Brasilienses que vivem do Carnaval atravessam drama financeiro com blocos cancelados
Sem liberação de alvarás e apoio financeiro do GDF, diversos setores da economia lamentam mais uma data festiva sem comemorações
atualizado
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Diversos setores da economia que dependem do entretenimento para sobreviver amargam mais uma data festiva que se aproxima sem que as comemorações aconteçam. Enquanto que o Carnaval de 2020 teve mais de um milhão de pessoas nas ruas, e movimentou cerca de R$ 200 milhões, dessa vez Brasília não expediu alvarás e nem liberou verba para blocos. A medida é para evitar a proliferação da Covid-19.
Nas casas de fantasia, a expectativa de aluguel ou compra de adereços é baixa. Vanessa Lopes é uma das proprietárias da loja Luxo e Fantasia, na Asa Norte. Segundo ela, os pedidos têm sido bem reduzidos este ano. “Estamos sendo procuradas para pequenas festas particulares, coisas menores apenas”, comenta.
Apesar do baixo movimento, ela conta que o dito popular de que brasileiro deixa tudo para fazer em cima da hora também se aplica à procura por fantasias. “Eu ainda acho que podem vir mais pessoas. No ano passado, o Halloween até nos surpreendeu. Está diferente? Com certeza, mas acredito que pode melhorar”, diz.
Vanessa lembra que o começo da pandemia foi bastante complicado para o negócio. A loja, que antes era apenas de aluguel, acabou expandindo a atuação. “Passamos a vender fantasias de crianças e também fizemos nosso site para parte de reservas on-line”, destaca.
Menos esperança tem Raimundo Eustáquio, da loja Bem Lindinha, no Sudoeste. Ele diz que em anos normais, sem pandemia, o estoque já começaria a ser reforçado em dezembro. Agora, no entanto, nada foi comprado.
“A gente tem alguns pedidos, mas nada significativo. Já passou Festa Junina, Halloween e agora o Carnaval também vai ser ruim. A sorte é que no ano passado a festa rendeu bastante”, destaca.
Mesmo assim, as reservas já estão acabando. A loja mudou de endereço recentemente para um local com condomínio e aluguel mais baratos, na tentativa de continuar sobrevivendo. “Até um jeito de economizar luz a gente deu. Minha esposa está pensando em mudarmos de ramo, pois está muito difícil”, diz Eustáquio.
Por tabela, as costureiras que prestam serviço a essas lojas também acabam no prejuízo. É o caso de Eliene Teixeira, que trabalha no Polo de Modas do Guará. A pandemia acertou em cheio a procura pelos serviços dela. “Não estou deixando nada exposto. Só quando vem uma encomenda que estou trabalhando. Depois fica tudo aqui e não posso gastar o dinheiro que está curto”, avalia.
Eliene ainda adotou a venda de máscaras, aproveitando os tecidos não utilizados para roupas de Festa Junina, mas ainda assim, não tem sido o suficiente. “Estou fazendo até hoje. Tem sido meu ganha-pão, mas é baixo o retorno”, explica.
Músicos e ambulantes
Outros setores que também sentem os efeitos da pandemia no bolso, sem as festas na rua, são os próprios artistas e também os ambulantes, que vendem bebidas, comidas e adereços carnavalescos.
Adolfo Neto, co-fundador do bloco Divinas Tetas, conta que o grupo nem tem se reunido mais por causa da impossibilidade de promover as festividades. “Cada um acabou indo buscar como se virar individualmente. Estamos bem conscientes de que não pode ter Carnaval enquanto as pessoas não estiverem vacinadas, mas é triste este momento em que deveríamos estar a mil por hora, cheio de ensaios”, lamenta.
Apesar de entender que as aglomerações devem ser evitadas, Adolfo diz que isso não deveria significar o cancelamento da folia. “É a maior manifestação cultural do mundo. O governo deveria promover alguma outra coisa que não fosse só a festa. Eu também sou colaborador do #FoliaComRespeito e a gente quer ver se dá para fazer lives, workshops ou outras coisas. Eles poderiam ter feito algo nesse sentido”, explica.
Já os ambulantes vão precisar rodar bastante para tentar conseguir o próprio sustento. Bartolomeu Martins, presidente do Sindicato do Comércio de Vendedores Ambulantes do DF (Sindvamb), explica que haverá algumas licenças para trabalhar.
“O que fizemos foi tentar arrumar autorizações para alguns pontos alternativos, que devem ter algum movimento. No jogo do Flamengo contra o Palmeiras, por exemplo, do lado de fora do Mané Garrincha deu para fazer algum dinheiro”, comenta.
Bartolomeu, no entanto, faz questão de frisar a necessidade de ter autorização. Ele crê que a vigilância da Secretaria de Proteção à Ordem Urbanística (DF Legal) será grande para evitar aglomerações, então quem estiver sem documentos, terá os produtos levados. “Vão confiscar tudo e depois sai no prejuízo, pois não devolvem”, destaca.
O que diz a Secretaria de Cultura
Procurada, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa informou que “o cancelamento do Carnaval do DF não pode ser avaliado como ação economicamente negativa, diante da pandemia do Covid-19 e do potencial de aglomeração que uma festa deste porte tem para impactar na sobrecarga do Sistema Público de Saúde (SUS), podendo comprometer vidas humanas”.
A pasta diz acreditar não ter a festa de Momo num contexto “do avanço da Covid-19 e de colapsos nos sistemas de saúde em algumas capitais, pode ser considerado ínfimo, diante dos riscos iminentes que o DF teria em aportar uma festa dessa dimensão”.
Além disso, a secretaria pontuou que não é possível calcular a quantia em dinheiro que deixaria de ser injetada na economia do DF sem as comemorações.