Brigadeiros ajudam a transformar a vida de mulheres da Estrutural
Associação montada por amigas dá a chance para moradoras aprenderem a fazer doces gourmets e virarem donas do próprio negócio
atualizado
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Um projeto social está abrindo um horizonte mais promissor para mulheres da Cidade Estrutural, uma das regiões mais carentes do Distrito Federal. Elas estão aprendendo a fabricar brigadeiros. Mas não são doces comuns. Tem de chocolate belga, caipirinha, capim santo, lavanda e mel, tâmara com manteiga de coco (diet), tortinha de limão, brulé, palha italiana, ovomaltine, entre outros. As guloseimas são gourmets e ensinadas por uma chef de cozinha, que decidiu investir parte de seu tempo para ajudar a transformar a vida dessas moradoras.
Janaina Matta, 41 anos, não está sozinha nesta empreitada. Ao lado da amiga, a administradora Mayara Freire, 32, ela fundou, há um mês, a Associação Docinhos da Cidade. Até o momento, 13 mulheres participam do projeto, que, conforme elas explicam, vai servir para que as moradoras complementem a renda de casa, aumentem a autoestima e se sintam mais empoderadas.A ideia surgiu em outubro do ano passado. Janaína já participava de outro projeto no local, de distribuição de cestas básicas em creches. Com o tempo, percebeu que deveria ir além. “Era preciso ajudar as mães das crianças, que muitas vezes estão desempregadas e não ajudam na renda de casa. O que favorece a dependência do marido e até a violência doméstica. Foi aí que veio a ideia”, explica.
Na Estrutural, segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), mais da metade, ou 52,2%, dos moradores são mulheres. Entre os 39 mil habitantes da cidade que surgiu de uma invasão e tem o maior lixão da América Latina, apenas 1,53% tem nível superior completo. Em cada família, a renda por pessoa é de R$ 521,80.
Muitos enxergam esse lugar com medo, pelo alto índice de violência, o tráfico de drogas e mesmo a existência de um lixão. Queremos mudar isso. Mostrar que as pessoas daqui podem fabricar e vender produtos de qualidade.
Janaina Matta
De abril a junho, as mulheres atendidas pelo projeto passaram por um curso. Enquanto Janaína ensinava as técnicas para fazer os brigadeiros, Mayara passava seus conhecimentos como administradora, para que elas possam ser empreendedoras.
Das 47 moradoras selecionadas inicialmente, 13 fazem parte da associação. E já estão ganhando dinheiro com a nova atividade. “No curso, nós ensinamos os processos de criação dos docinhos e como empreender. Aquelas que não foram escolhidas têm conhecimento suficiente e podem até abrir o próprio negócio, criar a sua fonte de renda”, acredita Janaína.
No primeiro momento, os doces eram confeccionados na casa de uma moradora que cedeu dois cômodos para as doceiras. Na tarde da última terça-feira (1º/8), elas se mudaram para um prédio alugado, que será a nova sede da associação.
Jennifer dos Santos Alves, 22 anos, estava desempregada há um ano e agarrou a chance com unhas e dentes. “Uma amiga me falou do curso e eu corri para fazer”, diz. Ela conta que, recentemente, teve de largar a faculdade e o trabalho para cuidar do filho Enzo, 2 anos.
O que mais deixa Jennifer animada é que, com a produção de brigadeiros gourmets, não precisa se desgrudar do menino. “Com a associação, posso conseguir estabilidade financeira, ajudar o meu marido com as contas de casa e cuidar do meu pequeno”, enumera, contente.
A história de Marisa da Silva Souza Araújo, 25 anos, é parecida. Ela teve de pedir demissão do emprego na área administrativa de uma empresa para se dedicar à filha Valentina, de um ano e dois meses. Agora, a menina vai com a mãe para a associação. “Me sinto muito feliz de contribuir com a renda de casa, receber elogios das pessoas que compram nossos produtos e, principalmente, ver o nosso trabalho crescer”, diz.
Conheça algumas mulheres da Associação Docinhos da Cidade:
O projeto prioriza mulheres com filhos e desempregadas, como Jennifer e Marisa. “Não queremos nem que saiba abrir uma lata. No nosso curso, ensinamos de tudo. Apresentamos produtos desde o mais simples até os de mais qualidade. Então, elas saem das aulas com o conhecimento necessário para cuidar de um negócio”, explica Janaína.
As idealizadoras do projeto querem que, no futuro, as mulheres conduzam sozinhas a associação. A ideia é também levar a iniciativa para outras regiões carentes do DF.
Jovem, sorridente e cheia de orgulho. Essa é Kylany Rodrigues Lima, 14 anos, que também foi selecionada para o projeto. Cacau, como gosta de ser chamada, é filha de pais separados. A mãe mantém a casa com um pequeno ateliê de costura. E a adolescente quer ajudá-la com os brigadeiros que aprendeu a fazer. “Eu sempre gostei de gastronomia e, quando soube do curso, agarrei a oportunidade”, diz a menina, empolgada.
As doceiras da Estrutural já fazem muitos planos. Elas acabam de comprar uma bicicleta e querem vender os brigadeiros, que custam R$ 3,20 cada, na Esplanada dos Ministérios. Se você quiser fazer encomendas, confira abaixo os contatos da Associação Docinhos da Cidade.
Serviço
As associadas recebem encomendas para festas e vendem em caixas com poucas unidades. Para mais informações, entre em contato pelos telefones (61) 98282-1011 ou 98179-2838. Ou ainda por email docinhosdacidade@gmail.com, página do Facebook e Instagram.