Briga por aumento: coronel diz que problema de delegado é “de leitura”
Em carta, presidente da Associação dos Oficiais dos Bombeiros, Eugênio César, voltou a criticar o presidente do Sindicato dos Delegados
atualizado
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A divulgação de uma conversa pelo WhatsApp entre o coronel Eugênio César Nogueira, presidente da Associação dos Oficiais do Corpo de Bombeiros do DF, e Rafael Sampaio, presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil (Sindepo), continua rendendo polêmica.
Após Sampaio classificar a postura do oficial de “mesquinha e lamentável”, o militar retrucou em carta divulgada neste sábado (23/2) aos colegas de corporação. No texto, Eugênio diz que o “problema do delegado é de leitura”.
Na sequência, o coronel diz não se opor ao reajuste à Polícia Civil (PCDF), mas afirma que o “leite dessa vaca vem do mesmo peito” e acusa o Governo do Distrito Federal (GDF) de “segregar os militares” de uma minuta de medida provisória que prevê reajuste somente para os civis.
Eugênio prossegue citando números que, segundo a associação presidida por ele, demonstrariam a disparidade entre as instituições. “A PCDF tem 48% dos cargos gratificados no GDF. O CBMDF [Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal], apenas 1%”, compara.
Leia a carta na íntegra:
Carta da ASSOFBM by on Scribd
“Intimidações e ameaças”
Ao Metrópoles, Rafael Sampaio disse entender o tom do coronel como “intimidações e ameaças”. “Tive uma conversa privada desagradável printada e divulgada, me impondo um esclarecimento que já foi dado. Se tem alguém jogando, não sou eu. Se intimidações e ameaças me afetassem, não seria policial. Esse assunto já rendeu demais”, declarou o delegado.
Desde a segunda-feira (18/2), quando o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), anunciou reajuste de 37% para os policiais civis, a tropa está em pé de guerra, pois a expectativa era que PMs e bombeiros fizessem parte do mesmo pacote.
Na quinta (21), o emedebista afirmou que vai cumprir o compromisso de campanha e dar aumento salarial aos militares do Distrito Federal. Disse, entretanto, que a proposta está sendo finalizada e vai incorporar o auxílio-moradia pago às corporações.
Diálogo polêmico
O polêmico diálogo via WhatsApp ocorreu nessa quinta-feira e foi divulgado nas redes sociais pelo militar do Corpo de Bombeiros. A postagem viralizou.
Nogueira começa a conversa perguntando se Sampaio tem certeza de que vai defender medida provisória com aumento apenas para a PCDF. O delegado responde que esse foi o encaminhamento do GDF e que luta pelos direitos da sua categoria.
Em seguida, completa: “Espero que não haja papelão de ninguém de querer atrapalhar as nossas demandas por mesquinhez”.
O coronel retruca e diz que a proposta “não prosperará”. Sampaio questiona se trata-se de uma ameaça. E o militar responde que não é ameaça, mas fato: “Reajuste da Segurança Pública sem os militares não prosperará”.
Veja as mensagens:
À reportagem, o coronel Eugênio explicou que não fez ameaças, mas deu um recado de que a corporação vai buscar meios legais para “não ficar para trás” e conseguir o reajuste.
“Não somos contrários ao aumento deles. É merecido. Mas eu garanto que a PCDF não vai conseguir o reajuste sozinha. Estamos dispostos a procurar deputados, senadores e até mesmo o presidente, que é militar, para não ficarmos esquecidos. Vamos até as últimas consequências. Eu divulguei as mensagens para me resguardar e mostrar que não tenho o que esconder”, justificou.
Na sexta (22/2), o Sindepo divulgou uma nota sobre o assunto. Confira a íntegra:
O Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Distrito Federal (Sindepo-DF), Rafael de Sá Sampaio, vêm, por meio desta, confirmar que o trecho de diálogo travado entre ele e o presidente da Associação dos Oficiais do Corpo de Bombeiros Militar do DF, coronel Eugênio César Nogueira, na qual o referido militar afirma que o reajuste negociado com o GDF pelas carreiras da PCDF “não prosperará”, em caixa alta, divulgado em redes sociais é autêntico.
No referido diálogo, o representante dos oficiais do CBM/DF, em atitude hostil e mesquinha, deixa claro que lutará para que o pleito dos servidores da PCDF não prospere. Posicionamentos beligerantes e destrutivos como esse revelam uma representação desqualificada e pouco preocupada com seus associados, sociedade e a segurança pública da capital.
Não bastasse a falta de tratamento protocolar e agressividade do representante dos oficiais do CBMDF, a exposição do diálogo em rede social trouxe grande indignação aos Delegados de Polícia do DF e demais servidores da PCDF, alimentando divisões no seio do Sistema de Segurança Pública do DF.
Os delegados de Polícia do DF sempre tiveram relacionamento amistoso com os Oficiais do CBMDF, tendo os coronéis Aboud e Franco nos últimos anos construído pontes conosco, com gestos diametralmente opostos ao do coronel Eugênio que, talvez em face de comportamentos desse jaez, não tenha encontrado o prestígio necessário para fazer os pleitos de sua categoria serem atendidos.
Ante o exposto, manifesto repúdio ao comportamento do Cel. Eugênio e desejo aos oficiais do Corpo de Bombeiro do DF uma sucessão que traga um merecido representante, virtuoso e construtivo, como essa carreira merece.
Rafael de Sá Sampaio