Caesb vai ter que explicar impacto de supersalários na tarifa de água
Prazo foi dado pelo TCDF, atendendo pedido do Ministério Público de Contas para fiscalizar os gastos da estatal
atualizado
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A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) terá que esclarecer o impacto do pagamento de supersalários a seus funcionários na tarifa cobrada dos brasilienses pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgoto. O Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) deu prazo de 15 dias para que a empresa apresente explicações.
A decisão foi tomada após o Ministério Público de Contas do DF (MPC-DF) entrar com uma representação no TCDF. No documento, o órgão de controle pede que a Corte de Contas apure se o pagamento de pessoal da Caesb está em consonância com os princípios legais da remuneração dos trabalhadores de empresas públicas.
O MP questiona também o motivo de a estatal do GDF ter demorado cerca de seis anos para divulgar as despesas com pessoal no Portal da Transparência do DF. Em nota, a Caesb informou que recebeu o documento, está analisando os questionamentos e irá responder junto ao TCDF dentro do prazo estabelecido.
O pedido de explicações chega no momento em que se discute um novo reajuste na tarifa de água e esgoto. Na manhã dessa terça-feira (25/4), a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) promoveu uma audiência pública para debater o aumento. A alta proposta pela agência é de 2,56%. A Caesb, no entanto, pede pelo menos 5%. O índice deve ser anunciado na próxima semana e valerá a partir de 1º de junho.
O bombeiro militar Sérgio Costa Damasceno, 42 anos, é morador do Itapoã e participou da audiência. “A população não aguenta mais essa situação. A toda hora aparece um aumento diferente e a culpa não tem que cair no nosso bolso. A Caesb precisa encontrar uma forma de replanejar os seus custos e mudar a sua política de gastos. Os grandes salários também terminam impactando o reajuste”, disse.
Segundo o superintendente de Estudos Econômicos e Fiscalização Financeira da Adasa, Cássio Cossenzo, quando a agência define as tarifas da Caesb todos os custos da concessionária são analisados.
“Em relação aos salários, é feita uma pesquisa de mercado e estabelecidos tetos que são concedidos na tarifa. Esses valores dos supersalários não estão incluídos. A Adasa não considera isso como um custo operacional eficiente e, portanto, ele não entra na tarifa”, garantiu Cássio.
Folha de pagamento
A Caesb gasta 50% de toda a arrecadação com pagamento de pessoal. Somente em 2016, dos cerca de R$ 1,5 bilhão que recebeu, usou quase R$ 750 milhões para pagar as remunerações dos 2,5 mil funcionários, mais os encargos.
No começo deste ano, a empresa passou a publicar os salários a pedido da Controladoria-Geral do DF e, nas planilhas, são apresentadas remunerações totais de até R$ 95 mil para um advogado, lotado na procuradoria jurídica, por exemplo. Valor bem acima do teto constitucional do DF, que hoje equivale ao salário de um desembargador (R$ 30.471,11).
Além disso, existem analistas de sistemas de saneamento com salário de R$ 44.643,09; engenheiro civil que ganha R$ 51.316,73; advogado da área trabalhista que recebe R$ 61.960,00; motorista com remuneração de R$ 17 mil e um técnico em engenharia recebendo R$ 33 mil. Os pagamentos das remunerações de março estão disponíveis no site da Companhia.
Os valores são ainda mais significativos quando comparados aos orçamentos de algumas obras sob responsabilidade da Caesb para melhorar a prestação de serviço aos moradores do Distrito Federal. Uma delas é estratégica para o combate da crise hídrica. Trata-se da construção do subsistema do Bananal, próximo ao Parque Nacional de Brasília, que custará R$ 20 milhões. O valor corresponde a 2,6% do gasto anual com pessoal na Caesb.
Em nota, a empresa diz que os valores revelados, em alguns casos, não se referem a salários recebidos mensalmente pelos empregados da companhia. Isto porque incluem gratificações, adicionais, indenizações eventuais e outras vantagens pecuniárias, como gastos com férias e adiantamento de 13º.
Supersalários
Na Câmara Legislativa, a Proposta de Emenda à Lei Orgânica (Pelo 67/2017) que limita os supersalários em empresas públicas do Distrito Federal está parado, aguardando votação em segundo turno.
A previsão é que ele retorne à pauta do plenário apenas na próxima semana. A matéria foi aprovada em primeiro turno no dia 4/4 com 22 votos, mas as alterações só serão definidas na votação final. Há previsão de que a proposta seja alterada, uma vez que apenas o texto-base foi aprovado.
Robério Negreiros quer incluir no projeto limites a consórcios públicos e ao recebimento de jetons – gratificações por participações em reuniões mensais – para membros de conselhos ligados ao Governo do Distrito Federal. Assim, os valores acrescidos ao salário de servidores e membros de conselhos, somados, não poderão mais superar o teto constitucional do DF.
O texto alternativo elaborado pelo PT inclui salvaguardas a direitos adquiridos dos servidores do DF. Mantém férias, 13º salário, pagamento de benefícios confirmados por decisões judiciais, vencimentos adquiridos por meio de convenções trabalhistas e verbas indenizatórias.