Bessa após agressão: “Não faça o que eu faço. Faça o que eu digo”
O ex-deputado federal diz ter “pavio curto” e, por isso, não anda armado: “Este ano, eu não tinha dado nenhuma briga”
atualizado
Compartilhar notícia
Depois de protagonizar cenas de agressão com o porteiro de um condomínio em Águas Claras, o ex-deputado federal Laerte Bessa (PL) afirmou que não anda armado por reconhecer a natureza agressiva. “Eu estouro, não tem jeito. Depois de velho, não dá para mudar. Sou assim desde menino”, disse. “Eu educo minhas filhas, meu neto sob o princípio: não faça o que eu faço. Faça o que eu digo”. A agressão foi filmada por câmeras de segurança e pelo próprio funcionário, e noticiada pela coluna Grande Angular.
“Eu não uso arma. Se saísse com ela na rua, esse trânsito do jeito que é, eu iria dar tiro toda hora. Mas eu me controlo. Este ano, eu não tinha dado nenhuma briga”, contou o ex-diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) na gestão Roriz.
Sobre as agressões, Bessa (foto em destaque) reafirmou ter exagerado. “Errei e reconheço. Eu vou, no momento certo, pedir desculpas tanto para ele [porteiro] quanto para o síndico. Mas eles têm que reconhecer que estão errados também, porque me provocaram antes para eu chegar nessa situação”.
O policial civil aposentado se irritou porque o porteiro não permitiu a entrada de um motoboy com delivery na noite dessa terça-feira (12/11/2019). A confusão chegou ao responsável do condomínio, que também sofreu agressões. O subsíndico, que é policial militar, foi uma das testemunhas do fato.
Regra das 23h
O ex-parlamentar critica a regra de um entregador não poder entregar comida nos apartamentos depois das 23h. “Se o cara quiser fazer um assalto, ele faz à hora que quiser”, opinou Bessa. Ele conta que chegou de Goiânia com fome e tarde da noite, por isso fez o pedido. “Fui recepcionado pelo porteiro, muito mal-educado. Ele me ligou e falou desaforo, me desrespeitou. Desci com o estopim à flor da pele”, lembra.
“Ele disse: ‘Você não lê regra, não?’. Eu lá leio regra de condomínio? Não me interesso em participar de reunião de condomínio”, apontou o ex-parlamentar.
Agora, afirmou que participará das reuniões para tentar derrubar normas como a que impede a entrega de comida depois das 23h. “Nunca tive interesse em participar de reunião de condomínio. Apesar de ser político, não tenho amigo aqui dentro. É meu sistema de vida, meu jeito de ser. Cada um cuida da sua vida, aqui dentro”, revelou.
Bessa sublinhou que não atiraria no porteiro e nunca teve desentendimentos no condomínio. Entretanto, relembrou que o “pavio curto” já rendeu pelo menos cinco processos enquanto era deputado federal.
O porteiro do condomínio precisou ser afastado das funções. O funcionário saiu do Distrito Federal por alguns dias, informou ao Metrópoles um dos responsáveis pela empresa de segurança do prédio. O caso foi registrado na 21ª Delegacia de Polícia (Pistão Sul).
As imagens mostram o ex-diretor-geral da PCDF na gestão Roriz nervoso e partindo para cima do trabalhador. Em determinado momento do bate-boca, ele ameaça: “Vou te dar um tiro na cara”.
Outros moradores
A reportagem conversou com diversos moradores do condomínio, e todos criticam a atitude do ex-deputado. “Para um policial, que deveria proteger a sociedade, pior ainda. Aposentado ou não, a função é proteger e não ameaçar. Estou sem palavras para descrever essa situação”, afirmou Elisiane Lima, moradora do prédio há cinco anos.
“Regras são regras, e é até uma questão de segurança para o próprio morador essas normas do condomínio. Estou abismada”, opinou Ana Luiza Rodrigues, moradora do prédio e recepcionista. De acordo com outras pessoas, a relação entre moradores e funcionários sempre foi marcada pelo respeito.
“A rotina do dia a dia acaba aproximando. A funcionária que fica na portaria durante o dia chama todos pelo nome. As crianças que passam pela recepção, inclusive meu filho, estendem o braço para ela. Chega a ser uma relação de carinho”, conta um morador que preferiu não se identificar. Quanto à proximidade com Bessa, os vizinhos que conversaram com o Metrópoles afirmaram não ter contato. “Nunca o vi nas áreas em comum, nem mesmo no elevador”, disse o mesmo morador.