Após polêmica por remoção de azulejos originais, bloco da Asa Sul inaugura novo pilotis
Desenho anterior era da década de 1970. Alteração veio com reação do CAU-DF e do próprio governo da capital
atualizado
Compartilhar notícia
Um ano após a polêmica que se instaurou no Bloco B da Quadra 314 da Asa Sul, em que os azulejos originais da década de 1970 foram retirados da fachada do edifício para uma reforma, houve a inauguração do novo desenho que cobre o pilotis do prédio nessa sexta-feira (15/10).
Não há semelhanças entre o azulejo antigo com o atual. Optou-se por utilizar as cores vermelha e cinza ocupando um quarto de cada azulejo. A artista plástica Ligia Medeiros assinou o novo desenho, denominado “Azulejo do Contão”.
“Desde o início do projeto, o conceito pautado para a reforma foi manter o conceito modernista do edifício. Dessa forma, estamos inaugurando um novo bloco B mantendo toda a essência arquitetônica da 314, com mármore branco nos pilares, piso preto. Mas agora de granito e não mais cerâmica e com uso de madeira. A grande inovação que foi trazer uma artista contemporânea brasiliense para desenhar os novos azulejos”, explica o síndico Antônio Augusto Pinheiro.
Confira como ficou a reforma:
GDF e Conselho de Arquitetura reclamaram
Na época da retirada dos azulejos, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU-DF) posicionou-se contra.
Denúncias foram feitas ao Governo do Distrito Federal (GDF), que sugeriu a preservação do painel. Contudo, a reforma no edifício começou antes da chegada da recomendação oficial, em 20 de outubro, e os azulejos viraram entulho.
Em nota, o conselho expressou “consternação com a decisão tomada pelo condomínio”. “A resolução não poderia ter sido a mais errônea possível diante da importância desses exemplares para a memória da capital federal, que precisa ter seu patrimônio arquitetônico e histórico preservados”.
De acordo com o CAU-DF, a área de fiscalização do conselho recebeu uma denúncia, em julho, sobre a intenção de retirada dos painéis e verificou que o serviço de elaboração de projeto arquitetônico estava devidamente registrado no CAU, por meio de Registro de Responsabilidade Técnica (RRT) específico.
O órgão, então, orientou o síndico e o condomínio sobre a importância histórica do prédio, bem como de se preservar o conjunto e a harmonia arquitetônicos presentes na superquadra.
“Infelizmente, há uma visão limítrofe de alguns proprietários e síndicos, que não conseguem perceber o valor (material e estético) de seus edifícios originais da década de 1970, por exemplo. Essa não foi a primeira vez que isso ocorreu e, se não houver penalização contra esse tipo de ação pelas autoridades competentes, não será a última”, destacou o presidente do CAU-DF, arquiteto Daniel Mangabeira.
Justiça
A polêmica alcançou a Justiça, após uma moradora reclamar da intervenção.
Segundo o síndico, o painel estava deteriorado. “Retiramos os azulejos pelo fato de que não tínhamos alternativa”, explicou Antônio Augusto Pinheiro.
“Eles estão craquelados, é algo que estamos discutindo há dois anos e foi aprovado em assembleia no fim do ano passado. Foi aprovado um novo projeto arquitetônico, com o objetivo de manter o máximo de características possíveis”, argumenta.
O piso preto nos pilotis do prédio e as colunas de mármore não sofrerão modificações, preservando parte da originalidade do edifício. “Não existe técnica para retirá-los (os azulejos) intactos. Além disso, se refizéssemos, cometeríamos uma fraude artística”, alega o síndico.
Pinheiro também criticou a forma como o GDF faz esse tipo de recomendação. “Eles não avaliaram nem o projeto que temos, só mandaram algo dizendo para não mexer, mesmo assim, depois do início das obras. Deveriam pegar a nossa ideia e avaliar”, ressalta.
Elon Pfeiffer é o arquiteto responsável pela concepção do projeto de reforma do bloco.
“A fachada será a mesma, as linhas gerais arquitetônicas, também. E não vamos cercar o pilotis. A gente estudou muito a possibilidade de manter os azulejos, mas, se trocássemos por um igual, poderia ser interpretado até como fraude”, justifica o arquiteto.
Segundo ele, o painel será substituído por azulejos parecidos aos originais a fim de manter as características do prédio.
O que diz o GDF
A Secretaria de Cultura e Economia Criativa informou que não há um instrumento de proteção exclusivo para a 314 Sul, seja referente às características arquitetônicas, seja aos bens integrados, como o caso dos azulejos. Segundo a pasta, “o tombamento do conjunto urbanístico de Brasília possui uma visão mais urbanística”.
A secretaria acrescentou que recebeu algumas denúncias sobre a edificação, elaborou a recomendação, mas “o Código de Obras atual não exige autorização para a substituição de revestimento. Nesse sentido, apenas os bens tombados isoladamente passam por análise, de modo que a nossa atuação fica restrita”.
Um documento também chegou a ser elaborado pelo GDF onde era recomendado para que os azulejos fossem mantidos.
Confira:
Iphan
Em nota, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no DF informou que “foi enviado, aos moradores do Bloco B da SQS 314, um documento elaborado no âmbito do Grupo Técnico Executivo (GTE), composto pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), Secretaria de Proteção da Ordem Urbana (DF Legal) e a Superintendência do IPHAN no Distrito Federal.
Um dos objetivos do GTE é promover e valorizar os elementos que compõem a cidade, mediante ações informativas e/ou educativas, mesmo no caso de bens que não são acautelados individualmente, como o edifício em questão. O presente documento, portanto, tem caráter recomendatório.
“Cabe destacar que o valor individual do edifício em questão não se sobrepõe ao valor do conjunto urbanístico protegido pelo tombamento federal”, conclui o Iphan.