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Após confundir tipo de cobra, PM solta espécie invasora no Cerrado

O Batalhão Ambiental da PMDF tomou por jiboia uma píton, espécie endêmica da Ásia. Entenda os riscos ecológicos

atualizado

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PMDF/Divulgação
Cobra sai de caixa azul e entra em mato seco
1 de 1 Cobra sai de caixa azul e entra em mato seco - Foto: PMDF/Divulgação

O Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) soltou na natureza, na noite dessa quarta-feira (6/4), uma cobra apresentada pela corporação como sendo uma jiboia. O único problema é que o animal não era uma jiboia, mas uma Python Molurus, nativa da Ásia e, portanto, uma espécie exótica. Fora do seu ecossistema nativo, a píton torna-se uma espécie invasora e pode trazer riscos à cadeia alimentar do Cerrado.

Após ler a reportagem do Metrópoles que divulgou a ação do BPMA, o biólogo e médico veterinário Ayrton Katsuyama alertou para a confusão feita pelos militares. Segundo explica o especialista, que trabalha com resgate de animais silvestres, é possível ver a diferença entre as cobras pelo padrão de pele.

“Sei que é a píton pelo padrão de cor de pele. É só bater o olho: o padrão da píton é um rajado, como se fosse um painel de pedras, com a faixa branca entre essas pedras. O padrão da jiboia é bem diferente. É como se fosse a diferença do padrão do tigre com o da onça pintada”, explicou Katsuyama.

Veja o momento em que a PM solta a suposta jiboia no Cerrado:

Repare nas diferenças de pele entre uma jiboia e uma píton:

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Uma piton indiana, a python molurus
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Uma jiboia

Zoologico do DF
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Uma piton indiana, a python molurus

Zoologico do DF
Riscos das espécies invasoras

Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), soltar espécies invasoras representa riscos ao ecossistema.

“Espécies exóticas e invasoras são potencialmente perigosas para unidades de conservação em diversos aspectos. Primeiramente, porque nelas vivem diversas espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção. As espécies exóticas e invasoras podem competir com as nativas por espaço e alimentação, de maneira desleal, pois é uma característica destas serem bem sucedidas na reprodução; além da transmissão de doenças; hibridização com as espécies nativas e muitos outros danos”, explica o instituto.

Um caso emblemático dos problemas causados por espécies invasoras aconteceu em um parque ecológico dos Estados Unidos, o Parque Everglades, na Flórida. Segundo diz o site oficial do parque, espécimes da cobra Python Burmese foram soltas na unidade de conservação e isso pode ter causado um rápido declínio na população de mamíferos no espaço.

“Mesmo que as pítons sejam grandes cobras, sua coloração e comportamento permitem que elas se misturem ao ambiente”, informa o Parque Everglades, que não sabe quantas cobras invasoras vivem na unidade de conservação.

“Em Everglades, eles simplesmente perderam o controle. O governo agora paga para os caçadores recolherem as pítons, porque está acabando com o ecossistema”, resumiu o biólogo.

O que fazer com animais exóticos

Segundo o ICMBio, quem possui um animal exótico legalizado, mas desistiu de criar, pode entrar em contato com o órgão estadual de meio ambiente, batalhão ambiental, Ibama, ou ainda com algum zoológico. A mesma coisa pode ser feita com os animais sem autorização: na entrega voluntária, a pessoa não é penalizada ou multada.

A soltura de espécie exótica é crime ambiental. A introdução de espécie exótica em unidades de conservação também é crime, prática é proibida pela Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC).

Para Katsuyama, o ideal toda vez que se capturar qualquer animal é levar ao Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas), do Ibama, mesmo que se ache que o animal é nativo. “Lá eles decidem se é possível soltar ou não”, disse.

A reportagem questionou a PMDF sobre o engano cometido, mas até a última atualização desta matéria, não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestações futuras.

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