Ataques e falta de focinheira: ocorrências com cães sobem 43% no DF
Desde janeiro até 28 de julho deste ano, a PCDF registrou 273 ocorrências do tipo. Já em 2019, nos primeiros 7 meses, foram 190 episódios
atualizado
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Em dois anos, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) registrou um aumento de 43,6% nas ocorrências referentes à omissão de cautela na guarda ou condução de cachorros na capital do país. Desde janeiro até a última quinta-feira (28/7), foram 273 casos. Já em 2019, nos primeiros sete meses, foram registrados 190 episódios.
As ocorrências policiais dizem respeito aos casos em que o tutor deixa em liberdade, confia à guarda de pessoa inexperiente, ou não guarda com a devida cautela um animal perigoso. Também há ocorrências relacionados a tutores que excitam ou irritam o animal, expondo a perigo a segurança alheia e aqueles que conduzem um animal, em via pública, de forma a colocar em perigo a segurança alheia.
Nessas ocorrências, destacam-se as que foram registradas devido aos ataques causados por cães e pela ausência do uso de coleira ou focinheira nos pets. A pena para os responsáveis pelos animais pode chegar a dois meses de detenção, além de multa.
A lei distrital nº 19.988/1998 traz medidas para garantir a integridade física das pessoas ao proibir a permanência de animais soltos em vias públicas, possibilitando, porém, que cães transitem nesses locais com coleira e guia, desde que conduzidos por pessoas que tenham condições de controlá-los.
Quanto ao uso da focinheira, a norma define que cães de grande porte, de raças destinadas a guarda ou ataque, devem usar focinheira quando em trânsito por locais de livre acesso ao público.
Ao contrário do que a reportagem apurou inicialmente, o órgão responsável por fiscalizar o uso dos objetos não é o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), mas sim compete as administrações regionais atuar na supervisão do uso de focinheira conforme o disposto no regulamento, em conjunto com órgãos sanitários.
Para o veterinário e especialista em comportamento animal Délio Mendes, um dos principais pontos que devem ser avaliados é o perfil da raça do cão. “Em alguns casos, vemos que as pessoas procuram cães impróprios para convivência. Por isso, a importância de que esses cães tenham acompanhamento com um profissional comportamental para condicioná-lo a viver em sociedade, além de que o dono também procure conhecer a conduta do animal”, destaca.
Segundo Délio, algumas características do cachorro podem sinalizar perigo. “Algumas raças já têm tendência a serem mais raivosas. O cão que pretende atacar, rosna quando se aproxima de outro animal, enrijece os pelos e levanta o rabo. Normalmente, ele também corta a respiração e fica estático, com o olhar fixo aonde pretende avançar”, comenta.
A advogada do Fórum Animal da Ordem dos Advogados do Brasil secção Distrito Federal (OAB-DF), Ana Paula Vasconcelos, avalia que no DF o uso da focinheira é pouco fiscalizado e praticado pelos responsáveis dos caninos. “É uma medida simples que pode evitar muitos problemas. O uso garante a segurança não só daquele animal como de outros que circulam próximos a ele, além da proteção das pessoas. Nesses casos o bom senso deve prevalecer”, ressalta.
“O animal nunca é o responsável, mas sempre acaba sendo o vilão. A guarda responsável garante que a pessoa tem condições de entender a natureza do cachorro de modo a ter domínio sob ele e saber lidar com o canino em momentos de estresse”, acrescenta Ana Paula.
Ataque brutal
No último dia 19, um cachorro da raça galgo-africano atacou e matou um yorkshire na Quadra 204 da Asa Sul. O tutor do cão de pequeno porte tentou impedir a fatalidade, mas não conseguiu.
O responsável pelo cão maior, o diplomata do Itamaraty João Carlos de Oliveira Morégola, tentou puxar o animal pela coleira enquanto a vítima continuava sendo mordida, mas não conseguiu. Segundo testemunhas, em determinado momento, ele teria soltado a guia do cachorro.
O tutor do yorkshire se jogou no chão na tentativa de apartar a briga e teve a mão mordida. A violência da mordedura quebrou e arrancou o pedaço de um dos dedos do senhor. Outras pessoas, que presenciaram o ataque tentaram socorrer o pet, mas também não tiveram sucesso.
Conforme o relato de testemunhas, o tutor do galgo teria ficado parado, apenas observando a fúria do cão, sem tomar qualquer providência. O diplomata teria inclusive enviado “beijinhos” para uma das testemunhas.
O Metrópoles apurou que o diplomata disse à policia que os cães estavam com guias e só reagem se provocados. Sobre isso, o tutor do cão de grande porte teria dito que animais pequenos têm o hábito de provocar os maiores.
Cão da família
Duas jovens, de 16 e 18 anos, lutaram pela vida no setor de chácaras Sucupira, no Riacho Fundo 1, ao serem atacadas por uma cadela da raça pit-bull. A investida começou quando a jovem tentou defender a irmã mais nova das mordidas do cachorro. As duas conseguiram escapar do animal e ficaram trancadas em casa até a chegada do Corpo de Bombeiros do DF.
As irmãs tiveram mordidas nos joelhos, nas pernas, nos braços e nas mãos. Quando os militares chegaram ao local, a cadela estava solta no quintal em frente à casa, impedindo o atendimento das jovens feridas. Após várias tentativas, os bombeiros conseguiram confinar a pit-bull nos fundos da residência.
Segundo as vítimas, o animal havia sido adotado pelo pai das jovens, que não se apresentou às autoridades. A Polícia Militar do DF apreendeu o animal para segurança da família.