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Papel, caneta e leque: alunos da UnB sofrem com o calor em prédios sem ventilação

Salas quentes e aparelhos de refrigeração que não funcionam fazem parte da rotina na Universidade de Brasília. Aluna lança campanha para trocar de lugar com o reitor

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Calor excessivo nas salas da UNB – Brasília – DF 19/10/2015
1 de 1 Calor excessivo nas salas da UNB – Brasília – DF 19/10/2015 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

As altas temperaturas registradas nos últimos dias têm castigado alunos e professores da Universidade de Brasília (UnB), e o material obrigatório passou a incluir um item inusitado entre cadernos e canetas: leques. O problema é agravado pelo fato de muitas salas não terem ventilação. A estudante de geografia Maria Virgínia Pantuzzo (foto), 19 anos, enfrentou o calorão com humor ao lançar um evento no Facebook nesta segunda-feira (19/10), chamado “Ivan Camargo, troca de sala comigo”.

A brincadeira faz referência ao reitor, que tem aparelho de ar-condicionado no gabinete. “Nós transformamos apostilas em leques, usamos roupas curtas e até deitamos no gramado molhado para nos refrescar. Mesmo assim, nada adianta”, conta Maria Virgínia.

A reclamação se repete entre os professores da instituição. Ana Cláudia da Silva, 49 anos, ministra aulas de literatura no Instituto Central de Ciências (ICC), o principal edifício do Campus Darcy Ribeiro, e afirmou que a situação é “infernal”. “No semestre passado, me colocaram em uma sala que nem tinha janelas. Desta vez, briguei para ficar em uma com ventilação.” Ainda assim, o incômodo com o calor é rotina. “Na semana passada, tive que dar uma aula embaixo de árvores. Ao menos batia um ventinho por lá”, brinca Ana Cláudia.

Medidas paliativas
A situação levou o Ministério Público Federal (MPF) a recomendar, em janeiro deste ano, que a universidade solucionasse o problema em seis meses. O período venceu e, em agosto, a UnB foi notificada.

Em resposta ao MPF, a instituição alegou que foram instalados 47 aparelhos de ar-condicionado e outros 480 passaram por reparo entre janeiro e agosto deste ano. A UnB também afirmou que, no Complexo das Artes e nos pavilhões Anísio Teixeira e João Calmon, as janelas foram revestidas com película refletora, em um total de 1,2 mil metros quadrados.

O problema, relatam estudantes e docentes, é que as soluções apontadas pela UnB não são verificadas na prática. Só o campus da Asa Norte conta com cerca de 120 prédios, e a maioria das salas não tem aparelhos de ar-condicionado.

Janelas abertas
No Bloco de Salas de Aula Sul, por exemplo, há, aproximadamente, 50 salas de aula e nenhum aparelho de ar-condicionado. Embora seja novo, o local não foi projetado para amenizar o calor. “O ar não circula nem com as janelas e as portas abertas. É quase impossível permanecer lá”, reclama o estudante de teoria, crítica e história da arte Sormani Vasconcelos, 42 anos.

Daniel Ferreira/Metrópoles
Gabriel Pereira assiste às aulas em salas em que o equipamento nunca foi ligado

Na Faculdade de Comunicação (FAC), localizada no Instituto Central de Ciências (ICC), quase todas as salas ganharam refrigeradores após uma reforma do programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), em 2011. No entanto, por conta de um problema no sistema elétrico do ICC, os aparelhos nunca foram ligados.

Gabriel Pereira, 19 anos, estudante de comunicação organizacional no período noturno, conta que nem à noite as salas ficam arejadas. “A gente olha o ar-condicionado e fica decepcionado. Os ventiladores nunca foram suficientes.”

Carga elétrica
No documento enviado ao MPF, a UnB afirmou ter ampliado a carga elétrica do ICC em 50% com a instalação de novos transformadores. Porém, os aparelhos continuam desligados. A universidade não comentou a questão do ar-condicionado, mas, em resposta ao Metrópoles, o prefeito da UnB, Marco Aurélio de Oliveira, admitiu que o problema afeta o cotidiano de professores e de alunos.

No entanto, segundo Oliveira, “não há como a universidade investir em climatização das salas porque a instituição não tem recursos financeiros”. A prefeitura do campus é um órgão auxiliar da reitoria e foi instituída com o objetivo de manter os serviços de infraestrutura da UnB.

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