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“Aqui tá é bom. Tem água, tem comida”, diz sem-teto do Torre Palace

No quarto dia de negociação para desocupação, PM pede que parentes tentem convencer as pessoas a saírem do prédio, invadido em outubro do ano passado

atualizado

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1 de 1 torre palace hotel - Foto: Michael Melo/Metrópoles

A Secretaria de Segurança Pública e Paz Social aposta em uma nova estratégia para convencer os sem-teto instalados do Torre Palace Hotel, na área central de Brasília, a desocuparem o local. Neste sábado (4/6), mais de 100 horas depois do cerco policial ao prédio, parentes e amigos dos invasores foram convidados para pedir a eles que deixem o local. A tática de sensibilização foi adotada depois que os policiais descobriram que as pessoas que insistem em ficar têm mantimentos para até três meses, o que ameaça o plano de vencê-los pelo cansaço, proibindo a entrada de comida e água, além de cortar a energia.

“Pai, vai pra casa. Aqui tá é bom. Tem água, tem comida, tem tudo. Vai pra casa ficar com mãe”, disse Jéssica Rodrigues da Silva, 21 anos, que está com duas filhas no local. A resposta foi dada ao pai dela, Domingos Alencar da Silva, 56 anos. O homem esteve no local para pedir à filha que descesse.  Ele mora no Recanto das Emas de aluguel.

A jovem ainda completou aos berros: “Se tentar subir, vai cair. Só saio daqui com moradia. Se eu tiver minha casa me entrego com meus filhos; só com essa negociação.” Os invasores escutavam cada um dos parentes atentamente. Mas quando chegava a hora de o negociador da PM falar, eles vaiavam e faziam barulho. Os sem-teto também continuam a arremessar entulhos de cima do prédio.

Outro familiar que esteve presente para tentar a desocupação foi a irmã de Julio César, Cibele. Depois que os pais morreram, quando Júlio tinha sete anos, a irmã assumiu a sua criação. Ela tentou, sem sucesso, fazer com que ele descesse. Ao ver um negociador conversando com Cibele, o invasor se irritou e jogou pedras e cacos de vidro em direção da polícia.

A retomada das negociações ocorre depois que a Justiça determinou a saída das crianças do local. Segundo a PM, são nove invasores e quatro crianças. Como os celulares dos ocupantes estão descarregados, o contato com eles está sendo feito de forma visual ou por meio do emprego de megafone.

O Governo do DF cumpre determinação judicial de desocupar e cercar todo o edifício, que também é usado por usuários de drogas.

Trânsito
Por isso, o fechamento para a W3 Norte foi mantido. De acordo com a secretaria, liberar a área ao trânsito de pedestres e de veículos seria colocar em risco a vida de quem passa pelo local. O trecho do Eixo Monumental que fica em frente ao hotel continua interditado.

A pasta informou ainda que está envidando esforços efetivos, inclusive via Vara da Infância e Juventude, para que as quatro ou cinco crianças, entre elas duas de colo, sejam liberadas da ocupação o mais rápido possível, inclusive porque as duas mais velhas, que têm aparentemente entre sete e oito anos, são asmáticas e necessitam de cuidados médicos urgentes, que serão prestados pelo Corpo de Bombeiros imediatamente após liberação delas pelos adultos que ocupam o hotel.

Quando liberadas, essas crianças, após atendimento médico imediato, serão encaminhadas à Vara da Infância e da Juventude, que decidirá se elas, posteriormente, serão encaminhadas a entidades de acolhimento conveniadas à Secretaria de Estado do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do DF (Sedestmidh).

A intenção, reforça a secretaria em nota, é que o processo de negociação seja esgotado até que os ocupantes deixem espontaneamente o prédio. “Para isso estão sendo adotados todos os procedimentos previstos no protocolo de gerenciamento de crises, como corte de suprimentos de água, luz e demais provimentos aos invasores.”

Ex-deputado detido
O ex-deputado José Edmar, 63 anos, foi preso no início da tarde de sexta-feira (3) ao invadir o Torre Palace Hotel para tentar entregar uma caixa de mantimentos aos sem-teto. O ex-parlamentar, que fez carreira política ancorado na questão fundiária do DF, foi levado para a 5ª Delegacia de Polícia (Área Central). Segundo a Polícia Militar, ele furou o cerco, desobedecendo a ordem de parar. Depois de prestar depoimento e assinar um termo circunstanciado, ele foi liberado.

O nome de José Edmar, que já foi eleito deputado distrital e federal por partidos como o PSDB, PMDB, Prona e PR, é ligado à grilagem de terras e invasões no Distrito Federal. Essa atuação lhe rendeu votos e processos na Justiça. Hoje, se apresenta como comerciante, mas está lotado no gabinete do deputado Lira (PHS).

 

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