Ausência de acusado de feminicídio no DF ameaça a realização de júri
Alexandre Marciano Ribeiro matou a facadas a professora Rozane Costa, em dezembro, no Riacho Fundo 2, mas está preso no Rio desde então
atualizado
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A Justiça do Distrito Federal determinou que Alexandre Ribeiro (foto em destaque), acusado de matar a ex-companheira Rozane Costa a facadas no Riacho Fundo 2, em dezembro do ano passado, vá a júri popular na semana que vem. No entanto, a família da professora assassinada teme que o julgamento não ocorra na data, pois o réu está preso no Rio de Janeiro.
O feminicida, que é auxiliar de cozinha, fugiu do DF após matar a noiva. Ele foi encontrado dois dias após cometer o crime, em 14 de dezembro, no bairro carioca de Madureira.
Após monitoramento feito pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), investigadores do Rio de Janeiro cumpriram mandado de prisão preventiva contra Alexandre, determinado pela Vara do Júri do Riacho Fundo. Porém, quase um ano após o crime, a transferência ainda é aguardada.
Com a proximidade da data do júri popular, marcado para o dia 17 de outubro, os parentes de Rozane acreditam que a ausência do acusado impeça que o julgamento ocorra.
“O que nos deixa muito intrigados é não saber porque ele ainda não foi transferido para cá. O juiz já solicitou três vezes que ocorra o recambiamento, já era pra estar ele estar em Brasília. Nosso medo é que o julgamento seja adiado”, disse Elaine Costa, 46 anos, irmã da vítima.
“A gente quer que isso tenha um fim, que ele seja punido e a gente consiga descansar. Toda vez que tem alguma movimentação no processo, gera gatilhos para a família”, lamenta a irmã.
Segundo Elaine, que também é professora, desde o início deste ano havia a previsão de que Alexandre fosse transferido para o DF.
O último pedido para que ele fosse recambiado para a capital foi feito para a Divisão de Capturas e Polícia Interestadual (DCPI), em 17 de agosto, com urgência.
“É profundo o pedido de socorro. Tudo tem nos abalado bastante. A vida de ninguém da família foi a mesma, ainda mais a do filho mais novo de Rozane. O que a gente pode fazer pela nossa irmã é lutar pela Justiça”, ressalta Elaine.
O crime
O casal estava junto desde junho de 2022, mas Alexandre se mudou para a casa de Rozane cerca de três meses antes do crime. Os dois planejavam se casar em 2023.
Em 11 de dezembro último, Alexandre chegou à casa da vítima, na QN 21 do Riacho Fundo 2, por volta das 16h, e matou a mulher com golpes de faca. Ele deixou o endereço na madrugada do dia seguinte.
O filho mais novo da vítima, um menino de 13 anos, presenciou o momento em que a mãe foi esfaqueada. A filha mais velha de Rozane, uma universitária de 22 anos, estudava medicina na Argentina e tinha chegado ao Distrito Federal recentemente, para passar o Natal com a mãe.
A criança desceu do prédio e pediu socorro ao porteiro após ver a mãe ser atacada pelo noivo. Antes de o socorro chegar, uma vizinha que é enfermeira tentou estancar o sangramento no abdômen de Rozane, mas a vítima não resistiu aos ferimentos.
“O filho dela tem dias que não dorme. Ele está tendo acompanhamento psicológico, mas é muito difícil para ele. E a filha mais velha acabou voltando a morar de vez no Brasil, não teve condições de estudar fora. A família se uniu para conseguir aguentar o luto”, conta Elaine.
Alexandre era sobrinho da esposa de um tio de Rozane. O agressor e a vítima tinham se conhecido no mesmo ano em que ocorreu o crime.
“Ela era uma das pessoas mais cuidadosas do mundo. Nunca deixou ninguém frequentar a casa dela sem conhecer. Dias antes de morrer, ela havia comentado que tinha notado um comportamento ciumento por parte dele, e que ia ficar atenta para sair do relacionamento, caso fosse preciso”, ressalta a irmã.
Para a família da vítima, fica uma saudade inconsolável da mulher querida por todos que conviviam com ela. “Rozane tinha muito a agregar na sociedade. Ela tinha saúde mental e física. Amava a profissão dela e ajudar as pessoas”, destaca.
A irmã relatou ainda que a vítima nunca havia se queixado de qualquer tipo de agressão por parte de Alexandre. Apesar disso, a Rozane o considerava “extremamente ciumento”.
“Rozane não podia usar roupas curtas, e o companheiro reclamava se ela trocava de roupa com as janelas do apartamento abertas. Eram episódios de ciúmes sem agressividade”, frisa Elaine.
Defesa pede para adiar julgamento
Nesse domingo (8/10), a defesa do acusado protocolou uma petição para que a data do julgamento seja adiada. Além disso, pede a reavaliação da decisão de transferir o acusado para Brasília, indicando a possibilidade de que o júri ocorra por meio de videoconferência.
Há ainda uma solicitação para declarar que a defesa técnica do acusado não foi eficaz e que todos os atos processuais realizados até o momento pela Defensoria Pública sejam considerados nulos, devido à alegação de que a defesa não cumpriu adequadamente seu papel ou não respeitou os princípios legais.
“O fato de que a prisão é preventiva, mas a transferência se torna descabida, pois o mesmo, caso seja condenado, terá que ser transferido novamente para o estado do Rio, como medida de Ressocialização. Nesta ótica, fica claro mais uma vez a ineficácia dos atos praticados, pela douta defensoria, uma vez, que [nem] sequer fora informado, o fato da vida do acusado, que se dá como necessária a permanência do acusado em sede do juízo do Rio de Janeiro, bem como, se caso for em um possível cumprimento de pena, a necessidade desta ser cumprida na comarca onde o réu reside”, alegou a defesa de Alexandre.
O que diz a Justiça
Procurado pela reportagem, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) informou que o julgamento está confirmado para o dia 17 de outubro, e que todas as providências para a realização da sessão foram tomadas.
No entanto, não foi confirmado quando o réu será recambiado para ser julgado na capital federal.