Bruce, cão com leishmaniose, é adotado no DF após decisão judicial
Animal saiu do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) direto para uma clínica veterinária, onde passa por tratamento
atualizado
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Bruce, um buldogue americano com leishmaniose que seria sacrificado, foi adotado nesse sábado (18/8) pela protetora de animais Ana Claudia Cury Magni, após decisão judicial. O cão saiu do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) direto para uma clínica veterinária. “Agora, vai ser outra vida. Espero que não demore”, comemora a nova dona.
A história foi revelada pelo Metrópoles no dia 3 de agosto, após uma decisão liminar ter poupado a vida de Bruce até que fosse batido o martelo sobre se o cachorro poderia ir para a adoção.
O cão foi deixado pelo antigo dono no CCZ, que fica no Setor de Áreas Isoladas Norte, no mês de julho. Com a leishmaniose confirmada, o protocolo é sacrificar o animal.
O advogado José da Silva Moura Neto, representante da autora da ação civil pública, a ativista Carolina Mourão, disse que a decisão inédita – a qual saiu na sexta-feira (17), durante audiência – é importante porque abre um precedente para situações semelhantes.
“Pode ser um mecanismo para salvar a vida de cães que podem ser cuidados. Dentro disso, é possível discutir a doença de uma forma mais ampla, não tão fechada e preconceituosa”, declarou.
A leishmaniose é uma doença infecciosa não contagiosa causada por parasitas do gênero Leishmania, e sua transmissão acontece por meio da picada do mosquito-palha. O cão infectado funciona como um reservatório do protozoário. No ciclo, o animal com enfermidade é picado pelo mosquito, que é contaminado e faz a transmissão para outros bichos ou seres humanos. O medicamento Milteforan pode ser usado para diminuir a concentração do protozoário, evitando a transmissão para o inseto, mas o cachorro continua infectado.
Bruce precisou ir para a clínica veterinária Pet Adote, no Paranoá, porque estava com imunidade baixa. O animal ainda não começou o tratamento com o Milteforan.
“Infelizmente, ele estava com muita febre. A veterinária achou melhor ficar internado. Como demorou a começar o tratamento, a gente precisa que ele fique estabilizado. Lá, está recebendo todo o suporte”, explicou Ana Claudia.
Para o tratamento de Bruce, serão necessários dois frascos de Milteforan, com valor médio de R$ 1.500 cada. O medicamento foi doado, na sexta-feira (17/8), por um veterinário de São Paulo que se sensibilizou com a história e procurou a protetora de animais.
“Vida normal”
Ana Claudia cuida de outros três cachorros com leishmaniose, os quais passam por acompanhamento semestral. Ela garante que Yoda, Areta e Greta conseguem ter uma vida normal porque tomam a medicação certa e comem ração de boa qualidade.
A protetora de animais já foi procurada por outras pessoas que tiveram curiosidade em saber como é a vida dos cães com leishmaniose. Para ela, a decisão vai ser importante para conscientizar a sociedade sobre a doença.
“A leishmaniose está muito em foco, mas só a parte ruim. Infelizmente, as pessoas não têm tempo e nem querem gastar. Então, elas preferem fazer eutanásia ou abandonam [animais doentes]. Eu acredito que vão olhar um pouquinho diferente agora”, afirmou.
De acordo com a médica-veterinária Bárbara Teixeira, gerente de Vigilância Ambiental de Zoonoses, o animal sempre vai ter o parasita no organismo, mesmo depois da cura clínica, possível com o uso do Milteforan. Por isso, o cão que tem leishmaniose precisa ser acompanhado por veterinário durante toda a vida.
“É muita responsabilidade. A pessoa tem que estar muito ciente do que está fazendo. Com todos os cuidados, é possível que o cão tenha uma vida saudável. Mas a biologia não é matemática, então vai depender muito do animal”, explica.
A veterinária esclarece que, ainda depois do tratamento com remédio, o cachorro precisa sair com coleira, usar repelente e conviver em local limpo. Também há chance de os sintomas reaparecerem.