Após eleições, clima tenso leva UnB a monitorar redes sociais
Estudantes e professores demonstram preocupação e pedem reforço na segurança para evitar conflitos em manifestação marcada para esta segunda
atualizado
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O clima na Universidade de Brasília (UnB) é de apreensão um dia após o resultado das eleições que levaram o candidato Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República. A instituição está preocupada com eventuais transtornos na rotina acadêmica e confirmou ao Metrópoles que está monitorando posts nas redes sociais sobre o assunto.
Empolgados com a vitória sobre o oponente, Fernando Haddad (PT), partidários do capitão reformado do Exército disseram, nesse domingo (28/10), na Esplanada dos Ministérios, que “iriam invadir a UnB” na tarde desta segunda-feira (29). A manifestação foi marcada para as 17h, no ICC Norte – o Minhocão. E vários locais do Campus Darcy Ribeiro, na Asa Norte, amanheceram com adesivos com o nome do candidato vencedor nas eleições, além de pichações. Mensagens contra o comunismo na universidade também foram divulgadas em redes sociais.
Em nota, a a Administração Superior da UnB informou que vem acompanhando a situação com atenção. Além disso, comunicou ao Ministério da Educação e pediu o apoio da Secretaria de Segurança Pública do DF e da Polícia Federal, que podem ser acionadas em caso de necessidade. Solicitou também à Advocacia-Geral da União (AGU) que proponha, junto ao Poder Judiciário, medida cautelar preventiva com vistas a garantir a segurança da comunidade acadêmica.
De acordo com a universidade, no fim de semana foram registradas pichações e adesivagens de cunho político-eleitoral no prédio do ICC. “Os atos incluíram a destruição de cartazes de uma exposição dos estudantes do curso de graduação em museologia, intitulada Se Essa Rua Fosse Mina. A equipe da Prefeitura do Campus recolheu os adesivos, limpou as pichações e está fazendo um levantamento das imagens das câmeras de segurança para proceder aos encaminhamentos necessários”, diz o texto.
“A UnB repudia atos de vandalismo e reitera seu compromisso com a paz e com os valores do Estado democrático de direito, que incluem a liberdade de cátedra e de opinião, com respeito ao próximo e aos direitos humanos. A Universidade continuará com suas atividades acadêmicas e administrativas, em atenção ao cumprimento de sua missão institucional: o ensino, a pesquisa e a extensão”, completa o texto.
Mensagem compartilhada nas redes sociais
Coordenador-geral do Diretório Central de Estudantes (DCE), o aluno de engenharia automotiva Renato Lucas de Carvalho, 26 anos, confirmou que os estudantes estão preocupados com possíveis conflitos durante a manifestação.
“Informamos a Reitoria a respeito da manifestação. Em grupos de WhatsApp, falamos com pessoas de todos os cursos e centros acadêmicos da UnB e demonstramos nossa preocupação com conflitos. Pedimos para as pessoas manterem o respeito e a tolerância. Também pedimos para a Reitoria reforçar a segurança. Eles nos responderam que estavam cientes, que nos manteriam informados e que haverá, sim, reforço na segurança”, afirmou.
De acordo com a coordenador-geral do DCE, o órgão espera que a Polícia Militar seja chamada para observar e controlar a manifestação e possíveis confrontos. “Se não fosse ela, o conflito teria seria bem maior na última manifestação pró-Bolsonaro, realizada na quinta-feira passada (25)”, disse Renato Lucas.
O DCE vai lançar, ainda nesta segunda-feira (29), uma nota sobre o resultado das eleições. “Nós somos liberais, não somos nem de esquerda nem pró-Bolsonaro. É direito das pessoas manifestar, mas as outras pessoas têm o direito de se manifestar de maneira contrária, sem violência. A comunidade acadêmica não pode ser cercada por violência”, concluiu.
Aulas suspensas
Embora a Reitoria negue a suspensão, alguns cursos não tiveram aula na UnB nesta segunda (29). O professor Luís Felipe Miguel, da disciplina Politica Brasileira 2, do curso de Ciência Política, foi um dos que cancelou a classe.
O professor, inclusive, soltou a seguinte nota, na última sexta (26): “Segundo pessoas engajadas na campanha eleitoral, há risco real de uma explosão de violência após a divulgação do resultado da eleição – quer Bolsonaro ganhe, quer Bolsonaro perca. A UnB é um alvo e os estudantes da UnB também são alvos. A suspensão das aulas é uma medida de prudência e recomendo que vocês também sejam prudentes, nos deslocamento no domingo à noite e na segunda de manhã”.
Assustada com todo o “clima pesado” na UnB, a caloura do curso de ciências sociais Roberta Letícia Mouzo, 19 anos, também confirmou que sua aula de Introdução à Ciência Política, marcada para esta segunda (29), das 14h às 16h, foi cancelada. “Está todo mundo temendo uma invasão da UnB. Pessoas pró-Bolsonaro também invadiram o grupo do meu curso no WhatsApp, no domingo (28), com mensagens de ódio. Fiquei muito preocupada”, confessou a estudante.
Andifes
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (Andifes) também divulgou nota, assinada pelo presidente Reinaldo Centoduccate, a respeito da movimentação, nas redes sociais, sobre uma possível suspensão de aulas por causa do clima tenso vivido no período eleitoral.
Confira o conteúdo da nota:
“A Andifes alerta que não procede a nota que está circulando nas redes sociais a respeito de uma possível suspensão nas aulas das universidades federais. Nesta segunda-feira, as atividades acadêmicas ocorrerão normalmente. Quaisquer informações que não estejam divulgadas nos veículos oficiais da Andifes são improcedentes. A falsa notícia será denunciada aos órgãos competentes para apuração e devida responsabilização da autoria.”