Breaking Bad de Águas Claras produzia droga vendida a R$ 150 o grama
Preso na Operação Sem Fronteiras, suspeito importou técnica de produção de metanfetamina dos EUA e passou a usar apelido da série americana
atualizado
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Ao desarticular três quadrilhas especializadas no tráfico de drogas sintéticas e de armas pesadas, na manhã desta terça-feira (07/05/2019), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) colocou atrás das grades um especialista em produzir cristal, entorpecente derivado da metanfetamina e chamado de MD por traficantes e usuários. Um grama da substância chega a custar R$ 150.
Morador de Águas Claras, Matheus Brasileiro do Valle (foto em destaque) importou a técnica de produção do cristal de Nova York, nos Estados Unidos, onde morou por 12 anos. Por esse motivo, usa o apelido “Breaking Bad”, série norte-americana que mostra a saga de um frustrado e depressivo professor de química que vira rei do tráfico de metanfetamina.
Matheus e outros detidos de seu grupo na Operação Sem Fronteiras, coordenada pela 5ª Delegacia de Polícia (área central), também eram responsáveis por fabricar “maconha gourmet”. “É uma droga considerada mais pura. Geneticamente modificada, tem potencial maior de THC e era vendida por um valor bem mais alto do que os praticados no mercado”, explica o chefe da unidade policial, Gleyson Gomes Mascarenhas.
Além de em Águas Claras, outros traficantes foram presos na Asa Sul, Guará, Samambaia, Paranoá e Alto Paraíso (GO).
Aluguel de casa
Ainda conforme o delegado, Matheus alugou uma casa em outra região administrativa, que servia exclusivamente de laboratório do entorpecente. O “Cozinheiro”, como Matheus também é chamado, contou ter suspendido a produção de cristal por um período, pois queria “mudar de vida”, mas logo retornou à atividade clandestina.
Entre os 11 mandados de prisão cumpridos pela PCDF, um ocorreu no Aeroporto Internacional de Brasília, quando um dos traficantes foi barrado na imigração ao tentar embarcar para São Francisco, nos Estados Unidos. O passaporte dele estava com restrições.
Fuzis de ouro
Além dos 11 mandados de prisão, a 5ª DP cumpriu 17 de busca e apreensão em seis cidades do Distrito Federal, além de em Goiás e no Paraná, onde um dos bandidos tinha um fuzil banhado a ouro.
A Sem Fronteiras mobilizou 102 agentes e delegados. Ela é resultado de dois anos de investigação e mapeou a produção das organizações criminosas que chegaram a enviar, mensalmente, 10 kg de cocaína para o DF e 90 kg para o Rio de Janeiro, além de armas de grosso calibre.
A ação é desdobramento da Operação Delivery, deflagrada em 6 de fevereiro de 2018, que resultou na prisão de 24 suspeitos envolvidos com o tráfico de drogas.
Um dos principais alvos da ação estava em Foz do Iguaçu (PR) e se especializou na venda de fuzis para facções criminosas no Rio de Janeiro. Os policiais fizeram a prisão em uma casa anexa a um lava a jato onde o suspeito morava.
“Até onde apuramos, a droga era originária do Paraguai. Em Foz do Iguaçu, era feita a embalagem e a separação, até ser encaminhada aos demais estados”, disse Gleyson Mascarenhas.
No celular do criminoso, os investigadores encontraram vídeos em que o homem ostentava armas de grosso calibre banhadas a ouro.
Veja vídeo:
Haxixe e maconha
Imagens que estavam no celular dos criminosos mostram como o grupo negociava. Eles pesavam os carregamentos, fotografavam e enviavam as imagens para os compradores.
As apurações policiais apontam que apenas um grupo seleto de usuários tem acesso a esse tipo de maconha. Uma pequena porção chega a custar R$ 1,4 mil. Ao contrário do produto vendido nas ruas e em bocas de fumo, as substâncias gourmet são negociadas em rodas de amigos.
A diversidade oferecida pelos traficantes elevava o valor do produto. Um deles fotografou grandes tijolos de haxixe – subproduto potencializado da maconha – de sabor uva e origem afegã, considerado um dos mais fortes, raros e caros do mercado da droga.
Operação Delivery
Durante a Operação Delivery, a PCDF prendeu 24 pessoas em fevereiro do ano passado. Na ocasião, a polícia investigava acusados que vendiam diversos tipos de entorpecentes, como escama de peixe (cocaína com alto teor de pureza), haxixe, maconha, merla e LSD. Os criminosos usavam motocicletas para entregá-los.
Os entorpecentes vinham da Bolívia. Os traficantes atuavam somente no Distrito Federal, especialmente para atender a clientela da Esplanada dos Ministérios. Entre os consumidores havia jornalistas, médicos e servidores públicos, alguns de alto escalão.