“Assassinaram ela”, diz morador após derrubada de árvores no DF
Árvores foram plantadas pelos próprios moradores do Riacho Fundo I, há duas décadas. Novacap alega risco iminente de queda
atualizado
Compartilhar notícia
A derrubada de uma árvore por parte da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), nessa quinta-feira (2/10), gerou revolta em moradores do Riacho Fundo I. A árvore, um guapuruvu, estava no local havia mais de 20 anos e teria sido plantada pelos próprios moradores da quadra QS 14, onde hoje fica a praça Ayrton Senna.
Morador da cidade desde os anos 1990, Milton Felício, empresário de 59 anos, comenta o ocorrido. “Assassinaram a árvore”, lamenta, ressaltando que a espécime era “linda, frondosa e estava com bastantes flores”. Felício ainda descreveu o ato realizado nessa quarta, por uma empresa terceirizada pela Novacap, como “desserviço”.
Para o morador, as justificativas que receberam tanto da Novacap, quanto da Administração Regional do Riacho Fundo I, “não colam”. De acordo com os residentes da quadra, a motivação dada administração pública era de que as árvores estavam com as raízes estragadas e, depois, que a planta poderia cair em cima de uma escola da região. Contudo, a população não teve acesso ao laudo técnico.
Dessa forma, Felício afirma que irá procurar os órgãos competentes para condenar os responsáveis. “Isso não ficará assim, vamos entrar com ação no Ministério Público”, garante. “Temos todo o cuidado e carinho com a cidade, então o Estado não pode nos tratar assim”, avalia, afirmando que só não houve mais derrubadas por causa da interferência da população.
Por sua vez, a Novacap justifica que, antes do corte da vegetação, um laudo técnico foi realizado, onde ficou constatado “risco iminente” de queda, sendo necessário a supressão da árvore. O laudo, contudo, não foi disponibilizado para a reportagem. Ainda, a empresa informa que realizará o plantio de mais de 150 mil mudas de plantas nativas do cerrado no DF em 2020.
A administração regional informou que apenas seguiu as recomendações de laudo técnico, que demonstrou “que a árvore corria o risco de cair devido as chuvas previstas para esse período”. Reiterando que preza pela segurança das pessoas, a autarquia contabiliza ter plantado 1.500 árvores desde janeiro deste ano, com a previsão de plantio de mais 500 mudas, totalizando 2 mil no ano.
Na Asa Norte…
Nessa quinta-feira (1º/10), moradores da SQN 404 também se revoltaram com a possibilidade da derrubada de árvores da quadra, se uniram em torno de uma delas e impediram a ação da Novacap. As árvores em questão ficam em um dos estacionamentos da quadra e o moradores acreditam que alguém pediu a retirada devido à sujeira nos carros.
“Entendemos que podar é bom, mas gostaríamos de apenas um laudo. Uma coisa é podar; outra é passar a serra de vez”, reclamou Jaime Tavares, 32 anos, afirmando que ninguém havia sido avisado da ação.
“É uma árvore que as crianças brincam, tem muito passarinho. Se elas oferecerem algum risco, não tem problema”, contou a empresária Gioconda Bestra, 47. “Estamos tentando entender por que a Novacap está tentando cortar. Elas estão, aparentemente, saudáveis. Eles falaram que vão cortar até o fim do dia”, afirmou.
Em nota, a Novacap informou que “o Departamento de Parques e Jardins (DPJ) da Novacap é o órgão autorizado a podar as árvores plantadas nas áreas públicas do Distrito Federal”. Ainda, nesse caso específico, a companhia afirma que “trata-se de um Guapuruvu (Schizolobium parahyba), espécie de grande porte, com comprometimento fitossanitário (podridão na base), localizada próxima à edificações e em local com considerável circulação/permanência de pessoa”. Além disso, a empresa atribui agravante “ao período de chuva que se aproxima, caracteriza risco de queda com consequências graves”, citando a queda de uma árvore da mesma espécie que danificou o telhado do Ginásio do Cave, em 2019.