Cadetes de curso da PMDF ficam duas horas aguardando aula on-line em sala
Novos oficiais ainda relataram mais dois casos de infectados pelo coronavírus na turma. Eles temem outras contaminações
atualizado
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Depois das reportagens do Metrópoles sobre os alunos do curso de Formação de Oficiais (CFO) da Polícia Militar do DF (PMDF), que denunciaram descumprimento de medidas de segurança por parte de oficiais da corporação durante a pandemia do novo coronavírus, os alunos que teriam aula por videoconferência ficaram, na manhã desta terça-feira (18/8), mais de duas horas presencialmente em sala aguardando pelas atividades.
O curso na PMDF prevê alunos em sala, mas os cadetes só têm contato com os professores de forma remota, on-line. Os futuros policiais temem que a aglomeração de estudantes em sala resulte em contágio pela Covid-19.
De acordo com um dos participantes, que pediu para não ser identificado, os cadetes chegaram na Academia de Polícia Militar de Brasília (APMB) por volta das 6h20 e até perto das 8h20 a aula não tinha iniciado.
“Fila imensa de medição de temperatura por um único aparelho. Todos amontoados no alojamento. Escutamos várias ‘ameaças’ de represálias e, ao chegar na sala de aula, a internet não estava funcionando. Total falta de estrutura. Se estivéssemos em nossas casas tudo estaria funcionando, as instruções sendo absorvidas e ninguém se contaminando”, resumiu o cadete.
Ainda segundo o relato do participante, mais dois colegas do curso foram infectados pela Covid-19, além dos 44 cadetes que já tinham testado positivo para a doença.
Sistema Eletrônico de Informações
Além disso, também foi elaborada, nessa segunda-feira (17/8), uma nota da 22ª Turma do Curso de Formação de Oficiais da PMDF. O texto está disponível para assinatura eletrônica no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) do Governo do Distrito Federal. Os alunos da turma estão sendo orientados a assinar o documento para comprovar que estão cientes de todas as medidas de biossegurança e os cuidados que estão sendo adotados na APMB durante o curso.
“Quem concordar com o documento, deve assinar eletronicamente e essa assinatura é criptografada e vinculada a uma senha que exibe os dados da pessoa. Os cadetes vão assinar por medo de sofrer represálias”, disse um dos alunos.
Veja o texto da nota:
Retorno das atividades
Em portaria publicada no dia 30 de julho, o comandante-geral da PMDF, coronel Julian Rocha Pontes, determinou o retorno das atividades presenciais do CFO neste mês de agosto, desde que observados os protocolos de segurança para a prevenção de contaminação pelo novo coronavírus.
Seguindo o cronograma previsto no documento, a turma de 3º ano do CFO retornou no dia 3 de agosto. No entanto, após casos de Covid-19 entre alunos, as aulas ficaram suspensas até essa segunda-feira (17/8), quando os cadetes voltariam. Após o Metrópoles revelar casos de cadetes infectados, a volta das atividades presenciais na tarde do primeiro dia de aulas previstas foi adiada novamente. O retorno ocorreu nesta terça-feira (18/8).
Na manhã de segunda-feira, o 2º ano retomou às atividades presenciais. O 1º volta no dia 31 de agosto, mesma data dos cursos sequenciais de carreira e de especialização.
Cadetes infectados
Segundo informações passadas pela própria PMDF, 44 cadetes do CFO testaram positivo para a Covid-19. Em nota oficial, a instituição informou que “no momento, três cadetes estão afastados com Covid.” Eles teriam se contaminado fora da academia, quando as aulas estavam suspensas, segundo a corporação.
“Os três estão afastados e só retornarão às instruções após período de quarentena e teste para verificar se estão curados. Outros 44 cadetes foram infectados, também fora da academia, mas já estão curados”, disse a PMDF no texto enviado ao Metrópoles.
Também nessa segunda-feira (17/8), militares discutiram se deveriam permitir a formatura dos cadetes que denunciaram o caso à reportagem. A conversa ocorreu em um grupo de WhatsApp da Associação de Oficiais da PMDF (ASOF), que reúne militares do alto comando da corporação. Nas mensagens às quais o Metrópoles teve acesso, um dos membros do grupo chegou a dizer que “formar oficiais desse quilate é de um mal avassalador para a instituição.”
“Devemos formar os futuros oficiais dessa maneira? É esse o tipo de oficial que a corporação quer?”, questiona um membro do grupo da APMB. Em outra mensagem, os cadetes foram citados como “chorões”.
Veja, a seguir, as mensagens:
Outro lado
A reportagem aguarda o posicionamento da Asof – o espaço segue assegurado para manifestações posteriores.
Igualmente acionada pela reportagem, a PMDF se posicionou apenas após a publicação desta matéria. Segundo a corporação, o atraso para o início das aulas na manhã desta terça não prejudicou o andamento do curso; a adesão à nota da 22ª Turma do Curso de Formação foi iniciativa espontânea dos alunos e foram registrados mais dois casos confirmados de Covid-19 entre os cadetes.
Veja a íntegra do texto encaminhado ao Metrópoles:
“1. O Documento citado diz respeito a uma manifestação espontânea de cadetes da 22° turma a respeito das medidas de prevenção adotadas pela PMDF. O documento em si não norteia ou modifica os protocolos já estabelecidos e levados a efeito, portanto assinar ou não em nada altera a situação do cadete.
2. Na data de ontem [17/8] foi registrado 01 novo caso de Covid-19 no CFO, em um cadete do CFO I. Cabe ressaltar que o CFO I cumpre instruções de maneira remota até 31 de agosto de 2020. E na data de hoje [18/8], 01 caso positivo de cadete do CFO III, que já se encontrava afastado e nem compareceu às atividades presenciais hoje.
3. De fato houve uma falha na rede tecnológica nas primeiras horas da manhã, porém não interferiu no desenvolvimento da instrução, pois o instrutor determinou uma atividade alternativa para o horário em razão da pane. A DITEL já providenciou o reparo e as aulas seguiram normalmente no restante do dia.”
Em manifestação anterior, sobre as videoaulas, a PMDF informou que as lições serão realizadas através de vídeo, “porém, tanto alunos quanto instrutores encontram-se na APMB”.
“A formação do policial militar não se resume apenas a assistir aulas teóricas. Para o transcorrer e conclusão do curso são necessárias avaliações e vivências que só podem ocorrer de maneira presencial. Dessa forma, todas as atividades presenciais têm seguido estritamente os protocolos de segurança sanitária estabelecidos pelas autoridades competentes”, disse a corporação, em nota.
Para seguir o distanciamento social, os alunos estão tendo aula em salas separadas, conforme a PMDF. “São três pelotões que antes ocupavam cada um uma sala. Agora, com a volta das aulas, cada pelotão estará dividido em duas salas, ocupando um total de seis salas”, explicou.
“Como o professor não pode estar presente ao mesmo tempo em mais de uma sala de aula, foi decidido fazer dessa maneira, onde o instrutor está presente no local para tirar qualquer dúvida dos alunos, que estarão divididos em duas salas de aula cada pelotão”, completou a instituição.