Às vésperas de ser desativado, Lixão da Estrutural recebe casamento
O casal decidiu fazer a cerimônia no local onde se conheceu, há pouco menos de um ano. União foi oficializada na tarde desta quinta-feira
atualizado
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A dois dias de ser fechado, o Lixão da Estrutural foi palco de um evento inusitado: um casamento. Os catadores Valdineide dos Santos Ferreira, 62 anos, e Deoclides Nascimento Brito, 38, escolheram o local onde se conheceram, há quase um ano, para celebrar a união. Contaram com a bênção de um pastor e a presença de familiares e amigos.
Nem o mau cheiro dos resíduos nem os mosquitos intimidaram o casal, determinado a celebrar ali, entre o lixo, o amor que os uniu. Por volta das 19h30 desta quinta-feira (18/1), os noivos trocaram juras e votos, aceitando-se como marido e mulher.
Valdineide e Deoclides lutam diariamente contra o preconceito de ganhar a vida recolhendo materiais no maior lixão da América Latina, mas têm a convicção de que o amor superará também a discriminação pela diferença de idade. “Não é fácil, não”, admite o marido. Para Valdineide, a data é ainda mais especial: “Eu já fui deixada na porta da igreja. Desta vez, meu noivo me esperava”.
Veja imagens da celebração:
Apoio dos amigos
O sonho de Valdineide se tornou realidade com a ajuda de servidores da Administração Regional da Estrutural. Cerca de 20 profissionais se mobilizaram para alugar os itens que ornaram o altar improvisado. “Cada um foi pegando uma coisinha. Nós conseguimos uma parceria em um salão, para ela se produzir também”, detalha a chefe do Núcleo de Informática da pasta, Eulete Magalhães de Souza, 35 anos.
Para a noiva, conhecida como Baiana, o segundo maior lixão a céu aberto do mundo foi a fonte de renda dela por mais de quatro décadas. Apesar de ser um dia de felicidade, Valdineide vislumbra o desafio de levar a vida fora do aterro. Segundo a catadora, os cinco galpões que devem ser ocupados por cooperativas de trabalhadores, para tocar a separação do material descartado pelos brasilienses, não são suficientes. “Não cabe todo mundo”, resume.