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Multiplicam-se relatos de brasilienses que passam mal com água do Lago

Moradores de Asa Norte, Lago Norte, Itapoã e Paranoá suspeitam que problema de saúde esteja ligado à captação de água do reservatório

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Gonçala Vieira Gomes e Alana Gomes
1 de 1 Gonçala Vieira Gomes e Alana Gomes - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Substância vital, a água tem causado problemas aos brasilienses. Seja pela falta dela, com a maior crise hídrica da história da capital, ou pela suspeita de que tenha causado um surto de infecções gastrointestinais em diferentes regiões administrativas do Distrito Federal.

Os relatos são semelhantes. Desde outubro, quando teve início a captação de água no Lago Paranoá, moradores têm se queixado de problemas estomacais e intestinais, dor de cabeça, alergia e outros sintomas. Os casos explodiram após o Metrópoles noticiar que médicos renomados da cidade receberam dezenas de pacientes com problemas de saúde relacionados ao tema.

sistema recém-inaugurado, que desperta questionamentos e temor da população, abastece Asa Norte, Lago Norte, Itapoã, Paranoá, parte de Sobradinho II e Taquari. A reportagem ouviu dezenas de residentes dessas regiões, e o discurso é uníssono: a água não está boa. A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), porém, nega qualquer problema no fornecimento.

Desde outubro, quando teve início a captação do lago, a forma de consumo mudou na casa da família Vieira, no Paranoá. A dona de casa Gonçala Vieira Gomes, 50 anos, e a filha Alana Vieira, 14, sofreram dor de barriga e dores no estômago. Alana, inclusive, foi diagnosticada com uma bactéria e teve a saúde comprometida.

A coloração tem mudado bastante. Ficamos com coceiras pelo corpo e um cheiro diferente no cabelo. O gosto é ruim, e o feijão tem estragado rápido. É uma água que não mata a sede

Gonçala Vieira, moradora do Paranoá

Para tentar solucionar o infortúnio, Gonçala abriu mão do filtro de barro e passou a beber apenas água mineral – o que gerou um aumento nos gastos, com os dois galões de 5 litros comprados por ela, semanalmente, a R$ 10 cada. Ao cozinhar, mais precaução: ela ferve o fluido, antes de utilizá-lo e misturá-lo com os alimentos. As dores, por enquanto, sumiram.

Mais casos
O problema vivido por Gonçala e Alana é semelhante ao dos jovens Matheus Sampaio, 12 anos, e Adrian Kauãn, 9. Para eles não perderem as brincadeiras nas ruas do Paranoá, as mães dos garotos passaram a comprar água mineral após eles terem vomitado e perdido aula por causa de diarreia.

A filha da diarista Luciana Sousa, 38 anos, moradora do Itapoã, também viveu uma experiência ruim. Ela conta que Juliana de Moura, 21, teve gastroenterite há pouco mais de um mês. Depois do incidente, passou a buscar o líquido para beber na casa da mãe e não teve mais problemas.

Ainda na região do Paranoá e do Itapoã, o subtenente do Corpo de Bombeiros Militar Sérgio Damaceno lidera um movimento para colher depoimentos de moradores atingidos pelos sintomas. Ele pretende acionar as autoridades para cobrar esclarecimentos e soluções para o problema. “Estamos ouvindo os relatos dos moradores e buscando uma solução”, afirma.

Na Asa Norte, a família Fontes também precisou alterar os hábitos. O casal Carolina e Gustavo, servidora pública e empresário, ambos com 36 anos, e os filhos Felipe e Gabriel (foto em destaque), 1 e 8, respectivamente, sofreram problemas gástricos após a residência passar a receber água do Lago Paranoá.

Eles desconfiam que o motivo é a mudança no abastecimento. “Todo mundo aqui em casa passou mal, mas o Felipe foi quem mais sentiu. Fervemos a água para o banho e a mamadeira. Só compramos mineral também”, explica Gustavo.

Já a professora universitária Giovanna Caramaschi, habitante do Lago Norte, comprou um aparelho para filtrar a água potável da Caesb. Ela teve conjuntivite várias vezes e acredita que isso esteja relacionado com o fornecimento da companhia.

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O pequeno Gabriel Fontes aprendeu com os pais: água, só se for mineral
Gabriel ajuda o irmão Felipe, de 1 ano, a beber água. A mamadeira do pequeno tem sido fervida com mais frequência
Gustavo, Carol Fontes e os filhos Gabriel e Felipe (à direita). Mais cuidados após surto de gastroenterite
Moradores do Paranoá, Itapoã, Lago Norte, Asa Norte, Taquari e parte de Sobradinho II têm tomado cuidados extras com o fluido
Manchas pretas apareceram nas panelas da casa de dona Gonçala Vieira
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Na casa da família Fontes, na Asa Norte, cuidados com o consumo de água começaram após todos terem problemas, como dor de estômago e diarreia

Igo Estrela/Especial para o Metrópoles
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O pequeno Gabriel Fontes aprendeu com os pais: água, só se for mineral

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Gabriel ajuda o irmão Felipe, de 1 ano, a beber água. A mamadeira do pequeno tem sido fervida com mais frequência

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Gustavo, Carol Fontes e os filhos Gabriel e Felipe (à direita). Mais cuidados após surto de gastroenterite

