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DF em alerta: nível de água no Descoberto fecha 2019 em 67%

No mesmo período de 2018, principal bacia registrava volume de 100%. Mesmo sem prenúncio de crise, recomendação para a população é racionar

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
reservatório de água
1 de 1 reservatório de água - Foto: Michael Melo/Metrópoles

As chuvas fortes se tornaram mais frequentes no Distrito Federal apenas a partir das últimas semanas de novembro. Apesar da primeira chuva após a estiagem — de 113 dias neste ano — ter caído em setembro, as precipitações até o penúltimo mês de 2019 foram raras.

Com pouca água caindo do céu e o ritmo de consumo de uma cidade com mais de 3 milhões de habitantes, o reservatório do Descoberto terminará o ano com um volume útil de 67%, conforme medição da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) para esta segunda-feira (30/12/2019).

O índice marcado nos últimos dias de 2019 é bem diferente do medido pela agência para o mesmo dia do ano passado, quando o reservatório registrava 100% de sua capacidade.

O volume do Descoberto, responsável pelo abastecimento de mais de 60% do DF, para esta segunda-feira é semelhante ao que o reservatório apontou em 2014, quando chegou a 67,5%. O período antecedeu a pior crise hídrica da história da capital.

Menos chuvas

De acordo com o diretor da Adasa, Jorge Werneck, a diferença de volume entre este ano e 2018 se dá em razão da menor quantidade de chuvas em 2019. “Em outubro e novembro do ano passado, choveu muito bem. Por chover acima da média, conseguimos, em dezembro, que o reservatório vertesse”, afirmou.

Os registros de precipitações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontam contraste entre os anos. Em setembro de 2018, foram registrados 38,6 mm de água — a expectativa era de 46,6 mm. Neste ano, choveu apenas 8,7 mm no mesmo período, 18% da expectativa.

Outubro não foi diferente. Em 2018, foram 239,4 mm de chuva, comparado aos 19,8 mm registrados neste ano. Para o mês, o Inmet prevê um volume de precipitações de 159,8 mm. Foi só em novembro que os brasilienses voltaram a ver chuvas mais fortes e frequentes.

Dos 226,9 mm de água esperados pelos especialistas, o DF registrou 257,9 mm. No entanto, 2018 superou a marca: foram 370 mm no mesmo mês.

Quando comparados os dois anos, apenas dezembro apresentou um resultado favorável em 2019: choveu 250,3 mm no DF neste mês, quando o esperado era de 241 mm. Já em dezembro de 2018, o DF registrou 177,9 mm de água.

Santa Maria

O volume útil do reservatório de Santa Maria é melhor, com 84,4%. O manancial abastece quase 30% da capital. No mesmo período do ano passado, a bacia registrou um índice de 65,4%.

Durante a crise hídrica, em dezembro de 2017, chegou a 29%. Um ano antes, o índice era um pouco melhor: 42,7%. O volume do Santa Maria em 2015 bateu 78%.

O índice neste ano é semelhante ao registrado em dezembro de 2014, antes da crise hídrica. À época, o monitoramento da Adasa apontava um volume útil de 89,1%.

Segundo o diretor da agência, a situação do Santa Maria se dá por vários fatores, como o uso de novas fontes de captação. “Antes, era Torto-Santa Maria; agora, é Torto, Santa Maria, Bananal e Lago Paranoá”, explica. “Hoje, o sistema é muito mais robusto do que na época da crise hídrica.”

Acompanhamento

Werneck aponta que, mesmo não estando no nível computado no ano passado, ainda não há motivo para maiores preocupações. “Nós estamos acima da referência estabelecida, de 64% para o Descoberto”, afirma. Para o Santa Maria, o referencial é de 72%.

No entanto, o diretor aponta que a situação não é 100% tranquila. “A Adasa vem acompanhando porque precisa chover mais para que, na próxima seca, consigamos passar [um período] mais tranquilo”, destaca. Por isso, a agência monitora de perto o comportamento dos reservatórios.

