Baixo estoque ameaça exames de coronavírus na Secretaria de Saúde
Documento obtido pelo Metrópoles revela que sondas e reagentes devem durar mais 40 dias. Isso se não houver aumento na procura
atualizado
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Em meio aos riscos de uma possível epidemia do coronavírus, o Laboratório Central (Lacen) da Secretaria de Saúde do DF corre o risco de ficar desabastecido de insumos para a realização de exames. Até a noite de sexta-feira (28/02/2020), seis casos estavam sendo investigados como suspeitos no Distrito Federal, segundo o subsecretário de Vigilância Epidemiológica do DF, Divino Martins.
Documento obtido pelo Metrópoles revela que a unidade de referência tem 25 itens com estoque abaixo do exigido – entre eles, sondas e, até, reagentes. Esses produtos são essenciais para a realização de diagnósticos não apenas do coronavírus, mas de outras doenças respiratórias.
Ainda segundo o comunicado, a estimativa para o término do estoque de reagentes do Laboratório Central “gira em torno de 40 dias”, caso o ritmo de trabalho permaneça como está até agora, o que é pouco provável em função do aumento de ocorrências.
O trabalho laboratorial é fundamental para confirmar ou descartar casos do coronavírus, doença que tem atraído o alerta mundial, e de outras contaminações, como a influenza A (H1N1). É o Núcleo de Virologia do Lacen o principal responsável no DF pelo diagnóstico de vírus respiratórios causadores de todas essas doenças, inclusive de gripes e resfriados.
“Essa é uma doença de aspecto sazonal e o pico de sua incidência vai até julho, englobando o inverno, período em que aumenta a circulação de vírus, resultando em maior número de casos”, explica o documento.
De acordo com o memorando, o abastecimento de insumos essenciais para a realização dos diagnósticos era realizado pelo Ministério da Saúde, mas, desde setembro de 2017, tem sofrido problemas recorrentes. Desde então algumas sondas e primers [item usado para detecção de surtos, como meningite, zika entre outros] foram adquiridos por meio de recursos obtidos de projetos elaborados entre servidores e universidades.
“A partir de 2017, o ministério abriu um processo para novas aquisições que não vingaram e ainda continuam com dificuldades. O próprio Lacen abriu processo de compra, mas que fracassou neste período”, frisa o Núcleo de Virologia no comunicado.
Durante uma situação de necessidade, a pasta recorreu à verba do Programa de Descentralização Progressiva de Ações de Saúde (PDPAS), medida criada para que centros e postos de saúde, unidades de pronto atendimento (UPAs) e hospitais tenham autonomia financeira para realizar compras emergenciais de insumos necessários para o bom funcionamento do local.
Interrupção
Em 2019, o recurso do programa chegou a ser utilizado para a aquisição de três sondas, mas os materiais são caros e ultrapassam o limite de R$ 8 mil, valor permitido por item pela modalidade. “Já é sabido que, em pouco tempo, o número de amostras a serem analisadas vão ter aumento progressivo, principalmente com o advento do coronavírus [COVID-19]”, alerta o documento.
Os testes são realizados em todos os pacientes com sintomas respiratórios que tenham tido contato com alguém infectado ou viajado para uma região onde há transmissão da doença, como China e Itália. Esse procedimento é realizado, a princípio, para descartar outras enfermidades que reagem com sintomas parecidos aos do coronavírus.
A metodologia faz pesquisa de todos os vírus presentes em uma amostra de mucosa humana e permite o diagnóstico para saber qual micro-organismo está em ação. Caso os vírus conhecidos não sejam detectados, a Secretaria de Saúde encaminha as amostras também para o Ministério da Saúde, que tem como referência o Instituto Adolfo Lutz, localizado em São Paulo.
Procurada, a Secretaria de Saúde informou que, nos próximos dias, “o processo para aquisição de sondas, primeiramente, será aberto para ampla concorrência. Isso deve abastecer os estoques por mais um ano para os diagnósticos de vírus respiratórios”, informou.
Casos suspeitos
Em entrevista coletiva na tarde de sexta-feira (28/02/2020), o Ministério da Saúde atualizou o número de casos suspeitos em território nacional: até então, 182 estavam em apuração, um, confirmado, e 71, descartados. Desse último boletim para cá, foram iniciadas as investigações de 50 novas ocorrências suspeitas.
Há casos em análise em quase todas as regiões do país, exceto nos estados do Norte do Brasil. Segundo o secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, o crescimento era esperado. Na quinta (27/02/2020), 213 notificações aguardavam processamento para avaliar se os pacientes entrariam na categoria de suspeitos.