Assassino teria fingido ser motorista de lotação para atrair Letícia
Polícia investiga se cozinheiro fez outras vítimas no DF com o mesmo modus operandi. Ele confessou a morte de funcionária do MEC
atualizado
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A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) apura se o cozinheiro desempregado Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos, fingiu ser motorista de transporte pirata para atrair e matar outras mulheres, além de Letícia Sousa Curado, 26, funcionária terceirizada do Ministério da Educação (MEC). De acordo com o delegado-chefe da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), Fabrício Augusto Machado, não estão descartadas as suspeitas de que Marinésio tenha sido o autor de crimes semelhantes.
“Buscamos outras ocorrências cujo modus operandi se assemelha muito a este: pessoas do sexo feminino que desapareceram após serem abordadas em paradas de ônibus. Mas ainda é tudo muito superficial”, afirmou, em coletiva de imprensa na tarde desta segunda-feira (26/08/2019).
Ainda segundo Machado, há a possibilidade de a vítima ter sido abusada sexualmente. “Na carona que deu para ela, Marinésio parou o carro na DF-130 e teria perguntado se havia a possibilidade de os dois terem uma relação sexual, dando início a uma discussão. Ela começou a gritar e, naquele momento, segundo o relato dele, ele a teria esganado.”
Machado ainda não definiu os crimes pelos quais o assassino confesso responderá, mas fontes policiais informaram o Metrópoles de que, a depender das apurações, o suspeito pode ser indiciado por feminicídio, roubo, ocultação de cadáver e, se a perícia confirmar, violência sexual e estupro.
Marinésio foi preso nesse domingo (25/08/2019), dois dias após o desaparecimento de Letícia. De acordo com fontes policiais, o suspeito levou os investigadores ao local do crime. O cadáver estaria dentro de uma manilha perto da fábrica de sementes Pioneer, na DF-250.
À PCDF, Marinésio teria dito que conhecia a vítima de vista. Relatou ter parado no ponto de ônibus e oferecido carona para a jovem até a rodoviária do Paranoá. Ela teria aceitado e, no caminho, o homem supostamente assediou Letícia, que recusou a investida.
Marinésio, então, teria esganado a funcionária do MEC até a morte e desovado o corpo dela em manilha situada às margens de uma estrada que fica na região do Vale do Amanhecer, em Planaltina. Após matar a mulher, confessou ter furtado os pertences pessoais de Letícia, segundo fontes da PCDF. A movimentação de policiais e familiares da vítima no local era grande por volta das 16h30.
Há imagens do circuito de segurança que mostram Letícia entrando no veículo do acusado em uma parada de ônibus no Setor Arapoanga, após uma rápida conversa entre eles, de 10 segundos, na manhã de sexta-feira (23/08/2019).
O delegado Fabrício Paiva, chefe da 31ª DP (Planaltina), informou que a funcionária do MEC foi sozinha até a parada de ônibus, de onde seguiria para o trabalho, na Esplanada dos Ministérios. Ela havia combinado de almoçar com a mãe por volta das 12h. Como Letícia não apareceu, a família começou a ligar e mandar mensagem para a jovem.
“Ela não respondeu mais e as mensagens pararam de chegar ao celular da vítima”, disse o delegado. Por volta das 18h dessa sexta-feira, o professor de educação física Kaio Fonseca, marido de Letícia, foi à 31ª DP para denunciar o desaparecimento. A partir daí, a polícia começou a verificar onde a funcionária do MEC poderia estar. Trabalharam com algumas hipóteses – entre elas, surto psicológico e sequestro.
Na manhã de sábado (24/08/2019), os investigadores conseguiram imagens do circuito de segurança da região de onde Letícia tinha desaparecido, em Planaltina. Uma vizinha relatou que teria visto a advogada entrando em um veículo – que seria um Gol de cor branca.
A polícia foi atrás da informação, mas não achou o carro citado pela testemunha. Quando os investigadores excluíram essa possibilidade, passaram a ver novamente as imagens de segurança do comércio local da região, para identificar atitudes suspeitas. Constataram que um veículo de cor prata fez uma parada no ponto de ônibus em que Letícia estava. O automóvel passou no local uma vez, depois retornou.
Ao abordar o suspeito em via pública, que estava em uma Blazer prata de placa JFZ 3420-DF, os policiais encontraram, no porta-luvas do carro, uma bolsa, com fichário e material escolar, além de um relógio – objetos pessoais de Letícia. O celular da advogada estava atrás do banco do veículo. O cozinheiro desempregado afirmou, a princípio, que os itens encontrados foram comprados por ele.
No dia do desaparecimento de Letícia Sousa Curado, Marinésio disse que foi levar a filha ao colégio. Depois, seguiu para a casa da irmã, por volta das 9h50. Não conseguiu explicar, porém, o que fez entre o momento em que Letícia sumiu e esse horário. Com indícios fortes de crime, a polícia conseguiu a prisão temporária do suspeito. O prazo é de 30 dias, podendo ser prorrogado por igual período.
Letícia foi abordada por volta das 7h42 da última sexta-feira (23/08/2019). “Ele [Marinésio] confirma que parou em frente à parada de ônibus, mas nega que Letícia tenha entrado no veículo. Disse que parou para um carro passar. Quando a polícia mostra as imagens, fica calado”, ressaltou o delegado Fabrício Paiva em coletiva de imprensa na manhã desta segunda.
Casado, pai de uma jovem de 16 anos, ele não tinha passagens pela polícia. O carro do desempregado foi periciado. Marinésio disse em depoimento que não faz transporte pirata. Ressaltou, inclusive, não ter emprestado o veículo no dia do sumiço da jovem. No entanto, admitiu ter dado “algumas caronas”.
Único suspeito
O último trabalho de carteira assinada de Marinésio foi há um ano e dois meses para uma empresa terceirizada. O homem mora no Vale do Amanhecer, em Planaltina. “Ele é o único suspeito até o momento”, reforçou o delegado. No carro do suspeito, a polícia encontrou uma nota de R$ 5, o mesmo valor que Letícia pegou com o marido antes de seguir até a parada de ônibus. A última localização do celular da vítima foi na casa do acusado, próximo ao Arapoanga.
“Ela estava vivendo o momento mais pleno da vida dela. Tinha passado até num concurso do STJ [Superior Tribunal de Justiça]. Estava bem, fazendo pós-graduação e tinha conseguido uma bolsa. Estava com um emprego legal, mesmo terceirizada. A mãe já é advogada. São de uma família bem tradicional de advogados. Ela queria seguir a profissão. Era uma menina pobre, mas muito focada e responsável. É muito triste”, disse ao Metrópoles uma amiga da família que preferiu não se identificar.
Na tarde desta segunda-feira (26/08/2019), o presidente da Subseção de Planaltina da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF), Dalton Ribeiro Neves, lamentou a morte da advogada e disse que a entidade pretende atuar como assistente de acusação no julgamento do caso.
“Quando soubemos do desaparecimento, mobilizamos todos os grupos de advogados do Distrito Federal e decidimos acompanhar de perto as investigações do caso. Viemos aqui para conversar com o delegado Fabrício e nos solidarizar com a família da Letícia. Infelizmente, o desfecho foi esse, mas estaremos à disposição dos familiares para o que for preciso”, ressaltou.