Brasilienses vão às ruas contra espancamento e morte de negro no Carrefour
Movimentos sociais e comunidade negra marcharam até unidade do mercado na Asa Sul, onde PMs formaram cordão de isolamento
atualizado
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Na noite desta sexta-feira (20/11), manifestantes se reuniram na Praça Zumbi dos Palmares, no Conic, e marcharam até o supermercado Carrefour localizado na quadra 402 Sul. O ato foi convocado pela Frente Distrital pelo Desencarceramento e, segundo os organizadores, contou com a presença de 250 participantes. A ação foi um protesto contra o assassinato de João Alberto Silveira, numa unidade do supermercado em Porto Alegre (RS).
O homem, negro, foi espancado até a morte por seguranças da rede na véspera do 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, considerado uma data de mobilização nacional contra o racismo estrutural. O homicídio gerou protestos em várias cidades brasileiras, inclusive na capital da República.
Durante a marcha em Brasília, os participantes entoavam palavras de ordem, como “Sem justiça, sem paz” e “Vidas negras importam”. Ao chegarem à quadra da Asa Sul, os manifestantes encontraram o Carrefour de portas fechadas e com um cordão de isolamento, formado por policiais militares, impedindo o acesso ao prédio.
A medida de segurança causou revolta. Integrantes da marcha começaram a questionar a postura dos PMs. “É um absurdo a população pagar a PM para proteger patrimônio privado. Vocês deveriam estar protegendo a periferia” gritou um dos manifestantes.
Alguns ativistas colaram cartazes na fachada do prédio, acusando a franquia de ser racista. O clima esquentou após um dos policiais chamar um dos integrantes do ato de “vitimista”. Nesse momento, começou um bate-boca entre os manifestantes e os policiais. Os ativistas pediram respeito, ao que o policial respondeu “se quer respeito, respeita primeiro”.
Veja:
O jovem que discute, no vídeo, com os soldados é Samuel Vitor Gonzaga, 21 anos, estudante de direito. Ele faz parte do Movimento Emancipa, de educação popular para jovens periféricos ingressarem em universidades. Segundo conta, os policiais “vieram pra cima” quando os manifestantes colavam cartazes na fachada do Carrefour.
“Eu reivindiquei que a gente estava em ato pacífico pela morte de um irmão e pelas vidas dos negros que estão sendo mortos todos os dias. Ele [o policial] perguntou de onde eu era. Eu falei que era do Guará, filho de diarista, morava de aluguel, mãe solo”, detalhou Samuel. “Ele falou: ‘Sou da Ceilândia e nem por isso sou vitimista’ e basicamente deixou a gente frustrado por tudo que aconteceu”, completou o estudante.
Um dos policiais tentou impedir que o jovem conversasse com a reportagem do Metrópoles.
Veja fotos do protesto:
“A gente tá aqui na rua hoje pela morte do Beto, mas também contra o sistema que elimina vidas negras. O pessoal que organizou o ato [no Conic] luta pelo desencarceramento, e acabou unindo as duas pautas. Seria um ato só pelo Dia da Consciência Negra, mas acabou que juntou as duas coisas [a data e o crime]”, explicou a estudante de direito Ana Beatriz Martins, 21 anos, que integra o Centro Acadêmico do curso na Universidade de Brasília (UnB).
“Ele [João Alberto] não é um caso isolado. Eles [do Carrefour] fecharam a porta hoje não em solidariedade ao Beto, mas para proteger o supermercado. Quem humilha o policial é o Estado. A gente não quer policiamento, mas cidadania”, disse Max Maciel, pedagogo e membro da ONG Rede Urbana de Ações Socioculturais (Ruas).
Os manifestantes deixaram a porta do Carrefour por volta das 20h20. A PM acompanhou o grupo na saída da quadra, até o acesso ao Eixinho.
Os participantes marcharam de volta à Praça Zumbi dos Palmares, onde costumam ser realizados atos contra o racismo no centro de Brasília. O evento acabou, de forma pacífica, antes das 21h.
Segundo a Frente Distrital pelo Desencarceramento, o ato foi agendado para a Praça Zumbi dos Palmares como um evento pelo 20 de Novembro. Segundo a frente, “entendemos que num sistema onde a maioria das pessoas presas são negras, temos uma realidade que é organizada para aprisionar essas pessoas desde a escravidão”. Contudo, já durante o ato no Conic, os manifestantes pediram uma marcha até o supermercado Carrefour da 402 Sul, em protesto pelo assassinato de João Alberto Silveira, em Porto Alegre, o que foi atendido.