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As jovens apostas da política brasiliense

Eles falam sobre a interação com o setor produtivo, apostam no empreendedorismo e serão testados nas urnas em 2018

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Aos 56 anos, Brasília vive uma das piores fases de descrença com a política. Em qualquer roda de conversa, haverá alguém para dizer que não confia em seus gestores e representantes escolhidos nas urnas. Motivos não faltam. Em nível nacional, a Operação Lava Jato descortinou um esquema de corrupção que não para de incluir nomes na lista de suspeitos. No DF, a Operação Drácon investiga troca de favores, com suposto pagamento de propinas, em uma das áreas mais sensíveis da cidade: a saúde pública.

Se o ator Roberto Gómez Bolaños ainda estivesse vivo, talvez os moradores da capital pudessem se inspirar no Chapolin Colorado e questionar: “Quem poderá nos defender?” Como salvadores da pátria existem apenas na ficção, os brasilienses terão de confiar no bom senso de uma nova geração que promete trazer mudanças.

Seguindo uma tendência mundial de renovação da classe política, existe uma geração de jovens na capital que se coloca como alternativa. Fora da polarização PT/PMDB, que norteou o DF por décadas, políticos com idade média de 35 anos se vendem como diferentes para acabar com o estigma do “rouba, mas faz”. Mas também não querem entrar para o time do “honesto que não faz”.

O estilo Roriz, Filippelli, Arruda já não é um modelo que eles consideram seguir. Mesmo com os 826 mil votos conquistados em 2014, e uma eleição praticamente garantida, caso dispute para o governo do DF em 2018, o senador José Antônio Reguffe (sem partido) não é citado como exemplo de político ideal. Ele já foi visto como referência pelos jovens, mas nos bastidores esse encanto se quebrou.

A nova geração da política quer ter uma identidade própria. Fala com desenvoltura sobre parcerias com a iniciativa privada, crise econômica, empreendedorismo e diz procurar resultados. No entanto, ainda precisa descobrir uma fórmula que chegue pelo menos perto daquela que Reguffe encontrou. Mesmo familiarizados com os problemas da capital, os jovens não têm expressão política. Entre os ouvidos pelo Metrópoles, se forem somados os votos que receberam nas últimas eleições, não daria 10% do que o atual senador obteve.

2018
O Metrópoles ouviu sete políticos cotados para disputar cargos eletivos em 2018. Dedé Roriz (PSC), Igor Tokarski (PSB), Jaime Recena (PSB), Lucas Vasconcelos (PSDB), Rodrigo Antonello (sem partido), Rômulo Neves (Rede) e Thiago Jarjour (PDT) são nomes a serem avaliados nas urnas. Destes, apenas Tokarski não decidiu o cargo para o qual vai concorrer. 

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Esses jovens nunca foram eleitos. Estão em fase de teste. Todos têm um discurso simpático, propositivo e otimista. Alguns representam setores específicos e três deles fazem parte do governo de Rodrigo Rollemberg (PSB). Em comum, todos brigam por espaço na política brasiliense.

“Estamos em um processo tardio de renovação. O desgaste dos tradicionais partidos da cidade obrigou a uma mudança dos quadros. Agora, o novo perfil estará vinculado a lideranças de setores”, afirmou o cientista político Gabriel Amaral.

A mudança tardia apontada pelo especialista é confirmada pelos registros do Tribunal Regional Eleitoral no DF. Nas eleições de 2014, os candidatos mais jovens tiveram um desempenho tímido. Entre os 979 postulantes a uma vaga para deputado distrital, por exemplo, 213 tinham idade entre 20 e 39 anos. Dos que foram eleitos, nenhum estava na faixa etária dos 20 aos 29. Os quatro mais novos tinham mais de 34.

Para deputado federal, foram 128 candidatos jovens, de acordo com o TRE. Mas, entre os eleitos, o mais novo tinha 44 anos. Antes dessa faixa etária, apenas 25 pessoas de 20 a 39 anos disputaram à vaga para a Câmara Federal. Para a de senador, foram oito postulantes. Todos com mais de 40. O eleito foi José Antônio Reguffe, hoje com 44 anos.

