Bilhete encontrado em cativeiro teria atraído Elizamar e a família para a morte
No local também foram achados cartões de crédito e um caderno com dezenas de anotações com informações pessoais das vítimas da chacina
atualizado
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Entre os objetos encontrados no cativeiro em que integrantes de uma mesma família foram mantidos reféns, em Planaltina (DF), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) identificou um bilhete que pode ter sido usado por criminosos para atrair Thiago Belchior, 30 anos; a esposa dele, Elizamar da Silva, 39; e os filhos do casal até a chácara dos pais do desaparecido, no Itapoã.
“Chefe, como está o seu dia? Vou precisar de ajuda urgente”, começa a mensagem. “Thiago, tem como você vir à chácara? Vou explicar o que está acontecendo. Se puder, venha hoje com a Eliza [Elizamar] e os meninos”, termina a carta.
A polícia não informou a autoria do bilhete. Contudo, em depoimento à PCDF, Horácio Carlos Ferreira Barbosa, 49, um dos presos após confessar envolvimento no crime, disse que trabalhava, junto a outro detido – Gideon Batista de Menezes, 55 –, para Marcos Antônio Lopes de Oliveira, 54, pai de Thiago. A dupla de suspeitos morava com as vítimas no mesmo terreno.
Veja:
No local também foram encontrados cartões de crédito e um caderno com dezenas de anotações sobre as vítimas, tais como: número de documentos, senhas e agências bancárias.
Os objetos reforçam a teoria da polícia de que uma das maiores chacinas da história do DF teria como motivação o dinheiro arrecadado pela família nos últimos meses.
Em depoimento à PCDF, Horácio disse que Renata Belchior, 52, sogra de Elizamar, teria vendido uma casa no valor de R$ 400 mil, poucos meses antes.
O suspeito acrescentou que Cláudia Regina Marques de Oliveira, ex-mulher de Marcos Antônio, 54, teria vendido um lote no valor de R$ 200 mil, um mês antes. Ela ainda está desaparecida.
Conforme relatou um terceiro suspeito à polícia, identificado como Fabrício Silva Canhedo, 34 anos, Renata e a filha dela, Gabriela Belchior, foram vigiadas por ele no cativeiro por duas semanas. Elas ficavam vendadas e amarradas.
Ainda segundo o homem, Claudia e a filha, Ana Beatriz Marques de Oliveira, também foram levadas ao local por Horácio e Gideon. Assim como a sogra e a cunhada de Elizamar, as duas foram mantidas vendadas e amarradas.
Veja imagens do cativeiro:
A reportagem cruzou depoimentos de suspeitos de envolvimento no crime, bem como relatos de familiares e testemunhas à polícia, para explicar a cronologia dos fatos. Confira:
25/12 – Segundo relatou o namorado de Gabriela à polícia, ele passou o Natal com os familiares da jovem e retornou para casa dois dias depois. Na ocasião, os documentos da sogra, Renata, 52, teriam ficado com ele.
28/12 – Conforme depoimento, a menina teria “sumido” durante o dia 28 de dezembro e voltado a responder o companheiro à noite, informando que precisou fazer uma viagem de última hora, pois o “pai teria de fazer alguns exames”.
31/12 – Após dois dias seguidos sem responder, Gabriela, 25, teria mandado uma mensagem de áudio para o namorado dizendo que retornaria para casa em 1º de janeiro. Desconfiado da história, o jovem, então, teria checado um aplicativo de localização, que divide com a companheira, e verificado que o celular dela, com o qual os dois se comunicavam, estava em Planaltina. Sentindo que algo poderia estar errado, o rapaz mandou prints para Gabriela por mensagens e passou a confrontá-la.
2/1 – Gabriela e a mãe, Renata, enviaram um áudio para o jovem dizendo que um “processo relacionado a um trator do pai dela” – Marcos Antônio, 54 – teve “problemas” e que, por esse motivo, a família precisou fugir. Desde então, não responderam mais.