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Moradores do Paranoá, Itapoã, Lago Norte, Asa Norte, Taquari e parte de Sobradinho II têm tomado cuidados extras com o fluido

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Manchas pretas apareceram nas panelas da casa de dona Gonçala Vieira

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Moradoras do Paranoá, Gonçala Vieira e a filha Alana tiveram problemas de saúde, os quais atribuem à qualidade duvidosa da água

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Gonçala levou Alana para fazer uma série de exames. Ela foi diagnosticada com uma bactéria

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O subtenente do Corpo de Bombeiros Militar do DF Sérgio Damaceno organiza um movimento no Paranoá para levantar os problemas de saúde junto à população

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Segundo eles, Brasília é privilegiada por ter essa reserva aquífera em condições de abastecer a população

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Consumo de água mineral aumentou nas distribuidoras do Paranoá

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Estação de Tratamento de Água do Lago Norte, fonte da polêmica entre moradores e médicos do Distrito Federal

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Sistema emergencial passou a encher as torneiras das casas, em outubro

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Água com coloração estranha na casa de morador do Paranoá

Arquivo pessoal
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Balde cheio e cor estranha na casa da professora universitária Giovanna Caramaschi

Arquivo pessoal


Rollemberg nega problemas
Na tarde dessa quinta-feira (21/12), mesmo ante a sucessão de relatos se multiplicando nas redes sociais, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) descartou haver um surto de infecção intestinal, no Distrito Federal, provocado pelo consumo da água tratada do Lago Paranoá. Durante um bate-papo com seguidores do perfil oficial do Governo do DF no Facebook, o socialista garantiu a qualidade do líquido distribuído pela Caesb.

Não tem surto de infecção intestinal nenhum. A Caesb tem os melhores laboratórios de análise de água, faz isso com o maior cuidado, com a maior responsabilidade. Eu mesmo tomei a água no dia da inauguração [da estação de captação]. Portanto, não há risco

Rodrigo Rollemberg, governador do DF

Médicos discordam
A opinião de médicos, no entanto, é diferente. Em 18 de dezembro, o endocrinologista Flávio Cadegiani fez um alerta em seu perfil pessoal no Instagram. Ele contou que dezenas de seus pacientes estão com sintomas de gastroenterite, mais conhecida como infecção intestinal.

O especialista acredita haver um surto da doença na região central de Brasília, observado após o início da captação de água do Lago Paranoá. Cadegiani chegou a essa conclusão ao perceber que 50 pacientes, dos cerca de 1 mil atendidos por ele, reclamaram de sintomas como diarreia, vômitos e dores de barriga.

A publicação de Cadegiani gerou grande repercussão, e seguidores passaram a contar seus casos, queixando-se dos sintomas. Leitores também procuraram o Metrópoles para enviar fotos e registrar o problema.

Antes da manifestação de Cadegiani, o clínico Estevão Cubas Rolim, lotado na Unidade Básica de Saúde do Itapoã, enviou ofício à Secretaria de Saúde, pedindo investigação do recurso hídrico ofertado na região.

O especialista, que dá plantão no posto de saúde do Itapoã, demonstrou a mesma preocupação com o aumento expressivo de pessoas com queixas gastrointestinais, e alertou sobre uma provável epidemia.

A situação atual sugere relação de causa e efeito, diante do vínculo epidemiológico comum dos usuários do consumo de água da rede pública, devendo ser investigada eventual situação que põe em risco a população

Estevão Cubas Rolim, médico da rede pública de saúde do DF

Rolim também chamou atenção para o sabor da água, motivo de protestos recorrentes dos pacientes que o procuram. “Importante pontuar as reclamações de diferença expressiva no gosto e aparência, características que levam à possibilidade de contaminação, o que deve ser objeto de análise pelos órgãos competentes”.

O profissional finalizou o relatório pedindo nova análise da água do subsistema do Lago Paranoá. Ele abastece, além do Itapoã, a Asa Norte, o Lago Norte, o Paranoá, o Taquari e parte de Sobradinho II. “Solicito avaliação quanto à qualidade da água e sua adequação ao consumo, em especial considerando a recente mudança de abastecimento por nova estação de tratamento”.

Outro lado
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que as suspeitas levantadas por Estevão Cubas Rolim não procedem. “Os casos citados pelo médico foram investigados à época, e não se encontrou qualquer relação entre eles e a qualidade da água. Também foi realizada, na ocasião, análise da água da região, e todas as amostras tiveram laudo satisfatório”.

A pasta reiterou que, “até aqui, não existem evidências de doenças relacionadas ao consumo de água no DF”.

Já a Caesb reafirma sua segurança quanto à qualidade da água distribuída em todo o Distrito Federal. A companhia disse que “só distribui água para a população dentro dos padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde. É feito um controle rigoroso, que inclui análises operacionais de hora em hora, ou seja, de forma ainda mais assertiva do que prevê a legislação, que exige o controle de duas em duas horas”.

Ainda segundo a Caesb, “também é feito um controle rigoroso da qualidade da água nas redes de distribuição, num nível pelo menos de 15% a mais do que o exigido por portaria do Ministério da Saúde”.

A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) também se manifestou. Por nota, o órgão afirmou que “faz fiscalizações periódicas e que o monitoramento não detectou nada fora do comum na qualidade da água fornecida pela Caesb oriunda da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Lago Paranoá”.

Colaboraram Douglas Carvalho e Saulo Araújo

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