Público específico
Gabriel Amaral avalia que dois fatores influenciarão a entrada de nomes novos em cargos públicos. “O fim do financiamento privado nas campanhas e a quantidade de políticos pulverizados em mais partidos serão fatores determinantes. Esses jovens não serão puxadores de votos, mas, se focarem nas zonas específicas, por meio do coeficiente do partido, poderão entrar”, analisou o especialista.
João Paulo Peixoto, também cientista político, vê dificuldades em encontrar um novo nome que não esteja ligado à atual classe que está no poder. 

O que eles querem
O diplomata Rômulo Neves (Rede), 39, deve ser um dos nomes que concorrerão a deputado federal em 2018. No começo deste ano, ele fez uma aposta ousada para ganhar visibilidade. Participou da edição número 17 do Big Brother Brasil, reality da Rede Globo. Não é um jeito novo de ganhar projeção, mas depois de dois meses dentro da casa “mais vigiada do Brasil”, Rômulo mostrou que virá com discurso disruptivo. Promete ser uma voz feroz em 2018.

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A maior probabilidade é que Rômulo Neves (Rede) concorra para o cargo de deputado federal

Fora do confinamento, ele participou de reuniões e diz que vai voltar ao Palácio do Itamaraty em 17 de abril. Mas continuará as conversas políticas. Rômulo já foi testado nas urnas. Em 2010, foi candidato a deputado federal e teve 1.073 votos.

Entrou no governo de Rodrigo Rollemberg (PSB) para compor um time com a promessa de renovação. Ficou 400 dias como chefe de gabinete e saiu após afirmar que gostaria de fazer parte de um projeto mais horizontal, participativo e democrático. Deixou o Executivo e o PSB para filiar-se à Rede.

Quando questionado se foi para o BBB a fim de apresentar propostas, devolve com outras indagações: “Se você tem a oportunidade de falar para 50 milhões de pessoas, você vai. Por que eu não iria? Quantas pessoas têm essa oportunidade?”

Dentro da casa, jogou politicamente. Mostrou que é bom na arte da persuasão e de estratégia, mas ficou bem longe da disputa final do reality. Na política, acredita que a transparência é uma das primeiras mudanças a serem concretizadas. “Os eleitores precisam saber o que os detentores dos mandatos fazem. Pretendo brigar por uma reforma no sistema político para que o poder da população aumente”, afirmou.

Brasilienses
Entre os entrevistados, os três nascidos na capital são Dedé Roriz, Jaime Recena e Thiago Jarjour. Dedé concorreu a uma eleição, em 2006. Recena já disputou três pleitos e Jarjour tentou uma vaga na Câmara Legislativa em 2014.

Dedé é assessor do senador Hélio José (PMDB) e sucessor na linha do tio Joaquim Roriz, quatro vezes governador do DF. Ele abriu mão de disputar as últimas eleições para apoiar a deputada distrital Liliane Roriz (PTB), mas em 2018 pretende concorrer a uma vaga na Câmara Legislativa pelo PSC.

Embora a família esteja no meio de escândalos políticos, como a condenação da ex-deputada Jaqueline Roriz por improbidade no caso da Caixa de Pandora, Dedé enfatiza: “Quero ser a inovação”. Com uma vida toda voltada para a política, quer absorver as linhas de atuação do tio de “cuidar do povo, atuar com comunidades carentes, com o investimento no setor produtivo para o crescimento de Brasília.”

Arquivo Pessoal
Dedé Roriz (PSC) pretende concorrer ao cargo de deputado distrital em 2018

Teste
Recena e Jarjour são secretários-adjuntos da gestão Rollemberg, e já são testados diariamente dentro de um governo que ainda não conseguiu ser bem avaliado nas pesquisas de opinião e precisa deslanchar.

Jaime quer ser deputado federal. Jarjour, distrital. “Pela primeira vez, Brasília tem uma geração própria. Temos o papel de começar a ser exemplo para os jovens. Mostrar a transformação que a política pode fazer por meio de uma boa gestão”, afirmou Jarjour, que é adjunto na Secretaria de Trabalho.

