Após empresa suspender serviço, bombeiros assumem central do Samu
Sem receber, terceirizada não está atendendo 192. GDF nega calote, falta de pagamento e diz que pediu detalhamento de serviços
atualizado
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Além de atender chamadas de incêndios, acidentes, entre outros pedidos de socorro, militares do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal estão, desde a noite dessa quinta-feira (20/9), trabalhando no apoio à central 192 do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Eles próprios atendem as ligações e fazem a triagem das ocorrências, pois o serviço prestado pela Vanerven Solution, empresa terceirizada de telefonia, está suspenso.
A Vanerven faz o atendimento por meio de técnicos auxiliares de regulação médica (Tarm), profissionais que, além do curso técnico de enfermagem, precisam ter o devido treinamento para exercer a função. A empresa está há três meses sem receber e interrompeu os serviços.
Em nota, a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag) confirmou que o serviço está sendo prestado pelos militares do Corpo de Bombeiros, mas negou calote. Informou que aguarda a empresa apresentar o detalhamento dos serviços e valores, para então realizar os pagamentos.
A secretaria também esclareceu que as faturas apresentadas anteriormente pela Vanerven apontam divergências em relação aos valores no contrato e na prestação de serviço. “Assim, a pasta solicitou o detalhamento. Reforça que há não calote, nem falta de pagamento. Trata-se de procedimento previsto em contrato”, diz a nota.
A empresa, segundo a pasta, está sem receber pelos meses de junho, julho e agosto. “Dentro do contrato, a gente identificou pequenos problemas, nada muito alarmante. Não estamos nos negando a pagar, porque a gente sabe que o serviço foi prestado. O procedimento para pagamento é que vai ser diferente. Em vez de a gente fazer pela nota fiscal, vamos pagar por indenização”, explicou Marcelo Soares, secretário adjunto de Gestão Administrativa da Seplag.
Segundo o gestor, quatro ofícios foram encaminhados à empresa e, até agora, a resposta não chegou. “A gente está insistindo pelo caráter crítico do serviço. Em nenhum momento o serviço foi interrompido. A gente fez a cobertura integral com Samu e os bombeiros. Eles vão assumir até o próximo contrato”, afirmou Marcelo Soares.
Ele assinalou que a empresa vencedora entregou, nesta sexta-feira (21/9), a documentação para a minuta de um contrato emergencial. “Cinco dias após a assinatura, eles assumem. O Corpo de Bombeiros está responsável pelo setor administrativo. A corporação é maravilhosa. Eles não se furtaram ao nosso pedido. Está todo mundo mobilizado”, assinalou o secretário.
Denúncia
O Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Brasília (SindSaúde-DF), porém, denuncia que técnicos de enfermagem da Secretaria de Saúde estariam sendo desviados de sua função primária para atender às ligações do Samu.
Esses servidores teriam sido convocados, por mensagem de WhatsApp, para deixarem seus postos e se encaminharem para as centrais de atendimento. Na unidade do Samu em Santa Maria, diz o sindicato, um técnico de enfermagem de cada viatura foi convocado para a central telefônica. “Eu me sinto, como trabalhadora, constrangida, porque não fui treinada para isso”, teria dito uma servidora.
De acordo com a presidente do sindicato, Marli Rodrigues, a situação é considerada grave. “Os funcionários da empresa saem dos seus postos na central do 192 e, como medida de emergência, tiram os servidores que estão nas viaturas para atender as ocorrências. O Samu, que já está sucateado, perde mais gente no atendimento de emergência e urgência. Os bombeiros perdem profissionais, pois vão auxiliar o Samu e deixam seus postos”, destacou.
O SindSaúde aponta que representantes do sindicato estiveram na central do Samu no Gama, por volta de 1h desta sexta (21/9). Ali, presenciaram o momento em que funcionários da terceirizada deixaram os postos de trabalho. O Metrópoles procurou a Vanerven Solutions, mas a empresa não quis se manifestar.
Em junho deste ano, o Metrópoles mostrou que, de 2015 a 2017, a Secretaria de Saúde abriu mão de R$ 2,9 milhões destinados ao Samu. A falta de utilização do dinheiro, inclusive, motivou a Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF) a apurar supostas “irregularidades na prestação de serviços pelo Samu 192 no DF, especialmente sobre a ausência de recursos materiais necessários à execução dos atendimentos (equipamentos e insumos)”.