Após piora, pioneiro do DF que espera atendimento em casa é internado
Raimundo Lemos de Andrade, 90 anos, está com pneumonia e infecção urinária
atualizado
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Após quase 40 dias de espera para receber atendimento em casa por meio do Núcleo de Atenção Domiciliar (Nrad) da Secretaria de Saúde, o pioneiro de Brasília Raimundo Lemos de Andrade, 90 anos, contraiu pneumonia e precisou ser internado novamente. Também com infecção urinária, o idoso está em um hospital particular de Ceilândia.
Apesar do quadro de saúde dele inspirar cuidados, ainda não foi necessária uma transferência para Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “O médico fez a avaliação e ele ficou num box de emergência e, depois, deve ir para o quarto. Mesmo assim, ele precisa de oxigênio e tomar antibiótico”, explica a filha Hélida Lemos, 53.
Preocupada, ela procurou a Defensoria Pública do DF (DPDF), que judicializou o caso e conseguiu decisão favorável ao idoso. Caso haja necessidade de ir para uma UTI, o DF é obrigado a conseguir um leito seja na rede pública ou privada.
Decisão TJDFT Raimundo by Metropoles on Scribd
Procurada, a Secretaria de Saúde informou que “está adotando medidas para reduzir a fila de espera dos pacientes que aguardam atendimento do Nrad”. Segundo a pasta, a equipe do Núcleo “está em contato permanente com a família do paciente, que aguarda avaliação para inclusão no programa, para prestar todos os esclarecimentos”.
A SES argumenta que há uma portaria ministerial determinando que essas equipes de atendimento domiciliar devem comportar até 60 pacientes e na Região Sudoeste são atendidos 65 pacientes. “A fila de espera acontece porque a demanda superar a oferta”, diz a secretaria.
Sem atendimento
Há duas semanas, o Metrópoles contou a história de Raimundo. Ele ficou internado em janeiro por causa de penfigóide, doença autoimune que causa bolhas no corpo, e recebeu alta do Hospital Regional do Guará no dia 27 daquele mês. Desde então, a filha dele busca atendimento.
Ela esteve no núcleo no dia 28. “Disseram que podiam até me cadastrar, mas havia idosos na fila há mais de seis meses que ainda não foram atendidos. Dizem que não tem carro e motorista para fazer o deslocamento dos médicos”, relata. Na unidade, são 25 pessoas na fila de espera.
Hélida faz ligações semanais ao Nrad e a resposta é a mesma. “Nas últimas vezes, ninguém atendeu mais. Meu pai, além da doença autoimune, tem Parkinson, lesões na região sacral e algumas escaras que precisam ser cuidadas”, explica.
Veja a situação de Raimundo:
Professora, ela diz não ter condições de custear um home care particular para o pai nem pagar todas os médicos necessários para visitá-lo em casa. “Seria mais de R$ 2 mil por mês. Não tem como. Eu consigo pagar o geriatra, fazer os curativos, mas o fonoaudiólogo, que também precisa, eu não estou pagando”, lamenta.
A maior tristeza de Hélida é ver o pai, pioneiro de Brasília, ser esquecido pela cidade que ele ajudou a construir. “Ele trabalhou na Novacap [Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil], chegou aqui em 1959, sempre foi um trabalhador exemplar… E recebe isso de volta”, queixa-se.