Arrecadação sobe meio bi, mas GDF se nega a dar reajuste a servidores
A contribuição dos brasilienses com impostos e taxas saltou de R$ 5,9 bilhões para R$ 6,3 bilhões de janeiro a maio de 2018
atualizado
Compartilhar notícia
Desde o início de 2018, o Governo do Distrito Federal não amargou números negativos em suas contas. A alta na arrecadação de impostos e taxas foi constante nos primeiros cinco meses do ano. Os sucessivos valores positivos rechearam os cofres públicos com R$ 6,3 bilhões, um acréscimo de 7,19% em comparação ao mesmo período de 2017, quando o total de janeiro a maio ficou em R$ 5,9 bilhões.
Só o excedente chega a R$ 428,5 milhões no mesmo período. A verba seria suficiente para pagar a terceira parcela do reajuste devido aos servidores públicos locais desde 2015, quando Rodrigo Rollemberg (PSB) assumiu o GDF.
De acordo com o previsto no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2019, o aumento salarial para as 32 categorias contempladas ainda na gestão de Agnelo Queiroz (PT) custaria aos cofres públicos aproximadamente R$ 227 milhões em três meses. Isso daria R$ 75,6 milhões mensais.
Assim, se for considerado somente o acréscimo na arrecadação de impostos e taxas nos cinco primeiros meses, o Governo do Distrito Federal teria R$ 85,7 milhões disponíveis. Ou, ainda, R$ 10,1 milhões de sobra.
Posicionamento endossado pelo Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF). “Dinheiro sempre teve, o que falta é vontade política. A educação sofre com a escassez de investimento. Professores amargam perdas salariais superiores a 20% nesses últimos três anos”, afirmou o diretor da entidade, Samuel Fernandes.“O cenário para o GDF está positivo. Negativo mesmo está para os servidores, péssimo”, ironizou o presidente Sindicato da Administração Direta, Autarquias, Fundações e Tribunal de Contas (Sindireta), Ibrahim Yusef. Para ele, “a possibilidade de pagar existe, não há vontade política” de quitar a dívida com os trabalhadores. “O calote será cobrado nas urnas, com certeza. No entanto, com os números positivos, agora aguardamos um posicionamento da Justiça”, completou.
Segundo ele, a crise foi usada como desculpa pela atual gestão para não dar o reajuste. “Este governo do Rollemberg não concede benefícios e ainda tira os já existentes. É o pior da história do DF. Os professores contam os dias para chegar 2019, pois não aguentam mais tanto descaso”, completou o representante da categoria que tem 30 mil docentes na ativa.
LRF
Uma das principais justificativas em 2015 para não conceder o reajuste, inclusive em peças judiciais de argumentação do GDF, era a Lei de Responsabilidade Fiscal. Em agosto do primeiro ano da atual gestão, o governo do DF atingiu o pico de comprometimento dos gastos com folha de pagamento. Usou 51% da receita corrente líquida para pagar salários.
Assim, ficou impedido de fazer contratações e até empréstimos. No entanto, o estado crítico foi superado, como demonstram os números. Em 30 de maio de 2018, o GDF anunciou ter ficado abaixo do limite prudencial da LRF pelo terceiro quadrimestre seguido. Os gastos com pessoal representaram 45,45% da Receita Corrente Líquida, percentual inferior ao que impede contratações, de 46,55%. A RCL é composta por tributos e transferências da União.
“O governo usa de argumentos falaciosos para não conceder o reajuste. Desde a gestão de José Roberto Arruda, todos os aumentos têm previsão orçamentária”, afirmou o presidente do Sindiccad, Leonardo Firme.
O sindicalista representa engenheiros de todas especialidades, arquitetos, geólogos, geógrafos, meteorologistas e técnicos do Governo do Distrito Federal. Para ele, a decisão é cômoda. “Quem sempre trabalhou no Senado e tem um salário alto não precisa se preocupar com servidor do GDF que ganha uma miséria”, lamentou.
Alta mensal
No mês de maio, o acréscimo nas contas foi impulsionado pelo pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). A alta no período foi de 28,16% em comparação com a mesma época de 2017. No ano anterior, o GDF recebeu do contribuinte R$ 27,9 milhões, contra os R$ 35,8 milhões de 2018. O IPVA subiu 4,05%, com R$ 116,7 milhões em 2017 e R$ 121,5 milhões em 2018.
De acordo com dados do Sistema Integrado de Gestão Governamental (Siggo), além dos impostos sazonais, os dois fatores que representam uma recuperação da economia também mantiveram a tendência de crescimento. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) teve incremento de 0,99% no mês; e o Imposto Sobre Serviço (ISS), de 5,83%.
Somente o ICMS foi responsável pelo aporte de R$ 599 milhões. O Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) também apresentou bom desempenho. Em maio, foram 10,68% a mais do que 2017, ou seja, um mercado imobiliário aquecido.
A Secretaria de Fazenda foi procurada para comentar os dados, mas até a última atualização desta reportagem não havia respondido a demanda. Em matéria publicada na Agência Brasília, portal oficial do governo, o secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão, Renato Brown, afirmou que a concessão da terceira parcela dos reajustes dados em 2013 colocaria o DF perto ou até no limite máximo da LRF.
“Resultaria em um aumento de 3 a 3,5 pontos porcentuais nas despesas com pessoal, podendo ficar em 49%. Não temos condições agora”, ressaltou, no fim de maio.
Eleições
Dia 10 de abril foi o último dia para conceder revisões gerais de remuneração a servidores públicos devido ao período eleitoral. No entanto, a terceira parcela de reajuste dos servidores locais não se enquadra nas regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), isso porque o benefício já estava previsto em lei – aprovada pela Câmara Legislativa do DF – desde 2013.