Áudios de Jessyka: “Quando sabemos que vamos morrer, sentimos medo”
Em mensagens gravadas no WhatsApp, moça assassinada na sexta pelo ex detalhou ameaças e violências sofridas após romper namoro com policial
atualizado
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Após o crime bárbaro que chocou moradores do Setor O, em Ceilândia, nessa sexta-feira (4/5), a mãe de Jessyka Laynara da Silva Souza, jovem morta com cinco tiros disparados pelo soldado da Polícia Militar Ronan Menezes, conversou com o Metrópoles. Muito emocionada, a técnica de enfermagem Adriana Maria da Silva, 39 anos, definiu a filha como “a melhor pessoa do mundo”.
Ela relembrou as ameaças constantes que a moça sofria por parte do militar, com quem namorou durante seis anos. “Ele mandava áudios ameaçando [a moça]. Era muito ciumento. No dia 31 de abril, ele me ligou, dizendo que iria matar a Jessyka. Se ela tentasse fugir, mataria a família inteira”, contou Adriana.
Em áudios que Jessyka encaminhou a uma amiga, ela relata uma das agressões cometidas por Ronan. “Eu só pensava em segurar a mão dele, pois veio com a arma e colocou na minha cabeça. Estava com medo, pois quando sabemos que vamos morrer, sentimos medo. Em momento algum tentei revidar”, disse a vítima.
Em outro momento, a jovem conta que era perseguida por Ronan: “Ele vivia me pressionando e pedindo para voltar. Me ligava todos os dias. Acho que sou uma pessoa muito boa, pois não consigo sentir raiva dele. Não sinto nada”.
Ouça os relatos de Jessyka sobre as ameaças de Ronan:
Para a amiga, Jessyka também detalhou um dos momentos de maior tensão que passou com o rapaz. “O pai dele dizia que eu era muito omissa por não fazer nada. Eu não queria denunciar ou prejudicar ele. Não tenho mais coragem de ficar com ele sozinha. Ele chegou a disparar um tiro no chão”, afirmou a moça, recentemente aprovada em uma seleção para o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal.
Falei para ele que outra pessoa, no meu lugar, teria denunciado [as agressões]. Não consigo andar ou mastigar. Levei tantos chutes no estômago… Meu corpo está todo marcado. Ele arrancou sangue, começou a escorrer no meu corpo inteiro. Encharquei uma toalha e uma fralda de sangue
Jessyka Laynara da Silva Souza, sobre as agressões do PM Ronan Menezes
A família pede que a justiça seja feita e o militar pague pelo crime. “Ele é um covarde. Deu dois tiros no peito dela e um nas costas. Quero que pague pelo que fez, mas nem 100 anos de cadeia vão trazer a minha filha de volta”, disse a mãe da moça.
Segundo a família, as investidas do policial contra a jovem ficaram mais constantes e violentas após ela passar em concurso do Corpo de Bombeiros: ele não queria que a moça trabalhasse, ainda mais em um ambiente no qual também teria contato com outros homens.
Elaine Maria, 59, é vendedora e tia de Jessyka. De acordo com ela, há 15 dias, a sobrinha foi agredida e, mesmo com o pedido da família para que denunciasse o ex-namorado, não o fez. “Ele deu uma coronhada na cabeça dela. Machucou os braços e as costas da minha sobrinha. Ela não denunciou, por medo que ele fizesse algo. Infelizmente, aconteceu o que vocês já sabem”, lamentou.
O sepultamento do corpo de Jessyka será realizado na manhã deste domingo (6/5), no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga.
Prisão
Na noite de sexta (4), Ronan Menezes se apresentou no 10º Batalhão da Polícia Militar de Ceilândia, onde era lotado. De lá, seguiu à 24ª Delegacia de Polícia (Setor O) para autuação pelos crimes de homicídio e tentativa de homicídio – este último cometido contra o professor Pedro Henrique da Silva Torres, 29, que foi alvejado com três tiros e está hospitalizado.
Ronan ficou calado durante todo o depoimento. Ao deixar a 24ª DP, foi encaminhado à Papudinha, dentro do Complexo Penitenciário da Papuda, onde permanece detido, à disposição da Justiça.