Após matar Janaína, ex liga e ameaça família: “Quero as meninas”
Stefanno Jesus Souza de Amorim, 21 anos, telefonou para parentes da vítima nesta segunda-feira (16/7). Ele está foragido
atualizado
Compartilhar notícia
Dois dias após assassinar a ex com cinco facadas no peito e nas costas, na frente das filhas pequenas, Stefanno Jesus Souza de Amorim, 21 anos, ligou para a família da vítima a cobrar. Em tom de ameaça, disse, na manhã desta segunda-feira (16/7): “Quero as meninas. Apenas as meninas”. Depois, o telefone ficou mudo. Com medo, os parentes, que moram em Santa Maria, comunicaram o fato à Polícia Civil.
O rapaz é acusado de matar Janaína Romão Lúcio, 30. Stefanno está foragido. O crime ocorreu no fim do sábado (14), no Condomínio Porto Rico, em Santa Maria. Os dois se relacionavam há mais de cinco anos. Da união, nasceram as duas meninas, de 4 e 2 anos, que foram levadas para a casa dos avós maternos após o assassinato da jovem.
Tumultuado, o convívio era marcado por violência, muitas brigas, separações e reconciliações. De acordo com pessoas próximas, Stefanno surrava Janaína. Não raras vezes, a vítima aparecia com o olho roxo e o corpo marcado. O acusado também a ameaçava, inclusive no trabalho. A família reprovava a união.
Após se separar do agressor, que já cumpriu pena por homicídio, segundo parentes da vítima, Janaína permitiu o contato entre o ex-marido e as meninas. No dia do crime, o tio do suspeito, Isaú Soares de Amorim, foi buscar as pequenas por volta das 13h. O combinado era de que as crianças seriam devolvidas às 17h30.
Tão logo as meninas foram levadas ao condomínio Porto Rico, em Santa Maria, onde o pai estava morando em um barraco, Janaína foi ao salão de beleza. Pretendia se arrumar para um chá de bebê. Pouco depois, Stefanno telefonou para a ex dizendo que ia matar as filhas. A fim de proteger as crianças, a mulher correu para o local. Lá, acabou sendo assassinada.
Em depoimento, Isaú relatou ter tentado evitar a tragédia, mas não conseguiu. O homem chegou no momento da discussão entre o sobrinho e Janaína. “Provavelmente, por ciúmes”, ressaltou. Quando viu que a mãe das meninas tinha sido esfaqueada, afirmou ter entrado em luta corporal com o Stefanno, na tentativa de pegar a arma. Em vão. Logo após ser ferida gravemente, a mulher saiu gritando por socorro e caiu na calçada, na frente do lote.
Stefanno fugiu sem camisa e descalço. A faca ficou no local do crime. A vítima, que era funcionária terceirizada do Ministério dos Direitos Humanos, chegou a ser levada para o Hospital Regional de Samambaia (HRSam), mas não resistiu. Janaína será enterrada nesta segunda-feira (16), às 15h, no cemitério do Gama. O velório começa às 12h, na Capela 3. Todo o funeral está sendo custeado pela empresa responsável por contratar a moça.
O feminicídio era uma tragédia anunciada, assim como outros 15 crimes contra mulheres registrados nos primeiros meses de 2018 no Distrito Federal. Janaína já tinha denunciado Stefanno à Polícia Civil por violência doméstica contra ela.
O rapaz teria agredido a jovem em pelo menos outras duas ocasiões, segundo informações do delegado-chefe adjunto da 33ª DP (Santa Maria), Alberto Rodrigues, e da Divisão de Comunicação da Polícia Civil.
De acordo com relato de pessoas próximas, as agressões eram constantes. Um amigo de infância de Janaína disse ter morado no mesmo prédio do casal. Segundo o rapaz, a vítima comentou, uma única vez, “não estava mais aguentando”. “Ela era mais do que uma amiga, era uma irmã para mim. Vai fazer muita falta”, declarou.
O suspeito não chegou a ser preso pelas agressões anteriores, apesar das denúncias da ex-mulher. Ainda de acordo com o delegado, o acusado “pode ser considerado perigoso por conta de antecedentes criminais”. Stefanno está foragido desde o dia do crime.
Com base em dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Paz Social do DF (SSP-DF), foram registrados 13 crimes contra mulheres de janeiro a maio de 2018, aumento de 23% em relação ao mesmo período do ano passado.
Ciúmes e crimes violentos
Os casos de 2018 chocaram o DF. Um deles foi o de Jéssyka Laynara da Silva Souza, 25, em Ceilândia. Em maio, a jovem foi assassinada a tiros pelo ex-namorado, o então soldado da Polícia Militar Ronan Menezes. Ciúme teria motivado a ação do PM. O criminoso baleou também o personal trainer Pedro Henrique da Silva Torres, 29, por achar que o rapaz mantinha um relacionamento amoroso com a vítima.
A advogada Jusselia Martins de Godoy, 50, morreu cinco dias após ter sido alvejada por três tiros disparados pelo ex-marido, Evandro Alves de Faria, 56. O homem suicidou-se em seguida. O crime ocorreu no escritório da vítima, no Bairro Jardim Roriz, em Planaltina. O motivo seria ciúme e briga patrimonial.
Em março, o ex-vigilante Elson Martins da Silva, 39, matou a mulher, Romilda Souza, 40, na Asa Sul. Na sequência, o homem tirou a própria vida. Destino semelhante teve Mary Stella Maris Gomes Rodrigues dos Santos, 32. Ela foi assassinada pelo companheiro, o piloto do Metrô-DF Júlio César dos Santos, 38, que se matou após o crime.
No último 6 de junho, um dia após sair da prisão, Vinícius Rodrigues de Sousa, 24, matou a ex-esposa, Tauane Morais dos Santos, 23, a facadas, em Samambaia. Em depoimento à 26ª DP (Samambaia), a mulher havia dito que o rapaz sempre foi agressivo e ciumento. Em todos os casos, as vítimas haviam denunciado à Polícia Civil ou relatado a familiares os incidentes violentos cometidos pelos companheiros.