Atentado a bomba: veja 5 mentiras ou contradições contadas por condenado à CPI do DF
Alan Diego dos Santos deu versões diferentes sobre revólver, vinda a Brasília e deputado em QG, além de mentir sobre outros temas
atualizado
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Um dos primeiros condenados por atos antidemocráticos em Brasília após a eleição de Lula (PT), Alan Diego dos Santos protagonizou um depoimento que mesclou contradições e mentiras na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Atualmente preso pela tentativa de explodir uma bomba na área do aeroporto, ele depôs na última quinta-feira (29/6), em uma sessão que pode não ter tido, ainda, um fim.
O Metrópoles levantou ao menos cinco afirmações de Alan Diego na CPI que podem ser enquadradas como mentiras ou, ao menos, contradições. O depoente, que logo no início disse que não precisa e nem pode mentir, chegou a dar duas versões diferentes sobre um revólver, por exemplo.
O bolsonarista fazia várias publicações no Instagram contra o resultado das urnas, com frases como “está chegando a hora”, postada no dia em que a bomba foi colocada em um caminhão-tanque, e a hashtag “patriotas”. Em um dos posts, publicou a foto de uma arma. Questionado duas vezes, disse primeiro que aquela era uma “foto da internet”.
“Isso é foto da internet. Tenho nem dinheiro para comprar uma arma dessa”, disse, na primeira pergunta. Após algumas horas de depoimento, novamente questionado, deu outra versão. “Fui à uma casa de armas, em Rondônia, porque estava vendo armas para meu porte. Essa arma estava lá, eu peguei e tirei essa foto. Nem tenho dinheiro para comprar uma arma dessa. Ela é uma 556, pistola, ruger, R$ 37 mil. Tirei a foto e só postei.”
Apesar de não ser possível afirmar que ele realmente não teria essa quantia em dinheiro, cabe ressaltar que, em 2016, quando Alan Diego quis se eleger vereador de Comodoro (MT), mas acabou desistindo, ele declarou ter R$ 203 mil. Constava na declaração de bens um valor de R$ 20 mil em espécie, além de R$ 40 mil de um terreno.
Vinda a Brasília e bomba
O bolsonarista veio a Brasília em novembro de 2022. À Polícia Civil, afirmou que “veio se manifestar contra as eleições de 2022 e tentar receber o código-fonte” das urnas. À CPI, mais uma contradição: “Vim mais para passear. Meu sonho era conhecer Brasília, aí, aproveitei a caravana. Existiam várias pessoas que pensavam de várias formas, mas eu vim mais ‘no’ turismo mesmo”, comentou.
Um mês depois de chegar à capital, Alan Diego dos Santos colocou uma bomba em um caminhão-tanque na área do Aeroporto de Brasília, a mando, segundo ele, de George Washington de Oliveira Sousa, que teria conhecido no acampamento no Quartel-General do Exército.
O presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), perguntou ao depoente: “Você sabia que o Aeroporto de Brasília poderia ter ido pelos ares?”. Alan negou: “Ninguém colocou [a bomba] no aeroporto”. Mas, minutos depois, detalhou o nome da concessionária onde estava o caminhão-tanque. A empresa fica, sim, na área do aeroporto.
Deputados no QG e Congresso Nacional
Durante o tempo em que ficou em Brasília, o apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ficou no acampamento no QG e em uma pousada. Deputados questionaram se ele teria visto algum parlamentar em frente ao Quartel-General. Primeiro, o depoente disse que não. Depois, chegou a dizer que viu o distrital Fábio Felix (PSol). “Já presenciei o senhor passando lá no QG”.
A afirmação levou os deputados ao riso. Fábio teve uma das maiores votações da história entre distritais, é bastante conhecido da população do DF e notadamente alinhado à esquerda. No acampamento, bolsonaristas chegaram a agredir, mais de uma vez, pessoas que julgavam não ser apoiadores do ex-presidente.
Outra afirmação nitidamente falsa veio quando Alan Diego foi questionado se já teria ido à liderança no Podemos, quando visitou o Congresso Nacional. “Não tenho essa lembrança” e “não fui na liderança do Podemos”, respondeu. Ele foi desmentido pela exposição de um documento de acessos à Câmara que mostra essa visita às 14h34 do dia 6 de dezembro de 2022.
Oitiva com desdobramentos
Outro motivo para aquela sessão da CPI ainda não ter acabado é a discussão entre a presidência da Comissão e os advogados do bolsonarista, que surgiram em cima da hora, argumentando que estariam prestando o serviço “de graça” e interferindo em respostas de Alan. Até o depoente precisou pedir que não fosse interrompido, em determinado momento.
Houve uma discussão mais ríspida entre Chico Vigilante e os defensores. A seccional de Brasília da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) pediu que o distrital “se retrate publicamente das ofensas”, mas ele não só negou o pedido como solicitou que a conduta ética deles seja investigada.
Chico Vigilante perguntou a Alan quem pagou os advogados. O cliente deu duas respostas distintas, dizendo primeiro que não sabia e depois que “foi doado” por eles. O bolsonarista também pode ser ouvido novamente, em uma sessão secreta, já que declarou que tinha informações que não gostaria de passar enquanto estava sendo filmado.
Enquanto isso, uma possível medida mais drástica seria uma ação semelhante ao que aconteceu na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI). Parlamentares protocolaram no Ministério Público Federal uma notícia-crime contra o depoente Jean Lawand, coronel do Exército, por crime de falso testemunho na oitiva, após concluírem que ele mentiu.