Após ver caso de Enzo, mãe vai a DP denunciar falhas em morte de bebê
Segundo a família da pequena Jasminy, houve demora, negligência e erro médico no tratamento na UPA do Recanto das Emas. PCDF investiga caso
atualizado
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Jasminy Cristina de Paula Santos (foto em destaque), de um mês de vida, morreu na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Recanto das Emas, em 14 de abril de 2024. Segundo a família, houve negligência e demora no atendimento. É a segunda morte de bebê na mesma UPA neste ano.
Veja:
O primeiro caso a vir a público foi o de Enzo Gabriel, em 15 de maio, que perdeu a vida no local à espera de uma ambulância. Após ver o drama da família do menino, os pais de Jasminy, Yasmin de Paula Amaral, de 21, e Paulo Henrique dos Santos Souza, de 21, decidiram denunciar o caso à 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas), conduzida pelo delegado Fernando Fernandes.
“Minha filha tinha um sorriso perfeito, mesmo banguelinha. Era uma criança tranquila”, lembrou Yasmin.
Cadeira
“Minha filha ficou das 11h até as 19h sem diagnóstico fechado. O tempo todo eu perguntava se não fariam mais exames”, contou Yasmin. Por volta das 19h30, Jasminy passou a apresentar um quadro de febre severa e baixa saturação de oxigênio no sangue.
Só neste momento, uma médica teria solicitado exame de raio-x. O resultado não teria sido apresentado à família. Na sequência, a médica determinou a intubação da bebê e transferência imediata para a ala pediátrica da unidade.
Coração
De acordo com a família, a equipe informou que estaria buscando um leito em um hospital de maior porte. “Falaram que provavelmente o coração da minha filha poderia parar durante ou depois da intubação”, contou. Ao deixar a sala, chegou a ver o começo da intubação. “Vi eles furando ela para tentar achar um veia para o acesso”, lembrou.
Yasmin passou 30 minutos sem informação sobre a filha. “Falaram que ela teve a primeira parada cardíaca, mas conseguiram reanimar. Nisso, entrei e desespero. Falaram que o coraçãozinho dela estava muito fraco. Mas em momento nenhum falaram do pulmão, bronquiolite”, lembrou.
Espera
“Fiquei uma hora e meia esperando. Eu perguntava, mas só falavam que eu tinha que esperar. Aí uma enfermeira falou que minha filha não teria resistido, que o coração dela estava muito fraco. Nisso me desesperei”, lamentou. A equipe médica teria entregado a bebê para a mãe ainda com os tubos.
Mãe o pai ficaram aproximadamente uma hora com o corpo da criança em uma sala da UPA. Familiares do casal questionaram a unidade por que o corpo foi entregue naquela situação. Além disso, segundo a família, a unidade não entregou os documentos do atendimento e o resultado do raio-x.
“Houve negligência, omissão de socorro. Eu não sei o que aconteceu com minha filha. Não me falaram nada do coração dela estar fraco. Até onde sabia, era possivelmente bronquiolite. Após o falecimento, falaram que ela estava com pneumonia, com o pulmão cheio de água, todo comprometido, só com um pedaço funcionando”, desabafou.
Yasmin era a primeira filha do casal. “Tudo que tinha era ela. Eu sempre falei que queria só ter um filho. Só queria ela. Fiz meu pré-natal certinho. Ela nasceu saudável. E foi essa doença, essa negligência que levou ela de mim. O sentimento é de dor e muita revolta”.
Segundo o delegado Fernando Fernandes, a nova denúncia também será investigada. Sem pré-julgamentos, o delegado observou semelhanças nos dois casos. Também ressaltou que todas famílias têm o direito de denunciar e buscar explicações, caso suspeitem de erro e negligência médica no tratamento dos seus entes queridos.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF), que respondeu por meio de nota. Leia abaixo, na íntegra:
“O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF) apurou o fato ocorrido e informa que, de acordo com os dados no nosso sistema, não foram encontrados registros de busca de atendimento na data de 12/04/2024. No dia 13/04/2024, a família procurou a UPA por volta das 19:42, momento registrado da retirada da senha, no entanto, a família optou por não aguardar atendimento.
No dia 14/04/2024, procuraram novamente a unidade, tendo retirado a senha às 11:06 e fizeram a classificação de risco às 12:09. Por conta da dessaturação, a criança foi classificada na cor laranja e às 12:22 foi admitida para observação.
A principal hipótese diagnóstica para o caso era de bronquiolite viral aguda (BVA). É válido informar que o diagnóstico para BVA é clínico, portanto não há necessidade de exames laboratoriais para confirmação do diagnóstico.
A criança evoluiu com piora, apresentando febre, fazendo-se assim necessária a realização de exames laboratoriais.
Informamos ainda que o resultado do raio-x foi avaliado presencialmente pela médica, junto com a acompanhante. Diante da confirmação de uma pneumonia bacteriana nova medicação foi administrada e a paciente seguiu em observação.
Após sequênciada evolução de piora, o procedimento de intubação foi discutido com os pais da criança e só foi realizado após permissão dos mesmos. Tal medida é indicada em casos de insuficiência respiratória aguda com o objetivo melhorar o prognóstico do paciente. Dessa forma, não há nenhuma correlação com a parada cardiorrespiratória.
Reiteramos que não houve falha médica, pois todas as medidas foram tomadas para a melhora do quadro.
Ainda de acordo com nossa equipe, não foram solicitados documentos por parte da família. As causas identificadas do óbito foram infecção generalizada (SEPSE), pneumonia à esquerda, bronquiolite viral aguda e síndrome do desconforto respiratório agudo, e encontram-se descritas na Declaração de Óbito, preenchida pela médica plantonista e entregue à família.
O IgesDF se solidariza com os familiares e reitera o compromisso em fornecer cuidados de saúde de qualidade e assegurar o atendimento adequado à população”.
A Secretaria de Saúde também se manifestou por meio de nota. Veja:
“A Secretaria de Saúde informa que a paciente deu entrada no Pronto Socorro do Hospital Regional de Ceilândia (HRC) no dia 14/04/2024 e no momento em que foram chamados para a classificação de risco, a responsável já não estava mais no local.
A pasta esclarece que a família fez contato com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) no mesmo dia, sendo orientada pelo médico regulador a procurar um Pronto Socorro ou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mais próximo de sua residência.
A SES ressalta que não há registro no sistema da passagem da paciente pelo Hospital Regional de Taguatinga (HRT) conforme mencionado. Caso a responsável tenha ido ao hospital, não procurou atendimento.
Por fim, a Secretaria de Saúde expressa toda solidariedade aos familiares e amigos”.