Após derrubada em abrigo do DF, cachorros seguem na rua; veja fotos
Responsável procura interessados em adotar os bichinhos. São 12 cachorros precisando de uma família
atualizado
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Duas semanas após a derrubada de um abrigo que matou um cão, feriu outro e deixou mais de 10 desabrigados perto da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante, a maioria dos animais ainda está na rua. Responsável pelos bichos, o cuidador Flávio de Souza, 44 anos, pede ajuda para encontrar interessados em adotá-los.
Flávio é o criador do abrigo, batizado de Casinha Comunitária. Lá, viviam 15 cães; um morreu na derrubada do último dia 9 de junho, e outros dois foram doados. Assim, 12 animais precisam de um novo lar. Todos eles já são considerados adultos, o que dificulta a adoção. “A maioria das pessoas quer filhote”, afirma o cuidador.
O local onde o abrigo funcionava também era a casa de Flávio, que está desempregado e sem condições de pagar aluguel. Uma amiga que mora no Riacho Fundo I permitiu que ele more por lá de maneira temporária, e o homem aproveitou para levar consigo dois dos 12 cães desabrigados. Os outros 10, no entanto, seguem na rua.
O tutor tem medo que os cachorros sumam antes de serem adotados ou de ele encontrar uma casa espaçosa o suficiente para alocar todos eles. “Uma cadela, a Nina, chegou a sumir nessa segunda-feira (17/6). Consegui encontrá-la, mas isso é muito perigoso”, conta.
O cuidador vive angustiado com a situação. “Eu tenho dormido três, quatro horas por noite, no máximo. Viro para um lado e para o outro da cama, de coração partido, lembrando que eles estão na rua”, lamenta.
“Eu já resgatei os bichinhos da rua e agora eles estão sem teto de novo. Isso é muito triste. A minha missão é dar um lar para todos eles e ficar em paz.”
Caso alguém tenha interesse em adotar os cães ou ajudar Flávio de outra forma, pode entrar em contato com o tutor por meio dos telefones (61) 99855-2002 e (61) 98173-2519. O cuidador também pode ser encontrado por meio dos perfis @flaviospets no Instagram e @flavio.pablo no Facebook.
Donos do terreno se manifestam
O abrigo Casinha Comunitária ocupava de forma irregular uma área pertencente à Terracap, mas que está cedida ao Centro Comercial e Cultural Park Nativo Ltda, empresa do ramo da floricultura. Os empresários ganharam junto à Justiça o direito de ocupar todo o terreno e desfizeram o espaço onde Flávio se mantinha com os cães, matando um dos animais e ferindo outro com uma paulada na cabeça.
Advogado representante do Park Nativo Ltda., Bruno Flores afirma à reportagem que a empresa tem prestado todo o apoio necessário a Flávio. O defensor explica que os empresários se prontificaram a arcar, por um ano, com os custos do aluguel de um imóvel e com as despesas com os cães.
Flávio confirma a assistência da empresa e acredita que os responsáveis estão empenhados em dar um lar para todos os cães. Ele relata, porém, que tem encontrado dificuldades para buscar um imóvel, dados os altos valores de aluguel. Assim, os cães seguem na rua. O advogado Bruno Flores afirma que segue acompanhando a situação de perto e estuda propor outro acordo financeiro.
Uma década de dedicação
Desde 2010, Flávio passou a dedicar a vida a criar e cuidar de cachorros. Ele, que é natural de Barras-PI e veio para Brasília em 2007 em busca de emprego, conta que começou de maneira despretensiosa. “Eu comecei a alimentar uns dois cães da minha rua, e as pessoas começaram a me dar alguns quilos de ração para que eu continuasse dando comida a eles”, relembra. “Eu dizia para mim mesmo: ‘Quando esse pacote de ração acabar, eu paro com isso’. O problema é que os pacotes nunca acabaram”, brinca.
Em 2019, Flávio criou o Casinha Comunitária. A ideia inicial era castrar cachorros de rua e usar o espaço para dar atendimento pós-operatório, mas o local foi recebendo outros cães.
Boa parte dos 15 cães que Flávio cuidava no abrigo que foi derrubado são de uma ninhada cuja mãe foi resgatada por ele. Em 2021, o cuidador encontrou uma cadela amarrada a um poste na Colônia Agrícola Vereda Grande, na região de Arniqueira, e viu que ela estava com a pata quebrada. Ele decidiu levá-la para casa, sem saber que o animal esperava por filhotes.
Desempregado, Flávio tem o sonho de voltar a trabalhar, juntar dinheiro e montar um pet shop. “Também quero construir uma clínica, mantendo a ideia de dar atendimento pós-operatório para cães de rua recém-castrados”, projeta.