Brasilienses escolhem carros “maduros” para evitar dívidas. Veja dicas
Venda de veículos de 9 a 12 anos de uso dobrou em 2018 no DF. Em julho, compra de usados foi três vezes superior aos emplacamentos
atualizado
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Com o mercado de veículos novos aquecido, o emplacamento no Distrito Federal cresceu 12% em julho de 2018, em comparação ao mesmo mês de 2017. Ainda assim, os usados foram quase três vezes mais adquiridos pelos brasilienses, somando 19 mil unidades no período. Nesse segmento, o preço mais atrativo dos classificados como “maduros”, os carros de 9 a 12 anos de uso, fez as vendas dobrarem no acumulado do ano.
Um dos compradores foi o vigilante Glauber Castelli, que escolheu um Citroën C3 fabricado em 2008, por R$ 15.500 à vista, para se deslocar ao trabalho. Há mais de dois anos, a família precisou vender o carro anterior, um Citroën C4 Pallas, com o objetivo de comprar um apartamento no Guará II.
O gasto mensal com aplicativos de transporte particular despertou em Glauber a vontade de ter novamente o próprio carro. O sonho se concretizou em julho. Mesmo sem ter colocado na ponta do lápis quanto vai gastar com gasolina, impostos e manutenção, o vigilante acredita ter feito um bom negócio.
“Foi questão de necessidade de locomoção e conforto. A gente não tinha condições de comprar um novo, até porque ele já sai da loja desvalorizado. No meio do ano que vem, penso em comprar mais um”, contou.
Para saber se vale a pena deixar o aplicativo para comprar um veículo usado, é possível fazer as contas na calculadora virtual Peso do seu carro. No caso do Glauber, que pagou à vista e roda pouco, o Metrópoles verificou que o negócio, provavelmente, tenha sido bom.
Maduros em falta
A venda foi feita por Leonardo Santana, dono da 11 Multimarcas. De acordo com o empresário, os automóveis “maduros” estão praticamente em falta na loja porque são comprados com mais facilidade. Foi assim com um Celta modelo 2006, vendido em uma semana. Recentemente, também teve saída na loja um Corolla 2004, que já entra na classificação dos usados como “velhinho”, por ter 13 anos.
Estou precisando de veículos um pouco mais antigos, com valor melhor, porque eles saem mais rapidamente. Tem muita gente que não quer se sufocar com financiamento. Em vez de dar uma entrada de 20 mil num zero, a pessoa compra à vista, por exemplo. Estão querendo fugir de prestação
Leonardo Santana, revendedor
Enquanto aumentaram as vendas dos usados jovens (4 a 8 anos), dos “maduros” e dos velhinhos, os seminovos (0 a 3 anos) perderam espaço em 2018, com queda de 54,4%. Segundo o presidente da Federação das Associações de Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), Ilídio Gonçalves dos Santos, mesmo com a diminuição na venda dos mais caros, o mercado continua no ritmo.
“Quem tem melhores condições financeiras volta a comprar carro zero. Há uma camada de pessoas que possuem salários mais reduzidos e preferem os mais antigos, porque são mais baratos. O que falta para nós, no mercado, é voltar a confiança dos consumidores e os empregos. O preço da gasolina também atrapalha”, explicou.
O presidente da Associação de Revendas de Veículos do Distrito Federal (Agenciauto-DF), Fernando Toledo, afirmou que o aumento na saída dos automóveis “maduros” está ligado à prudência dos compradores de classe média, público-alvo dos usados.
“As pessoas ficaram mais criteriosas. Em um cenário econômico cheio de incertezas, o grande objetivo de todos é equalizar os gastos e acertar dívidas. As famílias estão se adequando”, avaliou.
Toledo afirma que a melhora do mercado de veículos zero é fundamental para o aquecimento do mercado de seminovos. “Quando há problemas extras, como a greve dos caminhoneiros, a alteração cambial e outras questões econômicas, há interferência”, acrescentou.
Barato que pode sair caro
Para saber se o carro vai caber no orçamento, além do gasto mensal com gasolina, o comprador não pode deixar de considerar o pagamento do IPVA, do DPVAT e do licenciamento. As despesas com eventuais multas e a contratação de um seguro particular também devem ser consideradas.
Os carros usados têm vantagem no valor total, principalmente se puderem ser pagos à vista. Consequentemente, o valor do IPVA também é mais baixo e, no caso daqueles com mais de 15 anos de fabricação, há isenção do imposto.
No entanto, o professor de Engenharia Automotiva da UnB Alessandro Borges explica que, como já andaram muito, os “maduros” podem apresentar problemas em várias peças fundamentais, como freios, rodas, câmbio, embreagem e transmissão. A manutenção frequente é inevitável.
“Carros dessa idade apresentam, estatisticamente, muito mais problemas de embreagem e transmissão. Substituir o rolamento fica muito caro. Dependendo do veículo, você pode atingir mais do que 50% do preço pago”, disse.
O custo para manter o bem varia de acordo com o tipo de veículo, mas é maior para os mais antigos. “Pode ver que o segmento é de carros mais populares, onde o preço da peça não é muito alto. Mas você vai gastar mais com ele do que com um novo”, apontou Alessandro.
A recomendação do especialista é de que seja feita uma revisão pelo menos a cada dois anos, para evitar que o carro “maduro” se torne perigoso. “Os veículos com essa idade perdem cerca de 30% da capacidade de frenagem. A inspeção veicular é algo que poderia ajudar muito o usuário. Na hora de uma emergência, você pode colocar em risco a sua vida e a de outros”, ressaltou.
Segundo o professor, automóveis com 15 anos de uso já estão na idade de “se aposentar”. “Não dá para estender esse tempo, senão ele começa a ficar com preço inviável de manutenção”, afirmou.
Dicas para fugir de ciladas:
- Dê preferência para lojas com boa reputação e indicações. Na internet, há um estoque de veículos à venda nas revendedoras associadas à Agenciauto-DF;
- Se não for pagar à vista, procure saber se a loja escolhida para a compra conta com financiamentos oferecidos pelos principais bancos e financeiras do mercado;
- Exija o acesso à documentação do veículo, incluindo o manual do proprietário para conferir as revisões feitas e a quilometragem do veículo;
- Exija uma certidão garantindo que o veículo está livre de multas, restrições de financeiras etc.;
- Você pode pedir um laudo para checar se o veículo tem o chassi adulterado e se partes importantes, como câmbio e motor, estão de acordo com a procedência dele;
- Se não tiver acesso aos dados acima, peça a um despachante que verifique o histórico do veículo antes de fechar negócio;
- Você pode levar um mecânico de sua confiança para avaliar o estado do carro e acompanhá-lo em um test drive a fim de confirmar as boas condições do veículo;
- Avalie as condições do desgaste das demais partes do veículo, como lataria, pneus e amortecedores, para ver se são compatíveis com a idade e a quilometragem apresentada no odômetro.