios de hospedagem, agências de turismo, transportadoras turísticas, organizadoras de eventos, acampamentos turísticos, parques temáticos e guias de turismo.
Além de desconfiar de preços muito atraentes, é fundamental procurar saber os antecedentes dos envolvidos. “Situações como essa podem acontecer e estragar uma viagem planejada há meses e até anos. Por isso é fundamental se cercar de cuidados para evitar dores de cabeça. No site Viaje Legal, o turista encontra dicas de como prevenir situações perigosas e o que fazer em casos de descumprimento de contratos”, explicou a coordenadora-geral de cadastramento e fiscalização de prestadores de serviços turísticos, Tamara Galvão.