Brigadista do DF fez declaração ao meio ambiente dias antes de morrer
Em legenda, brigadista escreveu: “Só nós sabemos a luta pelo meio ambiente”. Uellinton morreu carbonizado enquanto combatia incêndio
atualizado
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Apaixonado pela profissão, o brigadista do Distrito Federal Uellinton Lopes, 39 anos, fez uma declaração sobre a luta pelo meio ambiente 16 dias antes de morrer, combatendo um incêndio florestal em Mato Grosso.
Na postagem, Uellinton publicou um vídeo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) exaltando a profissão. Na legenda, ele escreveu: “Só nós [brigadistas] sabemos a luta pelo meio ambiente. A luta dos brigadistas poucos sabem, e só Deus vê tudo”, disse.
Esse não foi o único conteúdo de Uellinton dedicado ao trabalho que exercia e ao meio ambiente, que protegeu até os últimos segundos de sua vida. O perfil é repleto de cenas de combate às chamas.
Em 9 de julho, o servidor publicou um vídeo fazendo um aceiro no Parque Ecológico Águas Emendadas. Aceiros são faixas de terreno sem vegetação, que impede de o fogo se espalhar em caso de queimada.
Em outro post, Uellinton mostrou uma cobra enorme rastejando no cerrado brasileiro. O amor pela natureza era grande por parte do brigadista. “Buscando preservar sempre nosso bioma, fauna e flora”, escreveu em outra publicação com os colegas. Ele ainda colocou a hashtag #LutarSempreDesistirJamais na legenda.
As postagens de Uellinton foram proféticas. Ele desapareceu por volta das 11 horas de domingo (25/8) durante o combate ao incêndio na região da Terra Indígena Capoto/Jarina, em Peixoto de Azevedo, a 690 km de Cuiabá.
O corpo foi encontrado no dia seguinte a cerca de 1 km de uma linha de defesa contra o fogo. Ele estava carbonizado.
Uellinton compunha o quadro de brigadistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do instituto.
O homem havia sido contratado pelo PrevFogo em 2024 e integrava a Brigada Pronto Emprego de Brasília, no Distrito Federal. O enterro ocorreu na tarde dessa quinta-feira (29/8), no cemitério de Sobradinho.
Notas de pesar
Em uma publicação no X, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lamentou o ocorrido. O chefe do Executivo afirmou que o episódio causa “grande tristeza e indignação”.
“Ele era um dos heróis que combatem os incêndios criminosos e irresponsáveis que acontecem em nosso país”, escreveu o presidente na publicação.
“Minha solidariedade aos familiares, amigos e colegas de trabalho de Uellinton, e o agradecimento do Brasil a ele e a todos os guerreiros dos órgãos federais, estaduais e municipais que estão combatendo as queimadas”, completou.
O Instituto Raoni também prestou homenagens ao brigadista. “Ele foi um grande aliado na defesa da floresta. Um guerreiro!”, destacou.
“Nos dói ver pessoas tão boas dando a vida, literalmente, pela floresta, enquanto outros tão inconsequentemente acendem o fogo que destrói tudo que é vivo em seu caminho. CHEGA! Não aguentamos mais essa dor”. O instituto defende os interesses dos povos indígenas no território onde Uellinton morreu.
No Distrito Federal, o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) também publicou uma nota em homenagem ao brigadista. “O agente Uellinton Lopes desempenhou um papel importante na proteção ambiental e no combate aos incêndios florestais. Sua perda é profundamente sentida por todos nós”, destacou.
Incêndios
O Brasil registrou de 1º de janeiro a 26 de agosto 109.943 focos de calor, uma alta de 78% em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Mato Grosso, onde Uellinton foi encontrado morto, é o estado com o maior número de focos de calor do país, foram detectados 21.694 pontos em 2024.
Área maior do que o DF
O incêndio que atingiu a Terra Indígena Capoto/Jarina, segundo o Instituto Raoni, agravou-se nos últimos 10 dias.
A região abriga 16 povos indígenas que se espalham por 2,8 milhões de hectares de terra. O Instituto informou que o incêndio atinge cerca de 635 mil hectares. A área é maior do que todo o Distrito Federal, que tem 578 mil hectares.
Atualmente, 42 brigadistas atuam no local, sendo metade deles indígenas.