Após 8 dias internada por Covid-19, professora se emociona ao ter alta
Shirlene Nascimento, 55 anos, viveu a incerteza de ficar internada sem poder falar com a família
atualizado
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A incerteza de saber se ficaria bem após contrair a Covid-19 é um sentimento que a professora aposentada Shirlene Nascimento, 55 anos, não deseja a ninguém. Mãe de três filhas, ela ainda se emociona ao lembrar do momento em que se despediu da família antes de ser internada em um leito de Unidade Semi-Intensiva do Hospital Maria Auxiliadora, do Grupo Santa, para tratar da doença. Foram oito dias pensando em conseguir forças para superar o vírus.
Os sintomas apareceram por volta do dia 23 de março. Após uma semana em isolamento com o marido de 59 anos, que também foi contaminado, o cansaço foi aumentando e a necessidade de ir a um hospital falou mais alto. “Fizemos os exames lá e a saturação estava baixando. O médico disse que seria preciso internar”, relata.
No momento em que recebeu a notícia, Shirlene ficou perdida. Não poderia conversar com as filhas ou o marido, que também foi internado. Aquela podia ser a última vez que veria todos. “A gente vai para um lugar onde não sabe o que vai acontecer. Pegam o contato da família e é isso. Foi uma angústia muito grande”, desabafa.
Foram minutos, horas e dias difíceis de aguentar. Estar em um ambiente onde a dor do outro ficava tão próxima, assustava. “Você escuta muita movimentação, gente pedindo socorro com falta de ar. Aí eu penso que pode acontecer algo igual comigo também”, diz.
Religiosa, ela tem convicção de que foi a fé em Deus que a manteve firme. Nem todos os dias foram bons, mas ela sempre tentou pensar de maneira positiva. “Eu tinha muita vontade de voltar para casa. Sempre lembrava da criação: Deus é o dono do fôlego da vida. Pensava nisso para me acalmar”, lembra.
Depois de uma semana nesta situação, ela foi informada que poderia ter alta. Bastava corresponder bem a mais uma noite; dessa vez, sem oxigênio. “Apenas cochilava e acordava de novo com medo de não conseguir. Quando o dia foi amanhecendo, uma alegria muito grande tomou meu coração, pois sabia que iria embora”, completa.
A alegria e gratidão acabaram também se misturando com a tristeza de pensar naquelas pessoas que ainda ficariam ali. “Fiquei muito feliz, mas comecei a chorar e sofrer com quem ainda estava ali. Havia ali pessoas que não conseguiriam ter a mesma sorte que eu, fora que meu marido ainda estava internado”, lembra.
Veja o momento em que Shirlene deixou o hospital:
Todos juntos, e bem
Felizmente, três dias depois o esposo de Shirlene também teve alta e a família conseguiu se reunir de novo na semana seguinte à Páscoa. “A gente sempre tomou cuidado, não saía de casa. O que aconteceu foi que o irmão do meu marido estava com a doença sem saber e acabou passando. Não dá para descuidar em nenhum momento”, destaca.
Por esse motivo, Shirlene pede para quem ainda não trata a doença com a devida seriedade que reveja suas ações. “Tem que pensar não só na família, mas em todas as pessoas. Lavar as mãos, usar álcool em gel, máscara. Tudo para evitar o que passei”, conclui.