Preocupado, o jovem entrou em contato com Thiago, 30, irmão de Gabriela, que teria dito a ele “não saber de nada”. Dias depois, Thiago o teria procurado solicitando os documentos da mãe – Renata. Nesse momento, ainda segundo o jovem relatou à polícia, Thiago, na tentativa de encaminhar a conversa dos dois para um terceiro, a reencaminhou, por engano, ao próprio cunhado, com quem conversava. Ao perceber o erro, o marido de Elizamar apagou a mensagem imediatamente.
11/1 – Após tentativas frustradas de falar com a namorada e de entregar os documentos da sogra, o jovem pediu para que Thiago enviasse a ele uma localização para que pudesse deixar os pertences de Renata. Thiago, então, o respondeu com a localização da casa onde mora, em Santa Maria. Contudo, e novamente, outra intercorrência atrapalhou o plano. Essa, segundo o rapaz, foi a última vez que conseguiu conversar com o cunhado.
Dias depois, tentou contatar novamente Thiago, mas não teve retorno. Por isso, resolveu ir até a casa onde vivia Gabriela, mas nada lá encontrou.
12/1 – Elizamar desaparece com os filhos após dirigir até a casa do sogros para buscar o marido Thiago.
13/1 – Ao não conseguir contatar a mãe, a filha de Elizamar consegue conversar com Thiago. Segundo a menina, o padrasto teria dito que “teve uma discussão com a esposa” e que ela teria ido embora sem ele. Conforme o depoimento, Thiago teria dito, ainda, que estava “arrumando as coisas para viajar com o pai”.
13/1 – Carro de Elizamar, um clio preto, é encontrado carbonizado com quatro corpos dentro na rodovia GO-436, Km 69, localizado em Luziânia-GO.
13/1 – Núbia, irmã de Renata – sogra de Elizamar – disse que a mulher mandou um áudio no grupo da família, por volta das 21h, informando que estava em um evento conhecido como vaquejada e que retornaria para casa no dia seguinte (sábado).
14/1 – Filho de Elizamar registra o desaparecimento da mãe e dos três irmãos mais novos: os gêmeos Rafael e Rafaela da Silva, 6 anos, e Gabriel da Silva, 7.
14/1 – Um Siena, em nome de Marcos Antônio, é encontrado carbonizado com duas pessoas dentro na BR-251, altura de Unaí (MG).
15/1 – Núbia registra boletim de ocorrência indicando o desaparecimento da irmã, Renata, do marido dela, Marcos Antônio, e dos filhos do casal, Gabriela e Thiago.
15/1 – Inteligência da Polícia Civil de três estados cruza dados de boletins de desaparecimentos registrados e placas de carros carbonizados.
16/1 – Boletim de ocorrência é registrado indicando o desaparecimento de Cláudia Regina Marques de Oliveira e Ana Beatriz Marques de Oliveira.
17/1 – Polícia prende dois suspeitos: Gideon Batista de Menezes, 55 anos, e Horácio Carlos Ferreira Barbosa, 49 anos.
17/1 – Suspeitos apontam Marcos e Thiago como mandantes dos assassinatos. Segundo os criminosos, as mortes teriam sido motivadas por R$ 500 mil.
17/1 – Polícia prende Fabrício Silva Canhedo, 34 anos, terceiro envolvido no crime.
18/1 – Polícia diz que corpos encontrados em carro carbonizado em Unaí são de mulheres.
18/1 – Corpo é encontrado em cativeiro onde parte de integrantes da família era mantida em cárcere.
18/1 – PCDF descarta envolvimento de pai e filho em chacina de família.
19/1 – Corpos encontrados em carro carbonizado em Luziânia são de Elizamar e três filhos.
19/1 – Corpo encontrado em cativeiro é de Marcos Antônio, sogro de Elizamar.
21/1 – Polícia identifica um quarto suspeito na Chacina: Carlomam dos Santos Nogueira, 26 anos – considerado foragido.