Após um ano, outra vítima denuncia neuropediatra por abuso sexual no DF
Jovem de 18 anos decidiu expor seu drama após o Metrópoles revelar o caso. Ele conta que foi molestado em 2018, em tratamento contra TDAH
atualizado
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Um ano e cinco meses após o Metrópoles revelar que um neuropediatra, referência da área na capital da República, foi alvo de mandado de busca e apreensão em investigação por supostamente abusar de pacientes no Distrito Federal, uma nova denúncia contra o profissional foi relatada à reportagem.
Um estudante de 18 anos diz ter sido abusado sexualmente durante consulta médica com o neuropediatra alvo de inquérito aberto na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), em abril do ano passado. Em razão de ter vítimas menores de idade que denunciaram o médico, o nome do neurologista pediátrico será preservado. Apuração contra o especialista corre em sigilo no Conselho Regional de Medicina no Distrito Federal (CRM-DF).
A vítima mais recente que buscou a reportagem procurou a delegacia e, segundo ele, vai prestar depoimento formalmente.
Ao Metrópoles, ele contou que a história dele repete o drama vivido por outros adolescentes alvos do médico, todos meninos. Com detalhes, ele comentou como, aos 16 anos, em 2018, tornou-se vítima do profissional. O estudante diz que foi diagnosticado com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e marcou uma consulta com o especialista, muito bem recomendado em um hospital da Asa Norte.
“Moro no Riacho Fundo e, mesmo assim, fomos até lá. Eu estava acompanhado pelos meus pais. Ele me levou para uma sala, falou para eu ficar só de cueca e depois me pediu para tirar tudo e deitar na maca pelado. Logo depois, examinou as minhas pernas e me tocou na genitália”, disse.
O jovem afirma ter achado tudo muito estranho. Para ele, como o médico é neuropediatra, não era necessário uma consulta tão íntima e completamente fora do padrão.
“Não quis mais voltar ao consultório e pedi para a minha mãe marcar com outro especialista. Foi quando me dei conta de que algo errado havia ocorrido naquele consultório. Meu novo médico me perguntou se eu reconheci algum procedimento diferente e eu consegui desabafar sobre o que me havia acontecido naquele dia”, afirmou.
Após o episódio, o adolescente teve conhecimento dos outros supostos abusos cometidos pelo especialista, revelados em primeira mão pelo Metrópoles.
Eu fiquei traumatizado. Hoje, sinto vergonha do meu corpo, não aceito que ninguém me toque. Tenho ansiedade generalizada. Já fui parar no hospital com problemas e mencionando o nome dele com muito medo. É uma lembrança que sempre me vem à mente. É horrível
Rapaz de 18 anos que diz ter sido assediado por neuropediatra
Tratamento psiquiátrico
Ele contou ainda que, após ter sido molestado, precisou passar por tratamentos psicológicos e psiquiátricos, com uso de medicação. A vítima diz ter decidido expor o especialista para que outras pessoas possam enxergar o absurdo da situação que ele viveu e saibam se posicionar ao se depararem com atitudes semelhantes.
“A minha intenção com a denúncia é fazer o certo por mim e por todas as outras vítimas. Se houver outras pessoas também abusadas, que elas tenham coragem de relatar o sofrimento. Vou acionar todos os órgãos até termos um retorno positivo sobre o que foi feito com esse médico”, garantiu.
Apreensões
A operação de busca e apreensão contra o neuropediatra ocorreu em 18 de abril de 2019, no consultório do profissional, em uma clínica no fim da Asa Norte, e na casa dele, no Sudoeste. Policiais da DPCA buscavam provas que confirmassem as denúncias feitas por pais e relatadas pelas próprias vítimas em depoimentos.
Na data da operação, computadores, HDs, mídias, telefones celulares e outros dispositivos eletrônicos foram apreendidos e encaminhados para perícia no Instituto de Criminalística da Polícia Civil.
A DPCA registrou duas ocorrências, nos anos de 2013 e 2014, nas quais o neurologista infantil era acusado de molestar crianças. Contudo, as denúncias foram arquivadas pelo Poder Judiciário a partir de manifestação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Em dezembro de 2018, os policiais voltaram a receber denúncias contra o médico e reabriram as investigações, após instaurar novo inquérito.
A reportagem tentou contato com o médico, que também atuava como professor de medicina da Universidade de Brasília (UnB), mas não obteve retorno. O espaço segue aberto a manifestações futuras.
Por meio da Divisão de Comunicação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), a DPCA informou que não irá se manifestar sobre o caso no momento, pois ainda há denúncias em apuração.
Depois da publicação no ano passado, mais quatro mães já tinham denunciado o neuropediatra do DF por abuso sexual, o que elevou para sete o total de denúncias de pedofilia contra o profissional.
À época dos fatos, o pai de uma das supostas vítimas se revoltou com os relatos do filho e decidiu denunciar o médico ao Conselho Regional de Medicina (CRM-DF). O Processo nº 166/2018 foi instaurado para apurar a conduta do neuropediatra em uma sindicância mantida em sigilo.