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Biomédico acusado de erro por pacientes vira réu por tráfico de drogas

Em fevereiro deste ano, a PCDF encontrou fórmulas proibidas pela Anvisa, como o Synthol, no escritório do biomédico, após várias denúncias

atualizado

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foto de Rafael Bracca
1 de 1 foto de Rafael Bracca - Foto: Reprodução

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) tornou réu o biomédico Rafael Bracca (foto em destaque) por tráfico de drogas após serem encontradas fórmulas proibidas no escritório dele na Asa Sul, em fevereiro deste ano.

O homem também é acusado por mulheres de pelo menos três estados de causar danos irreversíveis à saúde e à estética após passarem por procedimentos de luxo no bumbum, com uso de substâncias suspeitas.

Os casos, que começaram com pequenas injeções, se transformaram em grandes investigações policiais e imbróglios jurídicos. Pacientes que tiveram problemas de saúde suspeitam do uso de uma substância proibida, chamada Synthol.

A busca e apreensão contra ele, realizada em fevereiro, fez com que agentes da 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul) encontrassem, na clínica da Asa Sul, 200 unidades de cápsulas vermelhas de uma outra fórmula ilegal, a metilhexanamina (DMAA), que auxilia no emagrecimento, mas foi proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2012 por aumentar riscos de surgimento de doenças cardíacas, hepáticas e renais, por exemplo.

O indiciamento da Polícia Civil do DF foi encaminhado à Justiça. A defesa do biomédico chegou a argumentar, nos autos, que ele não sabia que o material apreendido era proibido, pois havia, no site da compra, um número que indicaria o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os advogados também alegaram que a substâncias seriam para uso pessoal.

O Ministério Público contestou os argumentos. Em manifestação do dia 20 de outubro deste ano, o MP lembrou que os materiais apreendidos são “proibidos há bastante tempo”, e ainda pontuou que Bracca é biomédico e frequentador de academia, então “não possui um juízo leigo sobre o que é permitido ou proibido”.

O órgão também não ofereceu proposta de Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) ao denunciado, afirmando que “há claros indícios de conduta criminosa profissional, reiterada e habitual, considerando que ele responde a outra ação penal”.

“Vi vidro de Synthol”

Uma família de Brasília procurou o biomédico influencer para realizar tratamentos diversos com ele. Com receio de se identificarem, eles contaram problemas graves envolvendo todo o processo de atendimento na clínica de Bracca.

Biomédico, nutricionista e influencer, com mais de 60 mil seguidores no Instagram, ele vende cursos na internet, tem clínica na Asa Sul (DF) e em Barueri (SP) e fez fama com o “protocolo TX-8”, para preenchimento de glúteos.

Uma das pacientes desse grupo familiar, que se submeteu ao famoso “TX-8”, também foi parar no hospital, convive com dores constantes e hoje procura um cirurgião plástico para tentar reverter o quadro, mas já ouviu de especialistas que seria preciso tirar uma parte do glúteo, “fatiando” o bumbum para retirar o produto aplicado.

Ao enfrentarem problemas de saúde, os pacientes começaram a questionar Bracca. “A gente perguntava o que estava sendo aplicado, mas ele não revelava completamente, dizia que o protocolo era patenteado e era segredo o que ele utilizava. Argumentava que não divulgava pra ninguém utilizar.”

Eles relatam que o biomédico preparava escondido as seringas para aplicação de substâncias, e já chegava com o material pronto para ser injetado. “Certa vez, aumentou exponencialmente o custo do tratamento, chegou até a dobrar o valor. Ele justifica dizendo que o valor do material aumentou muito, porque importa produtos dos Estados Unidos e da Alemanha. Na época, ele me mandou detalhado alguns desses itens. Um desses era o Synthol, custando R$ 900 e pouco. Acho que não foi intencional revelar, porque ele só me encaminhou a conversa com o fornecedor.”

Na mesma semana, os pacientes da família foram até o consultório e chegaram a flagrar um frasco antes do biomédico retirar o rótulo. “Quando entramos na sala, ele estava na recepção ainda. Sentamos e eu vi na mesa o vidro de Synthol, que talvez tinham acabado de entregar. Eu perguntei se ele usava aquilo, mas ele já foi tirando o rótulo, entrando em uma salinha.”

Essa substância ficou famosa após a morte de Valdir Segato, conhecido nas redes sociais como o “Hulk brasileiro”. Ele dizia usar o Synthol, que é um óleo mineral que costuma ser injetado nos músculos para deixá-los maiores e inchados, proporcionando efeito quase imediato. No Instagram, Bracca já chegou a postar que o protocolo dele, que seria totalmente natural, apresenta resultado “desde a primeira” sessão.

Segundo estudos, o Synthol traz efeitos colaterais múltiplos, podendo causar danos aos nervos, embolia pulmonar por óleo, oclusão da artéria pulmonar, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e complicações infecciosas.

CRBM investiga

Por meio de nota, o Conselho Regional de Biomedicina (CRBM-3ª Região) informou que está apurando a conduta do biomédico Rafael Bracca diante dos fatos narrados. Porém, não comenta detalhes a respeito da investigação em andamento.

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