Após 16 mortes de enfermeiros por Covid-19 no DF, profissionais fazem apelo: “Chega”
Entidade pede mais testagem em servidores, equipamentos de proteção individual de qualidade e reforço no quadro de pessoal
atualizado
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Depois das 16 mortes de profissionais de enfermagem causadas pela Covid-19 no Distrito Federal, o Conselho Regional de Enfermagem do DF (Coren-DF) fez um apelo: “Chega”.
Para a instituição, os óbitos seriam evitáveis com testagem de servidores com sintomas ou não, equipamentos de proteção individual (EPIs) de qualidade e reforço no quadro de pessoal.
Segundo pesquisa, do Observatório da Enfermagem na quarta-feira (13/1), o novo coronavírus tirou a vida de 519 profissionais no Brasil inteiro.
Para o Coren, o número de perdas pode ser maior, pois há subnotificação de ocorrências, uma vez que, segundo a entidade, em pelo menos 43 casos as profissões não foram especificadas.
Conforme estudo do International Council of Nurses (ICN), cerca de 1,5 mil profissionais morreram vítimas de Covid-19 em 44 países. Ou seja, os óbitos no Brasil representam 34,6% do total, um terço das vidas perdidas no mundo.
Do ponto de vista do presidente do Coren-DF, Elissandro Noronha, as mortes locais poderiam ter sido evitadas. “É absolutamente necessário fazer a testagem dos profissionais sintomáticos e, também, dos assintomáticos, para ter o controle da doença e a real dimensão das infecções entre profissionais da saúde”, alertou.
Para o conselho, também é necessário garantir o fornecimento de todos os equipamentos de proteção individual (EPIs) de qualidade e em quantidade suficiente para toda a equipe multiprofissional.
“Passado um ano da pandemia, ainda existem instituições de saúde que insistem em fornecer EPIs de péssima qualidade aos profissionais que atuam na linha de frente”, pontuou.
Déficit de pessoal
Na avaliação do Coren, a terceira causa para o alto número de mortes evitáveis é o baixo dimensionamento das equipes de enfermagem. Faltam profissionais, sobram pacientes.
“Isso é fácil constatar, basta visitar os hospitais, as UPAs e as UBS para verificar que a maioria das instituições tem menos servidores do que precisa”, disse.
Pelas contas do observatório, em todo o Brasil, 46.556 profissionais de enfermagem foram contaminados pelo novo coronavírus. No DF, foram 1.655.
Segundo a gerente de fiscalização do Coren-DF, Sheila Depollo, foram realizadas mais de 500 inspeções no DF.
“Constatamos situações de muita vulnerabilidade: máscaras cirúrgicas de qualidade duvidosa, máscaras N95 sendo usadas por até 15 plantões, profissionais recebendo apenas um capote para passar 12h, entre outros absurdos”, afirmou Sheila.
Durante a pandemia, o Coren-DF apurou 437 denúncias envolvendo 171 instituições públicas, 149 privadas e 13 militares.
O conselho expediu 28 notificações extrajudiciais e moveu uma ação judicial. Acionou 32 vezes o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Saúde nega falhas
A Secretaria de Saúde do DF nega as falhas apontadas pelo Coren-DF. Segundo a pasta, a tabela de estoque de EPIs é atualizada diariamente e pode ser acompanhada pelo link.
“A Secretaria de Saúde esclarece que as informações relatadas não procedem e estão carregadas de interesses políticos e sindicais. Há estoque de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para abastecimento das unidades de saúde”, assinalou em nota enviada ao Metrópoles.
De acordo com a secretaria, o tempo de uso de EPIs e a distribuição aos profissionais seguem os protocolos e as normas técnicas da pasta.
“A secretaria esclarece, ainda, que os testes são realizados nos profissionais que apresentam sintomas, e tão logo seja confirmada a doença o profissional é afastado e cumpre a quarentena de 14 dias”, concluiu.
A pasta não informou quantos testes foram feitos entre os servidores desde o começo da pandemia.
Iges
Segundo o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF), o serviço de testagem é voltado para profissionais sintomáticos. Os colaboradores recebem acompanhamento e avaliação médica.
“No período de maior incidência da pandemia, de abril a setembro de 2020, os testes foram feitos também em assintomáticos, para melhor controle da situação. Nesse período, foram feitos 11.467 testes em colaboradores, entre testes rápidos e RT-PCR. Do total, 1.409 apresentaram resultado positivo. A testagem era feita a cada 15 dias, com critério de maior testagem para áreas mais propensas para disseminação, como unidades de terapia intensiva (UTIs), pronto-socorro e centros cirúrgicos.”
Segundo o Iges-DF, atualmente, os colaboradores têm espaços exclusivos para testagem, atendimento e tratamento. Os pontos estão distribuídos no Hospital de Base, Hospital de Santa Maria e seis unidades de pronto atendimento (UPAs).
De acordo com o Iges-DF, a política de testagem segue o Guia de Orientações para a Realização de Exames RT-PCR e Teste Rápido para Covid-19.