Segundo o diretor, os meses de janeiro a abril acumulam 55% das precipitações para a estação chuvosa do DF. Além da consistência das chuvas nesse período, que não é possível prever, é importante que os brasilienses fiquem atentos ao consumo de água.

O uso consciente e sem desperdício do recurso vale tanto para os períodos críticos como os mais tranquilos. “A primeira coisa que a chuva leva é a lembrança da seca. É importante que as pessoas estejam sempre alertas”, afirma o diretor.

Nesse quesito, o brasiliense já mudou de comportamento após o sufoco da crise hídrica. Antes, o consumo médio era de 170 litros/dia por habitante. Durante o racionamento, o número caiu para 132 litros/dia. Com o fim do cronograma de abastecimento, em 2018, o consumo voltou a subir, mas não nos níveis anteriores: 140 litros/dia.

Crise hídrica

Apesar de o volume útil ser menor neste ano, o Descoberto já esteve em uma situação pior. Em 2017, o volume era de 29,1%. Há dois anos, a capital sofreu a maior crise hídrica de sua história e chegou a marcar 5,3% de seu volume útil, em novembro de 2017, enquanto o Santa Maria amargou 21,6% no mesmo mês.

O ano foi marcado ainda pelo início do racionamento de água na capital, que durou um ano e cinco meses e deixou os moradores do DF com as torneiras secas uma vez a cada seis dias.

A Caesb e Adasa contaram ainda com a ajuda de dois novos sistemas de abastecimento: Lago Paranoá e Bananal. O primeiro tem capacidade para captar 700 litros de água por segundo no Braço do Torto, no Lago Paranoá. O Bananal, por sua vez, permitiu um reforço de 726 litros por segundo para o Sistema Produtor Santa Maria-Torto.

Segundo a Caesb, as obras contribuíram com economia de 15,5% do volume do Descoberto nos últimos 12 meses, já que a companhia deixou de retirar parte do recurso do reservatório. “Sem isso, o Descoberto hoje estaria com menos de 52% de volume”, afirma o órgão em nota.

Um ano antes, em 2016, os números eram ainda mais preocupantes: 22,8%. Em 2015, o volume do Descoberto, em 29 de dezembro, era de 44,5%. Nesse ano, o reservatório amargou perdas desde maio, quando chegou a 100%, e terminou o ano em 46%.

Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) Frederico Barreto, a capital vive em um risco constante de uma nova crise. “O DF está em estresse hídrico desde o dia que a população passou de 2 milhões e 400 mil habitantes”, afirma.

Segundo o docente, desde a década de 1970 se sabe que havia uma população limite que os recursos hídricos da capital aguentariam. Atualmente, Brasília tem mais de 3 milhões de moradores. “Significa que você resolveu viver do cheque especial. Ver os reservatórios falhando é como ver que nem o cheque especial vai dar.”

Barreto aponta para a necessidade de um planejamento urbano, que estabilize o número de habitantes. “Brasília não pode continuar a crescer como se fosse São Paulo”, destaca. Além da atuação do governo, o educador aponta para a necessidade da população usar o recurso de forma consciente.

Confira algumas dicas de como utilizar a água de forma consciente:
  • Reduza o tempo de banho. Em um banho de 10 minutos, são gastos de 90 a 180 litros de água;
  • Feche a torneira enquanto escova os dentes. Caso contrário, são gastos até 25 litros de água, o equivalente a três escovações;
  • Ao lavar a louça, não deixe a torneira aberta o tempo inteiro;
  • Use a máquina de lavar cheia. O equipamento, assim como uma máquina de lavar louças, gasta em média 135 litros de água;
  • A água do último enxágue da máquina de lavar e da chuva podem ser usadas para lavar o quintal, regar plantas e até para dar descarga;
  • Feche bem as torneiras. Gotejando, a torneira chega a desperdiçar 46 litros de água por dia;
  • Fique atento à conta de água. Um gasto mais alto pode significar um encanamento vazando, uma descarga desregulada, uma torneira pingando, etc.

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