Brasiliense conta confusão em noite de terror na Irlanda; veja vídeo
Brasiliense Guilherme Pereira destacou noite de muito medo em Dublin após ataques a ônibus e a pessoas no meio da rua da capital irlandesa
atualizado
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O brasiliense Guilherme Pereira, 29, teve a rotina alterada na última quinta-feira (24/11) em Dublin. A capital irlandesa se viu imersa em uma onda de caos. Um grupo de extrema direita teria se aproveitado de um protesto contra a violência no centro da cidade para iniciar uma onda de terror contra os imigrantes. “Foi uma noite de muito medo”, relatou o brasileiro.
Veja imagens do vandalismo em Dublin:
Morando no país há 11 meses, Guilherme trabalha como bartender em um hotel no centro da cidade. Ele estava trabalhando quando foi informado dos ataques próximo ao local que estava. O grupo extremista tacou fogo nos ônibus e no veículo sob trilhos que liga o lado Sul ao lado Norte da cidade, o que impossibilitou o retorno para casa das pessoas que necessitam do transporte público.
“As linhas de ônibus não estavam funcionando. Eu saíria do trabalho às 23h30, e teria ônibus pra voltar pra casa, minha única alternativa seria andar um percurso de sete quilômetros ou então pegar um táxi ou um carro de aplicativo que naquela noite estava numa cotação de 70 euros”.
Guilherme e os colegas de trabalho dormiram no hotel em que trabalham para que ficassem protegidos. O local dos protestos ficou marcado pela destruição. Os manifestantes quebraram vitrines de lojas, incendiaram carros e ônibus, soltando fogos de artifício por toda a O’Connell Street, principal via da cidade.
Quando questionados sobre as motivações dos ataques, ameaçaram jornalistas e acusaram a mídia de distorcer informações a respeito da imigração no país, conforme o Metrópoles noticiou no dia dos ataques.
Em resposta, as forças de segurança locais pediram calma à população e alertaram sobre desinformação acerca do incidente com as vítimas esfaqueadas.
Ao todo, 34 pessoas foram presas durante o protesto contra imigrantes que eclodiu após o ataque, o mais violento visto em décadas na capital irlandesa.
Herói brasileiro
Enquanto um grupo causava o terror contra os imigrantes no país europeu, um brasileiro recebeu a fama de herói. O carioca Caio Benício, de 43 anos, que mora em Dublin e trabalha como entregador, foi o responsável por conter o homem que esfaqueou três crianças e dois adultos na porta de uma escola no centro da capital, nessa quinta-feira (23/11).
Em um áudio compartilhado com os amigos pelo WhatsApp, Caio conta que passava de moto no local e parou quando viu o que parecia ser uma briga. “Pelo jeito, eles (os manifestantes) odeiam imigrantes. Bem, eu sou um imigrante e fiz o que pude para tentar salvar a menininha”.
“Se as vítimas sobreviverem”, disse Caio ao jornal irlandês, “serei grato por ter estado no lugar certo, na hora certa.”
O brasileiro, que é pai de duas crianças, continua se perguntando: “Se a menininha não sobreviver aos ferimentos, vou sempre pensar que poderia ter agido mais rápido, mas, como estou me recuperando de uma cirurgia no joelho, demorei um pouco para sair da moto”, disse.
Ao ter o capacete apreendido pela polícia como prova das investigações, o brasileiro pediu outro emprestado para continuar o trabalho de entregador.
Protestos contra imigrantes em Dublin
O chefe da polícia irlandesa alertou que grupos de extrema direita podem continuar a interromper agir no país, depois que cerca de 500 pessoas tomaram as ruas de Dublin, em um protesto violento contra imigrantes.
Ônibus e bondes foram incendiados, carros da polícia destruídos e 13 lojas saqueadas. Até agora, 34 pessoas foram presas e podem pegar até 12 anos de cadeia. De acordo com o comissário da polícia, a propagação da ideologia de extrema direita nas redes socais é um elemento perturbador para a sociedade.
O ressentimento de uma minoria na Irlanda contra imigrantes, que buscam asilo político no país em plena crise econômica, tem motivado protestos recentes na porta de centros de refugiados.
Mas o primeiro-ministro Leo Varadkar, em declaração nesta sexta-feira, disse que o que aconteceu ontem não reflete o sentimento dos irlandeses, uma nação de imigrantes.
Repúdio aos atos
Houve repúdio aos atos. Helen McEntee, ministra da Justiça irlandesa, afirmou que “não deve ser permitido que elementos violentos e manipuladores usem uma tragédia terrível para causar estragos”.
Drew Harris, comissário da Guarda Siochána (Garda), polícia nacional civil da Irlanda, apontou uma “facção completamente lunática e impulsionada pela ideologia de extrema direita” como culpada pela desordem.
O superintendente da Guarda, Liam Geragthy, pediu que informações e imagens dos ataques sejam encaminhadas às autoridades. Ele assegurou que os atos não têm motivação terrorista, indo de encontro ao posicionamento de Harris, que comentou em coletiva de imprensa: “Nunca descartei qualquer motivo possível para este ataque. Todas as linhas de investigação estão abertas”.