Aos 33 anos, ele vem do setor produtivo. Começou no governo como subsecretário do Empreendedorismo, passou pelo cargo de secretário do Trabalho e, quando o GDF fez fusão das secretarias para reduzir cargos, assumiu como adjunto.

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Thiago Jarjour, secretário-adjunto de Trabalho do DFJarjour é do PDT, participou das eleições de 2014 como candidato a distrital e teve 3.678 votos. Em um cenário de recessão, tenta reduzir o desemprego no DF que, em janeiro, registrou taxa de 20%. A aposta é na qualificação e empreendedorismo.

Companheiro de governo e também secretário-adjunto, só que de Turismo, Jaime Recena quer ser deputado federal. Ele observa que esta é uma geração sem representação, e quer lutar por bandeiras como a reforma do sistema político e o fim do voto obrigatório no Congresso Nacional. “A política feita de forma correta pode mudar a vida das pessoas. Precisamos dessa consciência para nos transformarmos em um país empreendedor”, disse.

 

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Jaime Recena, secretário-adjunto de Turismo do DF

Em outubro do ano passado, Recena ficou no centro de uma polêmica. Ele viajou para Las Vegas a fim de trazer um grande evento para Brasília e prospectar negócios. Tudo custeado pelo governo. Errou ao levar a namorada e ao embarcar para outro país em um momento de crise, de austeridade no governo. Depois de ser exposto, devolveu a verba das passagens aos cofres públicos, voltou antes do previsto e pediu desculpas à população.

Nascido em Goiânia (GO), o atual secretário-adjunto de Relações Institucionais do DF, Igor Tokarski, está em entendimentos com o PSB para decidir qual cargo disputará. Ele é a favor de desburocratizar o serviço público e de usar o diálogo como instrumento para mudanças. “Precisamos aprimorar os conceitos de administração pública”, ressalta.

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Igor Tokarski, secretário-adjunto de Relações Institucionais

Tokarski também passa por avaliação da opinião pública. No início da gestão Rollemberg, ele foi administrador de Brasília. Em seguida, assumiu como articulador do governo na Câmara Legislativa.

Em fevereiro de 2016, a relação entre Casa e GDF era tensa. Estava em curso a CPI dos Transportes, havia projetos importantes a serem votados. Além disso, a então presidente da Câmara, Celina Leão, estava prestes a sair do PDT e declarar oposição ao governador. Nesse cenário, o secretário-adjunto de Articulação mandou uma mensagem em um grupo de WhatsApp referindo-se a um contexto sobre a reunião de líderes: “Nem vou nessa porra, rs”, disse. À época, ele soltou nota afirmando que havia mandado a mensagem no grupo errado.

Segmento
Segundo o cientista político Gabriel Amaral, os novos políticos seguirão uma tendência de não se vincularem a partidos. Isso será feito apenas por obrigação. “Os candidatos de sucesso entre os jovens tentarão se desvincular das legendas e atrelar os ideais ao nome deles”, analisa.

Rodrigo Antonello vai se candidatar seguindo essa linha. Ele é servidor público e quer representar o segmento gay e de eventos, no qual trabalha como produtor. “Não temos o que esperar da velha política. Na CLDF, temos representantes dos evangélicos, dos empresários, mas não há ninguém desses dois setores”, disse.

 

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Rodrigo Antonello, produtor e servidor público

Aos 22 anos, Lucas Vasconcelos (PSDB) vem dos movimentos estudantis. Ele pretende concorrer ao cargo de deputado federal e trabalhar em favor dos jovens. “Esse é o momento de mudar. Quero ver e participar da transformação no sistema político como um todo”, afirmou.

 

Arquivo pessoal
Os nomes que surgem como apostas para 2018 capricham no discurso, agora é preciso saber se levam jeito na prática. O brasiliense anda desgostoso com as promessas vazias que se tornaram uma tradição no cenário político da capital da República.

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